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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

As falácias da guerra

Falo nas guerras do imperialismo   

Às vezes um charuto é apenas um charuto, já dizia o próprio Freud.

              Ao acessar o Youtube para buscar informações sobre o senhor Zelensky, um dos primeiros links a surgir na tela é o de um humorista, bastante infeliz, tentando tocar piano com o pênis… algo bastante próximo dos peidos dos palhaços, tão apreciados pela ex-secretária de Cultura de Sua Excelência, o Presidente do Brasil… ao que tudo indica, entre pintos e peidos, faz-se a política. Quanto ao presidente Putin, não é raro assistir a análises em que sua virilidade se torna tema e até explicação para uma guerra travada, desse ponto de vista, entre patriarcas machistas.

              Nessa explicação erótico-pornográfica da história, valeria a pena indagar: 1) teria o Imperador Hirohito perdido a II Guerra Mundial porque seu pênis era menor que o do General MacArthur?; 2) o chefe da SA, o Capitão Ernest Röhm, teria levado uma “comida de rabo” na Noite das Facas Longas?; 3) para não ficar apenas no universo do falo, teria Margaret Thatcher dado uma “chave de boceta” no neoliberalismo? Desculpem-me se o nível foi descendo nas indagações, mas, se o ponto de vista da análise política for uma questão de sexo, a solução só poderá ser essa, mesmo simbolicamente, quando o falo é tomado, equivocadamente, enquanto símbolo de poder.

              Se ao presidente Putin pode ser associada a virilidade, seria a Golda Meir ou a Dilma Rousseff, mulheres notórias em posições de comando, associada uma “vulvidade”? A palavra exata, contrária a virilidade, deveria ser feminilidade, ambas derivadas, respectivamente, do latim “vir” e “femina”; entretanto, a palavra feminilidade, associada a outros significados atribuídos às mulheres, muitas vezes deletérios, não conotaria, nesse caso, o contrário de virilidade. Desse modo, entre pênis, vaginas e palavras, seria a política uma questão semântico-erótica?

              Talvez, em tempos de guerra, toda essa confusão derive da possibilidade de associar mísseis e armas a símbolos fálicos, associação tão esdrúxula quanto comparar os mesmos mísseis a seios pontudos, equiparar metralhadoras a orgasmos femininos, aproximar trincheiras de vaginas – já dizia o próprio Freud, às vezes um charuto é apenas um charuto –; nem nas batalhas fictícias dos robôs Transformers, Optimus Prime e Megatron têm mísseis nos lugares dos pênis, aliás, eles são robôs masculinos, porém, sem os pênis.

              Ora, vale a pena, nessa altura da exposição, recuperar a sanidade e tratar as questões de guerra enquanto questões políticas, motivadas, em nossa época, pela luta de classes e, consequentemente, pelo imperialismo; não se trata da virilidade de um contra os solos de piano-pênis do outro, mas das ações imperialistas da Otan no planeta Terra. Se comparações fálicas em política fossem esclarecedoras, cabe ainda indagar porque o senhor Biden, alguém provavelmente lasso, promete fazer bastante estrago, fodendo todo mundo.

              Tudo que metáforas assim prometem fazer, contrariamente a quaisquer esclarecimentos, é semear confusões, uma vez baseadas em opiniões não menos confusas, várias vezes endossadas por conhecimentos acadêmicos no mínimo discutíveis. Crer que um chefe de estado invadiria outras nações porque é um macho exibindo seu falo não é uma concepção histórica merecedora de respeito. Sequer semioticamente ela se sustenta, utilizar o corpo metaforicamente para descrever posições de comando, seja no estado, nas igrejas, nos batalhões, sempre foi uma atribuição da mente e não questões de genitália; na literatura, vale a pena conferir as respostas de Uisses a Ajax quando da disputa do inventário das armas de Aquiles, segundo Ovídio, ao cantar passagens da Guerra de Tróia em suas Metamorfoses. Até no pós-modernismo fala-se em corpos sem órgãos, máquinas desejantes etc.; por fim, mesmo depois do correr de tanta pena, ainda prefiro as explicações de Vladimir Lenin sobre o imperialismo e quem manda no mundo, bem mais razoáveis!

*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário

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