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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Anti-operários

Fim da linha: identitários entregam a rapadura

Inquisidores da esquerda abrem o jogo e admitem que sua política é a antítese da luta revolucionária da classe operária

jones

“Na falta de argumentos, acuse seu adversário de ser machista, homofóbico, misógino ou racista”. Há algum tempo, esse tem sido o lema dos picaretas quando denunciados por contrabandear a política da direita para as fileiras da esquerda nacional. É a substituição do debate, da luta de ideias, pela mais pura baixaria: em vez de discutir como levar o movimento adiante, os inquisidores passam a competir para provar quem é mais “preto”, mais “sapatão” ou mais “periférico” e a atribuir uma ficha criminal a cada um de seus pares, na tentativa desesperada de fazer prevalecer a sua política nojenta e impopular.

Eis que, no entanto, esses farsantes têm sido cada vez mais desmascarados. Seu enfrentamento com governos e partidos nacionalistas, bem como a denúncia avassaladora e tenaz das organizações dos trabalhadores, como o Partido da Causa Operária, estão colocando esses senhores em maus lençóis. Sua psicologia, afinal, é semelhante à de um fascista: enquanto ninguém reage às suas palhaçadas, berram histericamente; quando, porém, há uma reação, colocam o rabinho entre as pernas.

Os ventos começam a mudar. Os playboys mimados e nascidos em berço de ouro não estavam acostumados a ver o mundo se voltando contra eles. Acuados, eles, que passaram décadas “lacrando”, agora espernearam porque estão sendo chamados pelo que são. Dia após dia, vão às redes sociais chorar por serem tachados de “identitários“, dando a entender que isso seria uma forma de “cancelamento”.

Chamar alguém de “identitário”, contudo, não tem coisa alguma a ver com os chiliques que os identitários dão a fim de esconder a sua política reacionária. O identitário diz, por exemplo, que a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) não pode ser criticada por ter traído a base que deveria representar e participado de um ato organizado pelo PSDB. Quem o fizer será chamado de “racista” ou “misógino” e censurado nos espaços que os identitários controlam. Quem critica o identitário, por outro lado, não está tentando promover censura alguma. Está apenas denunciando, com argumentos, que a figura em questão é uma impostora política. Isto é, que a presidenta da UNE está fazendo demagogia com a luta do povo negro e com a luta da mulher para encobrir a sua política de colaboração com os inimigos dos negros e das mulheres.

Um desses bebês chorões que vieram a público recentemente para protestar contra quem chamasse os identitários de “identitários” foi o Johnny Bravo do PCB, o youtuber Jones Manoel:

Em seu ataque àqueles que denunciam o identitarismo, Jones Manoel revela exatamente qual é o método identitário de (não) discussão. Alberto Cantalice apresenta uma denúncia séria, importante, que, trocando em miúdos, quer dizer que a política de um setor da esquerda é a política do imperialismo — isto é, dos inimigos do povo. Jones Manoel, no entanto, não debate a denúncia, apenas se mostra incomodado — talvez porque a carapuça tenha lhe servido — e procura “cancelar” o seu adversário com um amontoado de xingamentos que nada têm a ver com a discussão.

Esse método pode ser resumido da seguinte maneira: “eu, identitário, sou moralmente superior a você. Por isso, não vou nem discutir com gente de sua laia, que não deveria ter o direito de abrir a boca, nem mesmo deveria existir”. É um método que um bigodudo austríaco utilizou bastante no século passado, com a diferença que o bigodudo tinha mais punições a oferecer do que um “bloque” nas redes sociais.

Mas se a defesa que Jones Manoel faz do identitarismo tem o mérito de apresentar o método truculento de seus adeptos, coube a outra pessoa apresentar, de maneira inconfundível, qual o verdadeiro conteúdo da ideologia identitária. Em uma publicação compartilhada pelo presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, a professora universitária Tatiane Roque diz:

Já de cara, pode-se ver o tom dos identitários: o tom de quem se acha dono do mundo, a ponto de querer decidir quais palavras as pessoas podem ou não usar! É um absurdo. As únicas palavras que comprometeriam uma conversa são aquelas que são incompreensíveis. Isto é, quem quiser usar palavras rebuscadas ou importadas das universidades norte-americanas, tem todo o direito de fazê-lo, só não terá como garantir que alguém vai entender. Agora, querer impedir que uma palavra seja utilizada porque ela esclarece o debate, como é o caso do termo “identitarismo”, é uma verdadeira palhaçada…

O que “compromete” o debate para o identitário é aquilo que compromete os seus interesses. O identitarismo não preza por um debate democrático entre a esquerda, mas sim pela imposição truculenta de sua política. Como disse o companheiro Rui Costa Pimenta na Análise Política da Semana de sábado (8), se a liberdade de expressão for condicional, então até nas Forças Armadas existe liberdade de expressão: o soldado tem liberdade para falar o que ele quiser, desde que o que ele queira dizer seja “sim, senhor”. Assim é o mundo para o identitário: uma conversa só é uma conversa se o interlocutor utilizar as palavras “certas”.

Mas o que mais merece destaque é a última frase da professora universitária: “a noção de trabalhador menosprezou a situação concreta de mulheres e negros”. Pode não parecer, mas essas palavras de Tatiana Roque prestam um grande serviço à humanidade, pois põem abaixo toda a enrolação de identitários como Jones Manoel e revelam exatamente o que eles pensam.

Podemos concluir, a partir da colocação da professora universitária, que (1) haveria uma distinção, uma linha divisória, uma dicotomia entre mulheres, negros e trabalhadores e que (2) a defesa dos trabalhadores seria um entrave para a defesa das mulheres e dos negros.

No final das contas, a filosofia de Tatiana Roque corresponde perfeitamente a uma mania esquisita e pilantra que vem assombrando a esquerda no último período. É a mesma mania daqueles que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, que, ao instituir tal nome, reconhecem, ao mesmo tempo, que seria possível existir liberdade sem socialismo ou ainda socialismo sem liberdade. Os identitários vão pelo mesmo caminho: para eles, (1) haveria a luta das mulheres e dos negros sem a luta dos trabalhadores ou (2) haveria a luta dos trabalhadores sem a luta das mulheres e dos negros ou (3) ambos. Que Tatiana Roque considera a segunda hipótese como verdadeira, não há dúvidas, resta saber se ela também considera a segunda.

Isso, contudo, já é mais que suficiente para comprovar uma tese: a política identitária é uma política de classe, uma política que se opõe à política da classe operária. Que surge em reação à política dos trabalhadores e que, portanto, só poderia ser uma política de seus inimigos.

A “noção de trabalhador” que “despreza” os oprimidos significa que o programa histórico da classe operária não é o mesmo programa que o programa de defesa dos oprimidos — que a youtuber Sabrina Fernandes, do PSOL, chama de “pautas anti-opressão”. Isso quer dizer, em primeiro lugar, que os identitários nada têm a ver com o marxismo. Ou (1) não consideram a luta de classes como o motor da história, como o único fator real de transformação da sociedade — isto é, que, para transformar profundamente a vida dos LGBTs, mulheres, negros etc., seria preciso travar uma luta que não seria a luta de classes — (2) ou consideram a luta de classes como motor da história, mas tomam lado da burguesia, que seria a classe que combate o programa “machista” e “racista” da classe operária.

“Não marxista”, no entanto, não é o suficiente para classificar a ideologia identitária. É preciso demonstrar como ela é profundamente reacionária.

Incapazes de bater de frente com o marxismo, pois o antimarxismo é uma doutrina notoriamente de extrema-direita e impopular na esquerda, os identitários se propõem a fazer uma “mistura” da luta de classes com as “pautas anti-opressão”. Não querem, assim, negar o marxismo, mas apenas dar um “plus”, um acréscimo a uma doutrina supostamente insuficiente.

Acontece que a luta do negro e da mulher já existe há muito tempo, e nada teve a ver com as “pautas anti-opressão”. Sempre foi uma luta de classe, com um programa de classe. A luta do negro sempre foi uma luta política — a luta contra o poder dominante. E nunca houve, na história do capitalismo, um poder “branco”, “heterossexual” ou “masculino”. O poder sempre foi de uma classe, a burguesia.

Neste sentido, a luta do negro, da mulher ou seja lá qual for o setor oprimido só poderá ser uma luta que apresente uma nova perspectiva de poder político. Uma luta que cujo programa aponte para o enfrentamento entre uma classe e outra — ou seja, um programa ancorado na luta dos trabalhadores contra a burguesia. O verdadeiro movimento de mulheres, de negros e dos oprimidos em geral — isto é, os movimentos que se dirigem para uma mudança profunda na sociedade — são, todos eles, resultados das contradições entre a sociedade capitalista e esses setores. Trazem, portanto, em essência, a superação do capitalismo como uma necessidade.

Não existe o “negro oprimido” em abstrato, e é justamente por isso que não se pode falar em “pautas anti-opressão”. A superação das opressões é, necessariamente, a luta de classes. “Ensinar” a luta de classes a travar a luta contra as opressões é, portanto, um absurdo lógico.

Mas não é só ignorância. Essa idiotice toda cumpre um papel muito claro: a pregação despolitizada em torno das “opressões” tem como fim ocultar o conteúdo das opressões. O identitarismo é um esforço para retirar a luta dos oprimidos da luta de classes — isto é, em transformar as “pautas anti-opressões” em uma luta independente, por si só. Daí, podemos concluir que, sim, os identitários consideram ser possível lutar pelas mulheres e pelos negros sem travar a luta da classe operária.

O resultado prático disso, já testemunhamos inúmeras vezes.

Quando a política da burguesia ataca ferozmente os setores oprimidos, como no caso golpe de 2016, que aumentou brutalmente o número de mulheres desempregadas, a esquerda classista está na linha de frente em defesa de todo o povo. Os identitários, por outro lado, aparecem com um pretexto para não travar a luta — um pretexto, normalmente, identitário, como o de que Dilma Rousseff não apoiou o projeto de lei não sei qual que permitiria que o LGBTs pudessem usar o banheiro que quisessem.

Afinal, quem está disposto a “separar” as “pautas anti-opressão” da luta de classes é porque tem um motivo para fazê-lo: não quer travar a luta de classes. Ou, como isso não é possível, apoiar a política sórdida do imperialismo.

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