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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Corre!

Noite no cais

Algumas mentiras e umas verdades de uma noite de verão

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Já estávamos completamente embriagados quando Álvaro viu um rato atravessar a rua.

─ Puata merda, mano!

Havia passado o dia inteiro nos sebos do centro antes de me encontrar com ele no cais.

─ Quanto tempo, velho! Como está Laura?

Laura era uma moça brilhante, tocava piano como ninguém e falava alemão, italiano e romanche. Sim, romanche! Nem na Suíça vou encontrar alguém que fale romanche! Mas Laura falava.

Nem parecia que tinha 19 anos, dois a mais do que Álvaro.

Meu amigo era santista doente, ia a todos os jogos na Vila Belmiro junto com seu avô, seu Benedito. Era fã do Charlie Brown e, quando morreu Chorão, desmoronou em lágrimas.

Deixara o cigarro cair de seus lábios, grossos e cobertos por um fino bigode.

Laura o havia abandonado. Ganhara uma bolsa para estudar em Genebra. Era seu sonho morar na Europa, mas tão jovem assim? ─ perguntou, cabisbaixo, o pequeno Álvaro.

Não planejávamos encher a cara e correr atrás de prostitutas noite afora. Iríamos ao Cine Roxy como franco-atiradores. Mas, diante de tal revelação, não pude deixar meu antigo companheiro sofrer sozinho naquela noite litorânea.

Nessa época, eu me esforçava para colocar em prática os planos de morar em Santos. Estava no último ano do ensino médio e convencera Andreza ─ que gostava de ser chamada de Andy ─ e Bruno de formarmos uma república em algum lugar do Gonzaga. Iríamos estudar na Santa Cecília, Bruno e eu Jornalismo e Andy Publicidade e Propaganda.

Para minha decepção, nenhum dos dois levou a sério a questão. Restou a mim vislumbrar aqueles momentos de farra ao entardecer, na orla, com uma prancha de surfe debaixo de um braço e o ombro de uma gatinha debaixo de outro.

Junto com Álvaro, compartilharia minha última noite ali. Mal sabia eu que seria a última noite de minha vida. Ao menos de minha vida doce, alegre e de um jovem prestes a entrar para o serviço militar. Quando a criança se torna homem não por natureza, mas por imposição (ou dever, como queiram…).

─ Em São Paulo nunca consigo ver as estrelas ─ disse, apesar de o céu estar um tanto encoberto naquela noite de verão.

Álvaro fumava seu Marlboro e me dava o último cigarro do maço. Estávamos em um bar ideal: o atendente já estava caindo de bêbado quando chegamos, os únicos por aquelas bandas.

Ah, como é bom escrever com uma taça de vinho Merlot na mão e um cachimbo na boca!

Não acredito que estou apaixonado por um homem morto há quase 40 anos! Que escritor sublime!

─ Escute, Edu ─ era assim que me chamava. Ou de Du. Poucos me chamavam por meu nome ou por meu sobrenome. Só Tawane me chamava de Vasquinho. Você acha que ela vai voltar?

Eu não queria responder. Sempre fui muito sensível aos sentimentos dos outros, a ponto de quase chorar por alguém enquanto esse alguém se mostrava mais forte do que eu.

Foi a noite que mais fumei. Entupi meus pulmões de fumo sabor menta, meu preferido.

Saqueamos o bar. A todo o momento que queríamos uma garrafa de cerveja, eu ou Álvaro íamos distrair o atendente enquanto o outro assaltava a geladeira. Bebemos uns oito litrões ─ número talvez arbitrário, pois não me lembro mais ─ e pagamos apenas um!

Engolia cada frase do meu nobre colega e a vomitava em direção às poucas estrelas reluzentes no céu.

Com um livro de Hemingway, comprado naquela tarde e já consumido pela minha sede de leitura, acompanhava a palestra de Álvaro. Um grande orador ─ principalmente quando ébrio e apaixonado.

Saltamos de bar em bar. Entre cada salto, gritos loucos ecoavam pelos becos escuros.

Pobres moças nos olhando com espanto, tão envelhecidas pelos ares do cais.

A fumaça de nossos cigarros compondo a paisagem.

O cheiro de mar. O gosto de menta.

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