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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

A paralisia do sectário

“Lula é um pelego!”. E daí?

Esquerda pequeno-burguesa pseudorrevolucionária encontra mil e uma desculpas para justificar seu imobilismo

É muito curiosa a insistência de alguns companheiros da esquerda em manterem uma posição extremamente sectária sobre Lula.

Há aquele que não apoia sua candidatura porque Lula governou para os capitalistas, como se a situação atual fosse exatamente a de 2002. Mas há aquele que vai além.

Conversando com um sujeito de esquerda, que se diz revolucionário, ele me disse que não concorda com as posições do PCO. Percebi que ele se referia, principalmente, à nossa política de defender a candidatura de Lula à presidência da República. Quando falei que nossa política é a luta por Lula presidente, ele deu um sorriso de deboche. Mas não parou por aí.

O indivíduo em questão se recusou sequer a apoiar o – não digo nem a participar do – Primeiro de Maio que o Partido está organizando na Avenida Paulista. Expliquei a ele que seria o único ato do Dia dos Trabalhadores em todo o País e que o restante da esquerda ficaria em casa, como tem feito há mais de um ano, fazendo um evento virtual. Pior: que, para esse evento, um ato de mentirinha, as chamadas “centrais” convidaram os maiores algozes dos trabalhadores – FHC, Doria, Maia, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Marina Silva e Ciro Gomes.

Falei que o ato organizado pelo PCO e pelos Comitês de Luta terá a participação de companheiros da base de diversos partidos da esquerda, que terá a participação oficial de outros partidos menores como o POR, que será um ato apenas dos explorados, um Primeiro de Maio vermelho e revolucionário. 

O sujeito não comentou absolutamente nada disso que expus. Não quis debater, expressar e explicar sua posição. Esse é o típico sectário. Tem mesmo receio de debater e de manifestar suas discordâncias abertamente, prefere manter-se isolado sem argumentar por que a opinião contrária à dele estaria errada.

O fato é que nosso ultrarrevolucionário que diz que Lula é um pelego e que, portanto, não apoia ninguém que o defenda, não se mexe para nada. Todos os seres dessa espécie são assim.

Lembro-me de um ato também na Avenida Paulista, na época do golpe. Era uma manifestação de massas, em que Lula estava no palanque. Foi um ato que unificou a maior parte da esquerda. No entanto, quando Lula começou a falar, os militantes do PCB simplesmente se retiraram do ato. Depois, seu principal dirigente justificou a posição ultraesquerdista dizendo que o partido não se juntaria ao reformismo e ao governismo.

Vimos no que deu essa política. E estamos vendo, há muitos e muitos anos, qual é a política seguida por aqueles que têm esse tipo de pensamento: a política de não fazer nada. Sim, o “fique em casa” não foi uma necessidade imposta pela pandemia. A esquerda pequeno-burguesa, seja ela reformista ou ultraesquerdista – leia-se sectária – tem um histórico não tão recente assim de total paralisia diante dos acontecimentos que interessam aos trabalhadores.

Sequer apoiar um ato de Primeiro de Maio independente, classista e organizado por militantes revolucionários sob um pretexto extremamente secundário – o do apoio ou não à candidatura de Lula – é o cúmulo do sectarismo.

É esse tipo de postura que impede a esquerda que se diz revolucionária de entrar em contato com a classe pela qual ela diz lutar.

Nós entendemos isso perfeitamente. Não somos seguidistas para aderir à política de outros setores, como Lula e o PT, mas também não somos sectários a ponto de tratá-los como inimigos. Temos uma política bem definida, forjada em mais de 40 anos de experiência prática e em mais de um século de teoria marxista a qual estudamos com profundidade.

Sabemos muito bem que Lula não é um revolucionário. Sabemos que, pelo contrário, sua política é de colaboração com a burguesia e, no máximo, nos momentos de radicalização, de reforma social. Sempre fomos intensamente críticos à política de Lula, desde o movimento sindical do início dos anos 1980 até o período em que governou o País com medidas mais voltadas a manter a catástrofe neoliberal do que a produzir um bem-estar social.

Entretanto, temos total consciência de que essas profundas divergências são secundárias na etapa atual. E que é possível fazer alianças táticas sem aderir ao seu programa – é possível lutar juntos mantendo as críticas e com uma política independente.

Porque entendemos que Lula é a manifestação eleitoral da polarização política que tende a radicalizar a luta dos trabalhadores. Em um momento no qual a esquerda carece de lideranças populares oriundas da classe operária, e no qual a esquerda procura colocar todo o tipo de trava na mobilização popular, Lula se diferencia. Não exatamente por sua posição diante dos trabalhadores, mas pela posição dos trabalhadores diante de Lula. São eles que o pressionam, não o contrário.

Em um cenário no qual 400 mil trabalhadores morreram vitimados pela direita e sua política genocida de possibilitar a propagação do coronavírus ao destruir o sistema de saúde e os direitos econômicos da população; em um cenário em que 120 milhões de brasileiros estão passando fome; em um cenário que o povo detesta cada vez mais Bolsonaro e toda a direita de conjunto, a alternativa que aparece aos olhos da classe operária é Lula.

Lula é o reflexo da atual etapa no desenvolvimento da consciência de classe dos trabalhadores. Ele é reflexo de uma conjuntura política na qual o velho despenca gradualmente mas o novo ainda encontra dificuldades para emergir.

O golpe e a política imperialista representam o velho, enquanto a revolução proletária representa o novo. A classe operária precisa subir a escada para alcançar um nível revolucionário de consciência política. Lula representa um dos degraus dessa escada.

Engana-se quem pensa que os trabalhadores são uma massa de manobra que é passivamente manipulável pelos reformistas. Isso é subestimar a classe operária. Ela é uma classe forjada sobretudo na luta, nas batalhas do dia a dia. Em muitas situações os trabalhadores evoluíram rapidamente de uma posição ingênua, crente em reformas, para uma posição revolucionária. 

A Revolução Russa de 1905 começou com um protesto de massas liderado por padres ortodoxos que imploravam ao “paizinho” Nicolau II, com imagens do czar como se fosse um santo, para que ele mitigasse o sofrimento do povo. O movimento evoluiu tão radicalmente que foram criados os primeiros sovietes de operários da Rússia e o czar teve de conceder reformas sociais e políticas sem precedentes. Doze anos depois, os bolcheviques tomavam o poder e iniciavam a construção do primeiro Estado Operário da história.

Se Lênin e Trótski não tivessem participado ativamente desse movimento, buscando liderá-lo com sua política independente, desde o início, possivelmente a revolução teria sido abortada no meio do caminho. Se tivessem tido uma posição sectária como a de nossos super revolucionários de hoje, talvez tivéssemos de esperar alguns anos mais, ou décadas, ou talvez nunca teríamos visto brotar o socialismo.

Somos discípulos de Lênin e Trótski e não iremos desperdiçar seus ensinamentos.

É preciso estar junto das massas para liderá-las.

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