No dia 09 de agosto de 1995, ocorria um dos piores massacres contra trabalhadores rurais sem terra da história recente do país, numa ação organizada por latifundiários do Estado de Rondônia, e executada por policiais militares e civis, e muitos pistoleiros.
O massacre ocorreu no latifúndio de 20 mil hectares chamado Fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara (RO), onde 600 famílias de camponeses ocupavam a área de terras devolutas e foram surpreendidas pela ação da polícia e dos pistoleiros na madrugada onde a maiorias das famílias estavam dormindo numa ação covarde e cruel.
É importante lembrar que a ação foi coordenada pelo capitão da Polícia Militar do Comando de Operações Especiais, José Hélio Cysneiros Pachá jogando bombas e atirando contra os barracos e os trabalhadores sem terra. O massacre contou com 194 policiais, inclusive 46 da Companhia de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar e mais de uma centena de jagunços. Os custos de deslocamento da PM para o local foram pagos pelos latifundiários Antenor Duarte e Hélio Pereira de Moraes, demonstrando o papel da polícia de pistoleiros legalizados do latifúndio.
Os policiais e jagunços cercaram o acampamento e não deixaram as cerca de 2 mil pessoas fugir. Durante horas os trabalhadores sofreram as torturas realizadas pelos policiais e o número de mortos é incerto. Variam de 8 a 12 assassinados, incluindo uma criança de seis anos, mas o número de desaparecidos chega a 20 pessoas. Cinquenta e cinco trabalhadores sem terra ficaram gravemente feridos e 330 foram presas e torturadas por 24h nas mãos dos policiais e pistoleiros.
Os trabalhadores presos foram amarrados em um campo de futebol e muitos viram alguns sem terra serem executados de maneira bárbara em plena luz do dia.
O crime ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardozo que procurou estimular a direita contra os trabalhadores sem terra e criou uma série de medidas para criar uma ofensiva dos latifundiários contra a luta pela terra, semelhante a que Jair Bolsonaro faz atualmente. Tentou colocar os movimentos de luta pela terra como terroristas e aplicar a Lei de Segurança Nacional, criada pela ditadura militar, contra o MST.
Judiciário acobertando o massacre de trabalhadores
Outro ponto importante é que a justiça tratou de dar sua contribuição para acobertar os crimes dos latifundiários e policiais, justificando o massacre e prendendo até mesmo as vítimas sem nenhuma prova. Ficou famoso o promotor público Tarcísio Leite Mattos, um fascista e defensor ferrenho da extrema direita e dos latifundiários.
O promotor fascista disse diversas frases atacando os trabalhadores, “ou o Brasil acaba com os sem terra ou os sem terra acabam com o Brasil”, “Eu não vou defender comunistas”, “Nossa bandeira é verde amarela não é vermelha não, não é essa porcaria comunista”. Chegou ainda a chamar os sem terra acusados de “cachorros” e defendeu a absolvição dos policiais.
A postura do promotor teve uma enorme repercussão e a direita vendo uma enorme crise substitui o promotor, numa clara manobra para diminuir a pressão e livrar a cara dos policiais e dos latifundiários, mas mantém as acusações sem provas contra os trabalhadores rurais e inocenta a esmagadora maioria dos policiais e pistoleiros.
Sendo que dois camponeses foram condenados e presos, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira Leite Neto, e apenas 3 policiais foram condenados. Nenhum de alta patente.
O Massacre de Corumbiara tem que ser lembrado porque a situação política de avanço da extrema direita em que ocorreu é semelhante a atual e que setores da esquerda querem “combater” o fascista Jair Bolsonaro com elementos políticos da direita ‘civilizada’ responsáveis pelo massacre desses trabalhadores.
Corumbiara evidencia como a polícia atua como pistoleiros do latifúndio e a justiça acoberta todos os crimes da extrema direita e justifica os massacres de trabalhadores. É um bom exemplo de como age a direita ‘civilizada’, a policia e o judiciário para manter seus privilégios e a exploração dos trabalhadores e da grilagem de terras públicas.