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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Cavalo de Tróia

Lula não precisa do apoio do centrão para se eleger

A aliança com a direita seria um tiro no pé; Lula já tem o apoio dos trabalhadores, e é neles que deve se apoiar

Temos visto nos últimos tempos uma parcela da esquerda pequeno-burguesa apostar em uma frente ampla para derrotar Bolsonaro. Essa frente ampla seria com todos aqueles que se dizem antibolsonaristas, embora tenham elegido Bolsonaro e ajudem a sustentá-lo no governo.

A candidatura de Lula não é vista com bons olhos por esse segmento da esquerda. Acham, como disse Marcelo Freixo certa vez, que “Lula não unifica”. Entretanto, a candidatura Lula está se impondo a qualquer outra candidatura da esquerda frente-amplista.

Mas Lula, por sua vez, também vem dando sinais ao chamado “centrão”. Diversos encontros e reuniões com a direita tradicional e retrógrada. Para a alegria da esquerda frente-amplista, que acredita que essa é uma prova de seu acerto político.

Independentemente do que pensam ela e Lula, uma aliança com esses setores não seria nem um pouco benéfica politicamente. Seria, é bem verdade, um tiro no pé.

A frente ampla serve para ressuscitar os cadáveres da direita tradicional, enterrados com a polarização política que atingiu o País e que liquidou a base social do centro político – isto é, da ala mais tradicional da burguesia.

Por isso vemos muitos desses bandidos políticos, como Rodrigo Maia ou Eduardo Paes, buscando se reciclar. Para serem resgatados pela esquerda. Uma aliança com Lula serviria para ganharem algum prestígio, principalmente dentro da esquerda pequeno-burguesa. Tentam se recuperar para voltar ao governo e desferir com ainda mais força os ataques brutais contra a classe trabalhadora.

Mas não é só isso. Quem disse que eles voltariam ao governo com Lula na cabeça? Em 1989 já vimos algo parecido. Mário Covas apoiou Lula no 2° turno, e o que aconteceu? Quem governou não foi Lula, mas sim o PSDB – primeiro, através de seu precursor, Fernando Collor, e depois, finalmente, de maneira direta, com FHC. Para isso serviu a Frente Popular de 1989, com Covas e Bisol!

A “sombra da burguesia” também pode ser chamada de “parasita” ou “sanguessuga” que se agarra à esquerda para sugar todo seu poder político. A direita que sinaliza um apoio a Lula em 2022, como disse cinicamente o mesmo FHC, não passa de um Cavalo de Tróia. Se ela embarcar em uma candidatura Lula, vai ser para sabotá-la de dentro.

Afinal, foram esses que hoje dizem preferir Lula a Bolsonaro que derrubaram o governo do PT e prenderam Lula. Por que trariam o PT de volta ao governo? Alguém dirá que é porque Lula governou para os banqueiros e eles querem repetir a dose. Mas então, por que tiraram o PT do governo e prenderam aquele que os enriqueceu? Por que colocaram no governo um presidente fascista?

É só olhar ao nosso redor. Junto com o PT, caiu a maioria dos governos de esquerda da América Latina. Cristina Kirchner voltou ao poder? Evo Morales voltou? E Rafael Correa? No máximo, ascenderam burocratas de uma esquerda muito mais direitista do que eles, em um acordo com a burguesia não para governarem como seus antecessores, mas para aplicarem um governo que dará apenas algumas migalhas para os pobres não morrerem de fome porque, do contrário, irão se rebelar novamente.

Lula não tem condições de fazer um governo assim. Por isso o imperialismo derrubou Dilma – e olha que ela era muito mais direitista do que o ex-metalúrgico!

O “apoio” do centrão a uma candidatura Lula seria apenas da boca para fora. Trabalharia, e isso ninguém pode negar, para conter qualquer impulso à esquerda de Lula. Trabalharia para afastar a influência dos trabalhadores, dos movimentos populares, da CUT e da militância petista sobre a candidatura de Lula.

Certamente os militantes do PT têm todo o direito do mundo de controlarem rigidamente a candidatura de Lula. Os deputados e senadores do PSDB ou do MDB, não têm esse direito. E é simplesmente inconciliável o interesse dos militantes do PT e o interesse dos políticos fisiológicos da direita.

Mas estando a direita em uma frente com Lula, ela buscará anular completamente a influência da militância petista, dos metalúrgicos, dos bancários, dos petroleiros, dos sem terra. Por que a direita entraria em uma frente senão para impor sua política?

E a imposição da direita de sua política na frente não significa necessariamente a tomada da frente pela direita. Significaria que ela conseguiria engessar essa frente para impedir o movimento dos trabalhadores. Só o fato de bandidos como FHC estarem nessa frente, já seria um duro golpe contra a própria candidatura de Lula. Por quê? Porque os trabalhadores se lembram muito bem como foi a época de FHC à frente do governo federal. Porque sabem qual é a política do PSDB para os trabalhadores. E isso vale para qualquer direitista, de Renan Calheiros a Marina Silva, de Kassab a Ciro Gomes. O papel da direita em uma frente com a esquerda é servir de espantalho para essa frente: vendo aquela monstruosidade, os trabalhadores não terão o mesmo entusiasmo. Muitos, inclusive, poderão abandonar essa candidatura, porque não votariam de jeito nenhum em uma frente com golpistas, mesmo que encabeçada por Lula.

Não existe papel positivo da direita em uma frente com a esquerda. Mas, dirão os incautos, o que a direita ganha sabotando uma frente que a levaria ao governo junto com a esquerda? A direita ganha o governo. Ora, não esqueçamos que o cenário que está se desenhando é uma eleição entre Lula e Bolsonaro. Se Lula não vencer, Bolsonaro vence. E quem faz parte do governo Bolsonaro? Apenas os bolsonaristas ideológicos? Não! PSDB, DEM e PSD, por exemplo, sempre sustentaram o governo, inclusive com ministérios! Rodrigo Maia pode até sair do DEM, porque é um político fisiológico, como todos os políticos burgueses, mas sua política continua a mesma. Assim como Rogério Marinho, algoz dos trabalhadores com a reforma trabalhista quando ainda estava no PSDB durante o governo Bolsonaro. Kassab é presidente e fundador do PSD, que tem ainda hoje o Ministério das Comunicações.

Isso mesmo: a direita, dentro da frente popular, sabotaria essa frente e a enfraqueceria, abrindo alas para a vitória de Bolsonaro.

Mas uma parte da esquerda ainda acredita que é importante se aliar com ela, para garantir a vitória nas eleições e a famigerada “governabilidade”. Essa tese caiu por terra em 2016, quando o MDB traiu a frente popular e Temer assumiu, aquecendo a cadeira presidencial para Bolsonaro.

Qual o motivo de se aliar com essa corja política? Como a direita daria votos para a esquerda? A única pessoa da direita que tem algum apoio popular é justamente Bolsonaro. O resto não tem voto. As próprias pesquisas da burguesia dão conta disso. Por que, então, se aliar com quem não tem votos para dar? Lula, sozinho, tem 41% dos votos no 1° turno e 55% dos votos no 2° turno. Ou alguém acredita que o pesquisador do Datafolha perguntou pro entrevistado: “O senhor votaria em Lula apoiado pelo PSDB ou em Bolsonaro?”? O mais provável é que se o entrevistador perguntasse isso o percentual de intenções de voto em Lula cairia.

O povo odeia Fernando Henrique, odeia Rodrigo Maia, odeia o PSDB e toda a sua turma.

Lula e a esquerda não precisam se aliar com eles. Mais: quanto mais longe estiverem deles, melhor. Até mesmo do ponto de vista eleitoral. São como um cacto, se você abraçá-los irá se dar mal.

O apoio que recebe dos trabalhadores é suficiente para Lula vencer as eleições. E seu governo só será um governo dos trabalhadores se sua candidatura for uma candidatura representativa dos trabalhadores, conduzida pelos interesses dos trabalhadores. O centrão não tem nada a ver com a luta dos trabalhadores, é a antítese dessa luta: é o grande responsável pelas reformas trabalhista e da previdência, pelo golpe e pelo governo Bolsonaro.

Se a esquerda quer um governo que signifique a derrota do golpe, então não pode abrigar os golpistas em uma frente. Isso é evidente. Uma candidatura que vença as eleições e um governo que derrote o golpe só podem ser formados pela esquerda independente da direita e da burguesia. Só podem ser conformados pelos trabalhadores em uma ampla mobilização de massas que derrote a extrema-direita e a direita de conjunto.

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