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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Brasil Potência

História e geopolítica do Brasil

O Brasil não pode se render aos interesses norte-americanos de fazer tábula rasa da História

Como dizia Milton Santos, muitos intelectuais e cientistas se preocupam mais com a Forma das coisas, do que com a Formação. Milton Santos incorporou o termo Formação Econômico-Social para analisar o Brasil, considerando que essa categoria, criada por Karl Marx e aperfeiçoada por Lênin, seja fundamental, pois a sociedade não é nada sem as formas geográficas, ao mesmo tempo que os objetos que abarcam a paisagem e seu território, direcionando a evolução da própria sociedade.

Com base nessa proposta marxista, Milton Santos elaborou uma periodização para analisar a Formação Socioespacial brasileira, ou seja, uma geografia histórica do Brasil: 

  • Meio Natural (1500 a 1750);
  • Meio Técnico (1750 a 1900);
  1. Brasil arquipélago de mecanização incompleta (1750 – 1900);
  2. Meio técnico da circulação mecanizada e dos inícios da industrialização (1900 – 1945/50);
  3. Integração nacional (1945/50-1970).
  • Meio Técnico-científico informacional (1970 – 2001 – ano em que faleceu Milton Santos).

Com base nessa proposta, Milton Santos considerou o processo de evolução do território de um dos mais importantes do mundo, com uma complexa rede urbana, um grande litoral para portos e exploração de recursos, além do turismo e, por fim, um território cobiçado pelo imperialismo. Em 2002, em livro póstumo escrito juntamente com Maria Laura Silveira, intitulado “O Brasil: território e sociedade no século XXI”, os autores sintetizam a metodologia de mais de 50 anos de carreira do Professor Milton Santos.

No livro recorremos a uma síntese para o entendimento da questão nacional:

“O aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e as novas formas de participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiram às cidades beneficiárias aumentar seu comando sobre o espaço regional, enquanto a navegação, muito mais importante para o exterior, apenas enseja um mínimo de contatos entre as diversas capitais regionais, assim como entre os portos de importância. Rompia-se, deste modo, a regência do tempo “natural” para ceder a um novo mosaico: um tempo lento para dentro do território que se associava a um tempo rápido para fora. Este se encarna nos portos, nas ferrovias, no telégrafo e na produção mecanizada” (SANTOS e SILVEIRA, 2002).

A análise sóbria de Milton Santos, conjuntamente à María Laura Silveira, demonstra a sobriedade de uma análise geohistórica do Brasil, onde podemos avançar para a pensar um país independente, verdadeiramente avançado e com capacidade de estabelecer o socialismo a partir de sua grande riqueza, por intermédio de uma abordagem concreta, marxista, com o devido rigor analítico.

A importância geohistórica do Brasil e suas capacidades geopolíticas e geoestratégicas

Tendo em vista a proposta de análise de Milton Santos, considerando a Formação Social brasileira e o poder adquirido territorialmente ao longo dessa formação, vejamos um caso concreto da importância do Brasil no cenário internacional (Doravante, no último item, analisaremos a visita de Bolsonaro à Moscou, a fim de demonstrar a importância do Brasil).

Em 1941, os Estados Unidos aventaram a possibilidade de invadir o Brasil. Embora os Estados Unidos sejam compulsivos invasores de nações, o Plan Rubber foi um plano para ocupar o Brasil a partir da costa Norte e supostamente “libertar” o país da “ameaça fascista”. No período que vai de 1930 a 1945, Getúlio Vargas estabeleceu uma política de neutralidade em relação ao conjunto do imperialismo, estabelecendo relações multilaterais com o Eixo (Roma-Berlim-Tóquio) e Aliados (Washington-Londres-Paris). 

Em função da Doutrina Monroe, os Estados Unidos não concebiam que pudesse haver um país nacionalista e gigante no Hemisfério Sul, que pudesse organizar uma política própria. Antes mesmo do episódio Pearl Harbor, a máquina de guerra imperialista traçou o famoso Rainbow Plan, ou United States color-coded war plans (Planos de guerra codificados por cores dos Estados Unidos). 

No plano de guerra por cores, a América do Sul fazia parte do War Plan Purple (Purple [South America], 3078. Top Secret Correspondence Relating to Mobilization Plans, compiled 1922 – 1942. War Department. Retrieved 2011-11-29). Neste caso, um de seus princípios era fazer do Nordeste brasileiro, um ponto de preparação para viagens transatlânticas entre África, Europa e Oriente Médio, e ainda mais para o Extremo Oriente e China. Neste momento, os EUA estavam mais diretamente envolvidos em deixar o Japão atacar a China, para depois atacar o Japão, e, uma segunda rota, independente do Pacífico era vital. 

A inteligência brasileira interceptou essa informação, fazendo com que Getúlio Vargas, utilizasse todo tipo de recurso estratégico e geoestratégico, a fim de evitar uma invasão. Contudo, há de sinalizar que uma invasão ao Brasil é muito difícil e uma guerra aqui não faria com que os Estados Unidos saíssem vitoriosos. O Brasil é o quinto maior país do mundo, um território praticamente intransponível, e essa intransponibilidade faz de nosso país, um território fundamental para a geopolítica, isto é, para a organização territorial dos países na escala planetária. 

Cabe aqui um parêntesis: geopolítica não é uma teoria, mas, uma abordagem de poder inerente a TODOS os países, seja defensivamente ou ofensivamente. Outro adendo, é que o Estado é um ente composto por território, povo e governo, isso de modo a atingir o nosso objetivo nessa análise, pois o gigantismo do Brasil levanta duas suspeições: sua capacidade de influência e poder, e sua quase infinidade de recursos naturais e demográficos, além dos recursos econômicos, ociosos e não-ociosos.

A capacidade militar do Brasil para defender o quinto maior território do mundo

O Brasil é um alvo extremamente atraente para um invasor, tanto do ponto de vista econômico quanto geoestratégico. Apesar de toda destruição econômica que o Governo Bolsonaro vem fazendo conjuntamente com a Faria Lima, a economia brasileira está no topo da América Latina e a segunda em todo o continente americano, atrás apenas dos Estados Unidos.

Dito isso, vale destacar que o Brasil possui uma quantidade considerável de recursos naturais valiosos, como gás, petróleo e carvão, além de grande potencial na produção de energia renovável, fábricas voltadas à produção e desenvolvimento de armas, veículos e navios de defesa. Todos esses fatores são de grande interesse para um potencial invasor (simulação de guerra). Não é demais considerar o valor geoestratégico intrínseco do Brasil, país de grande porte e localização proeminente na América do Sul, bem como sua extensa saída para o Oceano Atlântico e sua relativa proximidade com o continente africano.

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Mapa: Marinha do Brasil

A realidade mundial mostra que, embora possível para uma superpotência como a dos Estados Unidos, invadir o território brasileiro, é algo muito improvável de acontecer. Os custos econômicos seriam muito altos e não justificariam as perdas. O mesmo acontece com a complexidade logística e a cadeia de suprimentos que a operação exigiria. Outra dificuldade é o fato de o Brasil ser a potência militar mais poderosa da América Latina, e que certamente outros países da região viriam em seu auxílio nos antecipamos tão rapidamente.

O orçamento militar brasileiro gira hoje em torno de 33 bilhões de dólares, três vezes maior que da Colômbia, o segundo maior orçamento militar, considerando a força dada pelos Estados Unidos. Em termos de militares da ativa, o Brasil tem aproximadamente 335 mil militares e mais de um milhão de reservistas já aptos, além de mais 83 milhões no total.

Descartando a invasão por terra, pois é certo que os países vizinhos se oporiam, exceto a atual Colômbia e Guiana Francesa, a outra tentativa seria aeronaval, especialmente por causa do vasto litoral. Contudo, os recifes dificultariam um desembarque em grande escala, além do fato que, por sua disposição orográfica, os possíveis pontos de desembarque são passíveis de serem defendidos (evidentemente que uma frota poderosa como a dos Estados Unidos tem condições de derrotar o Brasil, ficando a cargo de penetrar no território…).

O mesmo aconteceria no espaço aéreo. Embora o Brasil tenha vantagem em operar bases terrestres contra aeronaves inimigas, estes podem fazer uso de seus porta-aviões. O Brasil atualmente dispõe de 43 caças Northrop F-5, o Tigre da FAB; 36 unidades Saab JAS 39 Gripen avançados de quarta geração.

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Gripen

A Marinha possui 7 fragatas, 2 corvetas, 6 submarinos, um navio de desembarque blindado e um porta-helicópteros multiuso, Porta-Helicópteros Multipropósito (PHM) Atlântico – A140, atual carro-chefe da frota de mais.

Porta-Helicópteros Multipropósito (PHM) Atlântico A140, ex-HMS Ocean

Agora, também precisamos considerar o Poder Terrestre brasileiro com forças com amplo conhecimento de geografia brasileira. Nesta questão, somada a toda a capacidade aeronaval do Brasil, o poder militar que seus veículos e equipamentos refletem. Atualmente são aproximadamente 400 tanques, predominantemente do tipo 128 Leopard 1A1 e 239 Leopard 1A5.

Conta ainda com cerca de 1.800 veículos blindados, muitos deles em processo de modernização, e outros que em breve serão substituídos por o VBTP-MR Guarani, de fabricação nacional. Continuando com os números, possui mais de 600 unidades móveis de artilharia, com destaque para seus mais de 50 sistemas lançadores de foguetes, Astros.

VBTP-MR GUARANI

Evidentemente que esse material bélico não é suficiente contra uma suposta invasão norte-americana, mas as capacidades de defesa são suficientes para termos independência.

Por falar em independência do Brasil: a fala do Lavrov

Lavrov, em reunião com o Governo Brasileiro, demonstrou como se livrar de nosso maior inimigo, os Estados Unidos. Assistam ao vídeo e leia a nossa transcrição abaixo:

Lavrov diz que a Rússia está interessada na independência da América Latina no cenário mundial

“Excelentíssimos senhores ministros, temos muito prazer em cumprimentá-los aqui em Moscou pela primeira vez. As nossas conversas têm crescido no formato 2 a 2. Primeiramente queremos expressar nossas condolências por causa de grande inundação que ocorreu em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, e mandar nossas condolências para os membros da família que foram afetadas. Durante essas negociações, conversamos sobre as principais direções de desenvolvimento das nossas relações bilaterais, bem como desenvolvimento. Estamos interessados no desenvolvimento da região da América Latina, estamos interessados na autonomia e independência das políticas dos países da América Latina. E a gente entende que o papel do Brasil é de um um dos líderes da região. E também avaliamos e apreciamos muito os vossos esforços, no contexto das relações bilaterais para um bem comum no contexto da Organização das Nações Unidas, dos BRICS e do G-20. Mais uma vez, sejam bem vindos” (LAVROV, Moscou, 16 de fevereiro de 2022).

Essa fala de Lavrov demonstra a capacidade e importância do Brasil em poder se desenvolver de modo independente, e com firmeza para avançar níveis que nos deem condições de se auto-afirmar no cenário internacional, além de podermos construir o socialismo com base em um território sólido, grande e organização suficientes para alimentar nosso povo e avançar na revolução permanente.

Chamamento ao curso de História do Brasil, da Universidade Marxista, por Rui Costa Pimenta

Diante dos apontamentos apresentados com base na proposta do geógrafo Milton Santos, que elaborou uma proposta para pensar um país grande, avançado e com condições de amplo desenvolvimento ao socialismo, e também com base nessa fala de Sergey Lavrov, é que convidamos ao curso de História do Brasil, elaborado pelos companheiros do PCO e que será ministrado pelo companheiro Rui Costa Pimenta. As inscrições estão abertas pelo site da Universidade Marxista.

É fundamental que avancemos a uma campanha de apresentar um país grande e soberano, liberto das amarras da ideologia identitária que corrompe cada vez mais a política brasileira, e leva o país a ser facilmente não necessariamente pela guerra convencional, mas, por armas não convencionais como ONGs, Think Tanks, Partidos Políticos supostamente de esquerda e pró-imperialistas como o PSOL, além de veículos de imprensa rendidos ao que há de mais alinhado aos interesses do capital internacional, como é o caso do DCM e Fórum.

*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário

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