O Andes-SN é peça ativa do Golpe e de sua manutenção.
Abordarei esse tema em uma série de análises nesta coluna para o DCO, demonstrando a importância do Andes-SN para o Governo Bolsonaro, por servir como uma espécie de tampão ao movimento de massas, influenciando negativamente a luta estudantil. O tema da relação entre todos que atuam na Universidade foi bem demonstrado por Che Guevara durante a Revolução Cubana:
… a Universidade é a grande responsável do triunfo ou da derrota, na parte técnica, deste grande experimento social e econômico que está sendo realizado em Cuba. Iniciamos leis que transformam profundamente o sistema social imperante: foi liquidado, quase de uma vez, o latifúndio; foi mudado o sistema tributário; o sistema tarifário está a ser mudado; estão sendo criadas cooperativas de trabalho industriais; uma série de novos fenômenos que trazem aparelhados novas instituições está florescendo em Cuba. E todo esse imenso trabalho, nós iniciamos somente com boa vontade, com o convencimento de que estamos seguindo um caminho verdadeiro e justo, mas sem contar com os elementos técnicos necessários para fazer as coisas perfeitamente (Reforma Universitária e Revolução; Ernesto “Che” Guevara; 17 de outubro de 1959.
O trecho extraído de discurso do Che Guevara demonstra a importância da Universidade para a transformação da sociedade, e os esforços que vinham sendo realizados em Cuba, no processo da Revolução, a fim de superar o atraso imposto durante a ditadura de Fulgêncio Batista. Che deixa claro que a Universidade é ponto central para a vitória ou para a derrota de uma sociedade.
Ao contrário do que aconteceu após a Revolução Cubana, a universidade brasileira de hoje é reflexo da ditadura Bolsonaro (assim como daquela ditadura de Fulgêncio) e seu aparato burocrático aceita plenamente sua política, especialmente o Andes-SN, que deveria ser a vanguarda da luta, mas pratica uma das políticas mais pelegas do Brasil. A falta de investimentos públicos em pesquisa vem sendo substituída pelo “cala boca” chamado “ONG” e por empresas que utilizam “gratuitamente” os serviços públicos para promover patentes e novas tecnologias.
Nesse contexto de crise e de preocupação com o desenvolvimento das forças produtivas, temos dois sindicatos inoperantes para o desenvolvimento das universidades e para a luta dos trabalhadores: o Proifes (sindicato inexpressivo em termos de presença nas universidades), filiado à CUT, e o Andes-SN, filiado à CSP-Conlutas. O Proifes surgiu em 2004, um ano antes do Andes-SN, junto com PSTU e setores golpistas do PT que formariam o PSOL, se desfiliar da CUT.
Entre 2004 e 2005 a imprensa capitalista aprofunda os ataques contra Lula e o PT, com denúncias sobre o “escândalo do Mensalão”, que culminou depois com a Operação Lava-Jato e o Golpe de Estado de 2016. Nesse ínterim, as Universidades foram terrenos férteis para a burocracia estatal capitular da defesa das universidades e da luta contra o Golpe, pari passu ao crescimento do ensino público superior.
Isso pareceria uma contradição se não fosse o papel vexatório do Andes-SN. Em quatro anos e quatro meses de “governo neofascista” (chamado assim pelos burocratas estatais), não ocorreu nenhuma grande movimentação das massas, nem mesmo greves. Muito pelo contrário, a luta caminhou no sentido de reforçar os interesses do governo Bolsonaro, aprimorando o Ensino à Distância a fim de permitir a privatização das universidades públicas, utilizando-se como base estudos vindos de fora do país para trancar alunos, técnicos e professores em casa.
Muitos estudantes evadiram e a universidade corre riscos de privatização e fechamento de cursos, justamente pela política capituladora do Andes-SN, que foi força motriz do movimento #FiqueEmCasa, numa recriação do #EleNão e tantos outros movimentos identitários surgidos no seio da “luta sindical” do Andes-SN e cursos de “humanas”, cada vez mais falidos intelectualmente, reféns do Fórum Econômico Mundial.
Sabotagem e golpe de Estado
O Andes-SN participou ativamente do golpe de 2016, utilizando todo seu aparato burocrático turbinado pela água do PSOL e PSTU, mobilizou duas grandes greves durante o governo Dilma Rousseff, a primeira em 2012 durou seis meses, sendo combustível para as jornadas de junho de 2013, e a segunda grande greve entre 2015 e 2016, a beira do golpe de Estado.
O fato do Andes-SN ter agido contra Dilma e não ter agido contra Bolsonaro expõe claramente suas intenções golpistas do passado e do presente, pois no último Congresso do Andes-SN, o 40º, a luta central foi o combate ao machismo entre outras pautas “regulatórias” (que pretendemos aprofundar aqui nesta coluna semanal) do funcionamento interno das instituições, enquanto o salário segue congelado e o patrimônio público sendo corroído pelo orçamento do governo ano após ano. Enquanto a inflação corrói os salários, a carga horária aumenta em função da ausência de concursos públicos. Alunos deixam a universidade por não acompanhar o ensino remoto e por diminuição de bolsas e auxílio.
O Andes-SN, controlado por filiados, militantes e simpatizantes majoritariamente de partidos como PSOL e suas sub-legendas como o PCB e UP, fazem do Andes-SN a quinta-coluna do movimento sindical e um bom “selvagem” do governo Bolsonaro, que deve rir com as marchas ao padrão “flash mob” realizados por esse pessoal (também será detalhado nas próximas colunas).
Diante da sabotagem conclamamos aos professores, estudantes e demais trabalhadores: contra o Golpe, Lula Presidente! (Excerto adaptado do nosso Manifesto levado ao 40º Congresso do Andes-SN)
O golpe de Estado promovido com ajuda do Andes-SN, e mantido com unhas e dentes, utilizando-se como linha auxiliar o peleguismo e a luta identitária, resultou em cortes orçamentários; perda de direitos dos trabalhadores; aumento da jornada de trabalho; redução da qualidade de ensino; quase extinção de concursos públicos para regime de dedicação exclusiva; ameaças de demissão aos trabalhadores; aumento do assédio moral vertical; reforma previdenciária; aumento da presença das fundações; atuação de organizações sociais; intervencionismo do governo, endividamento público para manter as universidades funcionando etc
Nossos salários, congelados há anos, chegaram aos mais baixos níveis de décadas, diante de uma inflação que não para de crescer neste momento, impulsionada pelo tarifaço dos combustíveis e pelo conjunto da política da direita de esfolar a população para garantir os ganhos de um reduzido grupo de tubarões capitalistas. Essas situações resultaram na degradação das condições de trabalho, ensino e aprendizagem, em evasão e sofrimento de alunos e das comunidades que dependem da extensão universitária, bem como de suas pesquisas.
Por isso é preciso reconstruir a luta sindical de massas! Reorganizar o trabalho a partir das universidades, construir um grande movimento nacional de oposição com atividades, boletins e construção de Comitês de Luta nas universidades. Com o objetivo de reconquistar o ANDES para os trabalhadores e impulsionar, junto com toda a esquerda classista, uma alternativa própria dos trabalhadores diante da crise histórica do capitalismo.
- Por uma universidade popular, pública, de qualidade e democrática, sob o controle dos trabalhadores e de toda a comunidade;
- Por mais verbas para a Educação. Verbas públicas somente para o ensino público;
- Revogação de todas as “reformas” do regime golpista contra a Educação e o ensino público;
- Fim dos vestibulares e do ENEM. Livre ingresso nas universidades;
- Contra o reordenamento dos institutos federais;
- Abaixo as “reformas” trabalhista, da Previdência e todas as medidas de ataques aos trabalhadores do regime golpista;
- Contra o intervencionismo do Governo Federal nas gestões universitárias. Pela autonomia universitária plena;
- Não à infiltração de Fundações e Organizações Sociais no ensino público.
Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Lula Presidente, por um governo dos trabalhadores!
* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário