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Expedito Mendonça

Militante trotskista há 40 anos, fundador e atual diretor do Sindsep-DF. Formado em História pela UniCEUB, membro da comissão de redação do Jornal Causa Operária e colunista do Diário Causa Operária.

Opressão racial

EUA: Talvez a pandemia possa lhe salvar

Para se livrar do corredor da morte, talvez seja necessário ficar doente, quem sabe assim seja possível encontrar a justiça

No País onde a população carcerária é a maior do planeta – os Estados Unidos – uma forma de se livrar da câmara de gás, da injeção letal ou da cadeira elétrica, talvez seja contrair alguma enfermidade grave. Isso porque a depender do sistema de justiça norte-americano – racista, criminoso e excludente – a condenação à pena capital, para quem está no corredor da morte, é quase irreversível, especialmente se o apenado for um negro, hispânico ou pertencer a alguma outra nacionalidade diversa da cor branca.

Em mais um caso – dentre as dezenas e centenas de outros – de condenação à pena de morte, onde mais um negro aguardava a execução, de forma surpreendente e talvez quase inédita, um juiz federal, Roy B. Dalton, do Tribunal de Middle District, da Flórida, acolheu um pedido da defesa que considerava os riscos da pandemia de covid-19 e o fato de um acusado negro estar com problemas de saúde. Sim é verdade, isso aconteceu nos Estados Unidos, o país que mais executa negros e pobres no mundo, muitos deles condenados sem provas ou através de provas forjadas, em julgamentos farsa onde a maioria do júri estava constituído por elementos de cor branca, não majoritariamente, mas exclusivamente.

O caso em questão envolveu um homem negro, de 63 anos, Crosley Green, condenado por assassinato em 1990, e preso há mais de 30 anos. Em julho de 2018, Crosley teve sua condenação anulada; portanto, sua prisão estava violando a constituição há mais de dois anos. Ou seja, a justiça do País símbolo da “democracia”, dos “direitos humanos” e da “igualdade” manteve encarcerado, de forma ilegal, por quase três anos, um homem negro que já deveria estar em liberdade. 

Vale destacar que a decisão do magistrado da Flórida não se deu em função da ilegalidade da prisão de Crosley Green, mas por razões de natureza diversa, ligadas ao precário estado de saúde do prisioneiro, que estava acometido por tuberculose, o que o colocava em situação de maior risco de contrair a covid-19. 

A sentença de Crosley foi anulada porque nunca houve qualquer evidência física que ligasse ele ao assassinato de um homem branco, de 22 anos. As provas nunca apareceram e o julgamento foi conduzido a partir de declarações de uma ex-namorada da vítima, que disse ter visto um “homem negro atirar na direção deles”.

Este e muitas outras centenas, talvez milhares de casos deixa às claras o que verdadeiramente é o regime “democrático” norte-americano: Uma máquina de guerra contra a população pobre, em especial os negros, oprimidos, perseguidos e humilhados não somente pelos diversos grupos supremacistas brancos existentes no País, mas pelo próprio sistema judiciário, sempre dispostos a condenar os menos favorecidos, enquanto é benevolente para com o setor branco, opressor, da sociedade.

Desta forma, talvez valha a pena ficar adoentado nas prisões norte-americanas, pois assim, quem sabe, é possível se livrar, a depender do juiz, da pena capital, da execução. 

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