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Paulo Amaro Ferreira

13 de maio ou 20 de novembro?

O 13 de maio foi uma vitória dos oprimidos

A abolição da escravidão, para além das interpretações oficialistas e distorções históricas, foi a única revolução social da história do nosso país.

Recém celebramos mais um 20 de novembro em meio ao caos e ao massacre da população brasileira, incluindo a população negra, que goza da preferência do aparato repressivo nacional. Passados cinco anos do golpe de estado, restam poucos motivos para comemorar. Os constantes massacres e chacinas, que se avolumam a cada dia no país, revelam além disso o fracasso da política identitária e inclusiva, adotada hegemonicamente pelo movimento negro nas últimas décadas, na esperança (ou poderíamos dizer ilusão) de transformar a sociedade brasileira e fazer justiça social a partir das próprias instituições burguesas. Como a prática é o critério da verdade, deveríamos todos estabelecer a única conclusão possível nesse caso, que é a de que a política identitária é completamente incapaz de resolver os problemas da população negra no Brasil.

Na sua predileção por aparências e desconsideração pela realidade concreta, os identitários brasileiros abandonaram completamente a data da única revolução social vitoriosa da história do nosso país, a saber, a abolição da escravidão, ocorrida em 13 de maio de 1888. Motivados pela crítica ao mito da democracia racial brasileira, uma crítica justa, os identitários acabaram jogando fora a água, a bacia e o bebê, todos juntos, sem conseguir separar o joio do trigo.

As elites brasileiras esforçaram-se para afirmar, contrariando completamente a realidade, que no Brasil, ao contrário de outros países como Haiti ou o próprio Estados Unidos, a abolição da escravidão havia sido pacífica, obra do entendimento humanitário da filha do imperador, e que a partir de então reinaria no país um clima amistoso entre as classes, tendo os negros sido absorvidos e acolhidos pela sociedade, sem maiores obstáculos. Para qualquer pessoa atenta à história, esse mito obviamente não se sustenta.

Acontece que esse mito se sustenta justamente na falsificação da história. A abolição da escravidão nem foi obra da benevolência da princesa Isabel e muito menos ocorreu de forma pacífica. A derrota das classes escravagistas foi tamanha, em 1888, que levou a classe dos latifundiários, em clima de vendeta, a apoiar o golpe de 1889 e a instauração da República no Brasil. Apesar dos seus limites evidentes, a abolição vitoriosa em 1888 pôs fim a mais de três séculos de escravidão no país, abrindo caminho definitivo ao trabalho assalariado e unificando a classe trabalhadora nacional, antes dividida entre trabalhadores livres e escravizados.

Ainda que não haja motivos para confrontar o 20 de novembro ao 13 de maio, na medida em que historicamente um não se contrapõe ao outro, é preciso dizer que a abolição teve significado e consequências muito mais relevantes para os negros e para os trabalhadores em geral do que a morte de Zumbi dos Palmares. Na sua ânsia por livrar-se da tutela das teorias que advogam a democracia racial, o movimento negro não pode desconsiderar ou relegar ao ostracismo a abolição da escravidão. E se as conquistas dos negros não foram levadas adiante após a abolição (ainda que a abolição em si já seja uma conquista inimaginável para qualquer pessoa, branca ou negra, do século XXI), isso deveu-se a uma série de fatores, como a reação das classes dominantes com a instauração da república oligárquica, ou ainda a própria fragilidade e fragmentação da luta dos negros no final do século XIX, que é preciso dizer, encontravam-se impedidos física e geograficamente de organizar um movimento mais coeso e abrangente em plena vigência da escravidão e em um país continental.

É preciso, pois, recuperar o significado histórico da abolição da escravidão, no sentido de apontar para a necessidade de verdadeiras mudanças sociais na atualidade. Para além dos delirantes queimadores de estátuas, há certamente um movimento negro capaz de intervir concretamente na luta de classes do país, amparado em teorias que busquem a superação completa da ordem social estabelecida após a abolição, ao invés de procurar adaptações ou brechas na injusta república burguesa brasileira.

Por fim, apenas para registro, este texto ampara-se nas interpretações do historiador Mário Maestri sobre este tema, aglutinados em seu livro Abdias do Nascimento: “Quilombola ou Capitão do Mato?”, de 2018.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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