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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

PALMATÓRIA VIRTUAL

Indisciplinado, Monark tem de ajoelhar no milho

Um marciano que pisasse terras brasileiras hoje pensaria que o problema do país é o tal do Monark

Ainda anteontem, o “podcaster” Monark teve cassada a sua voz num dos programas de internet mais populares do país. Dito dessa maneira, parece que voltamos aos anos da ditadura militar e que algum censor baixou nos estúdios acompanhado da polícia. Não, nada disso. Hoje o serviço está mais profissional: os patrocinadores cortam o apoio financeiro do canal e inviabilizam o negócio do rapaz.

A ideia veiculada por Monark foi a de que um partido nazista deveria, como os demais, ser legalizado. Os bem-pensantes de matiz universitário se horrorizaram diante da ousadia do rapaz, desde logo tachado de nazista. E foram além nas redes sociais: Monark, sendo um qualquer, que não se enquadra no “paradigma da expertise”, é um risco para a sociedade. Esse tal paradigma seria provavelmente um título de professor universitário, o que garantiria que o sujeito sabe o que tem de ser dito e o que não pode ser dito. Monark, em suma, não deve falar sobre “aquilo que não conhece”.

O direito à palavra pública pertenceria, portanto, a uma casta de doutos, adestrados à última moda circulante nas universidades, que, hoje, como sabemos, atende pelo nome de “identitarismo”. Para que não haja dúvidas, o ministro do STF Alexandre de Moraes foi ao Twitter e escreveu:  “A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo”.

No entender do STF, Monark teria feito a apologia (elogio) do nazismo, o que não estaria autorizado a fazer. Compartilham esse pensamento tanto a nova esquerda identitária quanto Eduardo Bolsonaro – ele mesmo, o filho do bicho-papão, o qual se notabilizou por dizer que, se quisesse, invadiria o STF com um jipe e dois recrutas.

Temos, então, juntos, do mesmo lado, o STF, o Eduardo Bolsonaro (autor de um projeto de lei que criminaliza “as ideologias sanguinárias do nazismo e do comunismo”) e os identitários. Um marciano que pisasse terras brasileiras hoje pensaria que o problema do país é o tal do Monark e que, se o levasse para Marte, a paz reinaria soberana num lugar abençoado onde todos pensam o mesmo, pois a cizânia foi abolida. Mal sabe o marciano que os nazistas existem, sim, aos montes, mas não estão pedindo legalização do seu partido.

Faz uma semana que Joel Pinheiro da Fonseca, um articulista de direita, escreveu um texto-pegadinha na Folha de São Paulo intitulado “A quem interessa a liberdade de expressão?”. O texto era irônico, mas construído com frases que estão em circulação sobretudo nas hostes identitárias que tão facilmente parecem conquistar o senso comum da classe média aspirante ao bom-mocismo.

O parágrafo inicial era este:  A liberdade de expressão é um valor inegociável, mas é preciso impor limites. Quando a expressão de uma opinião, ou ainda de uma informação falsa, coloca em risco outros direitos, como o direito à vida, é evidente que ela deve ser tolhida. Ninguém pode gritar “fogo!” em um cinema lotado.

Dia e noite, temos ouvido esse discurso a sério, sem nos darmos conta de que a primeira frase já é, em si, um contrassenso: se a liberdade de expressão é um valor inegociável, como advogar por imposição de limites a ela? Quem estipularia esses limites? O autor vai dar essa resposta mais além:

Poderíamos formar algo como um comitê de notáveis, apenas com referências indiscutíveis das ciências (exatas, biológicas e humanas), com a devida representatividade de todas as minorias sociais, para julgar previamente artigos, podcasts ou vídeos que possam ter conteúdo problemático. É isso ou a barbárie. 

Por mais absurda que pareça a afirmação, os leitores a levaram a sério – porque essa ideia é considerada defensável nos nossos dias – e se posicionaram contrariamente ou favoravelmente a ela. Diga-se que o autor talvez estivesse dando uma alfinetada no próprio jornal em que escreve, que, em razão da crise deflagrada pela publicação do texto de Antonio Risério, prometeu a criação de um “comitê de jornalistas antirracistas” para opinar sobre publicações consideradas “problemáticas”.

Joel também disse isto: Quando um branco questiona consensos estabelecidos da pauta antirracista, isso não é liberdade de expressão, é racismo. Quando um autor (ou autora) cis questiona se mulheres trans devam ser tratadas como mulheres, isso não é liberdade de expressão, é discurso de ódio.   

Era difícil perceber que se tratava de ironia, pois essas ideias, que ele sutilmente denuncia como autoritárias, são propaladas nas redes sociais pelos identitários, cujo trabalho parece ser o de, pela repetição, inculcá-las no senso comum. A conclusão do artigo é esta:

Apenas o que defende o bem comum, que luta contra injustiças, que se pauta pelo rigor da ciência, que acompanha a marcha da História, deve ter espaço. Mentira e injustiça não têm espaço numa sociedade democrática. Fora isso, a liberdade de expressão deve ser irrestrita.

Os identitários dizem essas coisas a sério. A liberdade de expressar ideias diferentes das suas deve ser tolhida, afinal eles são os porta-vozes de consensos incontestáveis. Quem ousa pôr em discussão tais “verdades” é logo tachado de amigo do bicho-papão, ou seja, de racista, machista, homofóbico etc.

Quem são, afinal, esses “identitários”, que querem refundar o mundo à própria imagem e semelhança? São qualquer coisa, menos representantes do povo. Passam o dia nas redes sociais dando sermão nos outros e, à maneira dos velhos professores autoritários, carregam uma palmatória virtual pronta para castigar os alunos que não aprendem as suas “lições”.   

*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário

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