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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

"Pluralismo"

Lula é notícia?

Ao venderem o identitarismo como se fosse de esquerda, expulsam (ou tentam expulsar) do debate a verdadeira esquerda, que nunca entra nos templos da “pluralidade”

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Não é fácil ser colunista de um jornal “pluralista” como a Folha de S.Paulo – e ainda mais difícil é acumular a função com a de membro do Conselho Editorial. Tanto pior se o indivíduo pretender ser admirado nas redes sociais como defensor das causas identitárias, que, por enquanto, ainda soam como coisa de esquerdista.

No jornal pluralista, o nome do ex-presidente Lula só aparece como alvo de críticas. Se houver necessidade de comparar o Brasil de hoje com o Brasil da época de Lula, pode-se fazer uma vaga menção temporal (o Brasil já foi isto ou aquilo), mas jamais associar coisas positivas a Lula. Sendo essa a tônica do noticiário, que reflete a linha editorial do jornal, os colunistas, ciosos de seu emprego, fazem o mesmo.

A recente viagem de Lula à Europa, onde foi recebido por importantes líderes, foi ignorada pela grande imprensa, assunto que obviamente chegou às redes sociais, pois, felizmente, a informação deixou de ser monopólio dessas empresas. Diante disso, num exercício de ginástica intelectual, um dos membros identitários racial-LGBT do novo Conselho Editorial da Folha, o sr. Thiago Amparo, escreve no seu Twitter de “opiniões pessoais”:

É jornalisticamente relevante cobrir criticamente a viagem de Lula. Por que? 1) ex-Presidente; 2) presidenciável; 3) pode contrastar com política atual; 4) pode servir de transparência para o público saber da viagem; 5) pode perguntar ao governo Bolsonaro sua reação a esta viagem

A aula de jornalismo do colunista, de tão rasa, chega a ser engraçada. É difícil endossar abertamente a decisão do jornal de ignorar o fato, então ele faz de conta que a critica. Aliás, o que seria “cobrir criticamente a viagem de Lula”? De certa forma, talvez, num ato falho, o articulista esteja admitindo que a turma da terceira via pode ter outro tipo de cobertura, que não seja crítica, mas laudatória. De todo modo, ele tenta ganhar um ponto nas redes sociais (tá bom, Lula existe e é notícia) e, com alguma dose de ingenuidade, sugere ao jornal uma estratégia (ah, aproveitem a cobertura para esculhambar o Lula, vocês conseguem), como quem ensina o padre-nosso ao vigário.

As razões que justificariam a cobertura são ainda mais risíveis, dada a obviedade: Lula é ex-presidente e presidenciável e “pode” contrastar com a política atual (“pode”, talvez, quem sabe, né?) e o resto nem merece comentário. Esse “intelectual” é o mesmo que recentemente se inflamou na polêmica sobre racismo desencadeada pelo seu colega Leandro Narloch (o que resenhou o livro das “sinhás pretas”, de Antônio Risério), colunista do mesmo jornal plural.

Dessa polêmica, que ganhou as redes sociais, não resultou – por incrível que pareça – o cancelamento-demissão do tal Narloch, o racista da vez. Resultou, isto sim, uma baixa no então novíssimo Conselho Editorial do jornal: Sueli Carneiro, a mulher negra (ou será “preta”?), caiu fora. Amparo permaneceu e, depois de desabafar nas colunas do mesmo jornal, acalmou-se e vida que segue – nos Estados Unidos, onde atualmente é pesquisador. Aliás, esse episódio merece breve reflexão.

A turma de canceladores das redes sociais exerce sua fúria moralista contra pessoas que “dizem coisas erradas” (o problema é “dizer”, não exatamente “fazer”, certo?). O cancelamento, porém, só é eficaz quando seu alvo perde o emprego, perde os contratos, enfim, tem sua vida material atingida. Os canceladores são uma espécie de júri popular, mas o veredicto cabe ao dono da empresa, que, no caso, é o juiz. No tribunal da Folha, Narloch foi absolvido, e a empresa não foi à falência por causa disso.

O júri popular permanente deveria olhar com cuidado esse tipo de coisa, pois quem dá as cartas é o dono do dinheiro, que demite ou não demite segundo a própria conveniência, independentemente do barulho lá fora. O “barulho”, se for conveniente, poderá servir de justificativa para uma demissão, mas, se não for, basta esperar uma semana ou duas – tempo médio de abrandamento da indignação identitária – ou, se necessário, criar outra “polêmica” para distrair a turba virtual.

Fato é que tanto Amparo como Narloch importam para o “pluralismo” do jornal, pois simulam posições antagônicas, que, como duas balizas, circunscrevem toda e qualquer discussão entre o identitarismo tucano e a extrema direita. Ao venderem o identitarismo como se fosse de esquerda, expulsam (ou tentam expulsar) do debate a verdadeira esquerda, que nunca entra nos templos da “pluralidade”.

Finalmente, não há como não lembrar que Guilherme Boulos atribuiu ao tal IREE a mesma alcunha: o IREE é “plural”. O “pluralismo” do IREE é ainda mais interessante: vai da extrema direita, com direito a general golpista e apoiador da tortura, até… o próprio Boulos, com seu bom-mocismo identitário, suas ocupações simbólicas no saguão da Bolsa de Valores, suas derrubadas de estátuas, seus projetos de mudança de nome de rua, seu acolhimento de famílias que perderam a capacidade de pagar aluguel (MTST), enfim, ações políticas que, no mínimo, não interferem na sagrada paz dos coxinhas nem na sua política de subserviência ao imperialismo.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.

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