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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Russofobia

Enforcando a geografia: a Rússia imaginária de Jones Manoel

Jones Manoel inventa uma Rússia ocidental e "imperialista", além de praticar abertamente a russofobia

No dia 18 de março de 2022, Jones Manoel enforcou a geografia.

Em um delírioMai 68 Style” , misturado ao desatino stalinista, o youtuber escreveu no Twitter: “O comício chauvinista de Putin é expressão de uma tendência perigosa para o povo trabalhador russo: a mobilização de sentidos ultranacionalistas de ‘grande potência’. Adaptando uma famosa pichação francesa do maio de 68: que Zelensky seja enforcado com as tripas de Putin.”

Contaminado pela imprensa capitalista, Jones Manoel utilizou dois termos equivocados para atribuir à Vladimir Putin e ao povo russo: “chauvinista” e “ultranacionalista”. A aberração proferida por Jones Manoel é muito absurda, pois a Rússia é uma confederação de 200 nacionalidades, e o Presidente da Rússia está comprometido com as nacionalidades viventes.

De acordo com Igor Barinov, chefe da Agência Federal Russa para Assuntos Étnicos: “O caráter multinacional e multilíngue da Rússia é uma característica fundamental do nosso país. Cerca de 200 nacionalidades vivem na Rússia, mais de 100 delas são indígenas. De Kaliningrado a Chukotka, os grupos étnicos mencionados nas primeiras crônicas russas antigas desde o início do século XII”. revelou Barinov em 2018, comentando sobre a estratégia renovada da política nacional da Rússia.

De izquierda a derecha: el presidente del Consejo de Muftíes de Rusia, Ravil Gainutdin, el presidente de la Junta Espiritual Central de Musulmanes de Rusia, Talgat Tajuddin, el presidente del Centro de Coordinación de Musulmanes del Cáucaso del Norte, Ismail Berdiev, el líder de la Iglesia ortodoxa Rusa de los Viejos Creyentes, Kornili, el presidente Vladímir Putin, el jefe de la Sangha Tradicional Budista de Rusia, Damba Ayusheev, el arzobispo de la Iglesia evangélica Luterana de Rusia, Dietrich Brauer, y el secretario general de la Conferencia de los Obispos Católicos de Rusia, Igor Kovalevski. - Sputnik Mundo
Putin com representantes de todas as nacionalidades da Rússia

Putin foi ex-chefe do Serviço de Segurança Federal (FSB), instituição que substituiu a antiga KGB na Rússia. A nomeação de Putin ocorreu em função do alto posto militar que ele ocupava, não propriamente por alinhamento político ao ex-Presidente Boris Yeltsin.

Embora Vladimir Putin tenha sido escolhido por Yelsin para substituí-lo após sua renúncia, foi uma escolha pelo reconhecimento tardio ao trabalho do atual Presidente, em demonstrar a aceleração da OTAN, sobre as fronteiras do território russo. Fato que também colaborou para a destruição econômica da Rússia durante a década de 1990.

Putin, mesmo sendo atacado pela União Europeia e Estados Unidos, manteve-se na condução do país, com alta popularidade entre os povos de 85 entes federativos e 22 Repúblicas. A mais importante de demonstração de popularidade de Putin foi o voluntarismo do exército da Chechênia (uma República Islâmica), liderado pelo lendário Ramzan Kadyrov, à campanha da Ucrânia.

Kadyrov, de pé, no centro da foto, com os exércitos empunhando as bandeiras da República da Chechênia e da Federação Russa

Lênin, durante a Primeira Guerra Mundial, demonstrou que o chauvinismo é a “aliança de uma parte dos pequenos burgueses radicais e de uma ínfima parcela de operários privilegiados com a ‘sua’ burguesia nacional contra a massa do proletariado” (Marxismo e Social-Chauvinismo, Obras Escolhidas, 1914-15). Portanto, o comício de Putin no estádio lotado, não tem nada a ver com essa política denunciada por Lênin. Putin foi celebrar os 8 anos do Plebiscito da Crimeia, que voltou a pertencer à Rússia, após decisão popular.

Outra questão desconsiderada por Jones Manoel é o apoio do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), autor do projeto de lei que reconheceu a independência das Repúblicas de Donetsk e Lughansk.

Em mensagem no Twitter, o PCFR escreveu: “A carreata vermelha foi realizada em toda a Rússia sob o slogan ‘Pare a OTAN! Pelo nosso Exército, pelo renascimento da Rússia! Seus participantes observam que a desnazificação da Ucrânia deve ser o início de mudanças fundamentais na própria Rússia, que deve retornar ao caminho socialista do desenvolvimento!“. [O “renascimento” da Rússia tem a ver com a defesa do povo russo da região do Donbass].

A sentença de “chauvinismo” se dissipa aqui, juntamente com a sentença de “ultranacionalismo”, já que essa palavra é utilizada na Europa para um “nacionalismo” com características fascistas evocada por potências imperialistas em períodos de profunda crise, ou políticos ligados a essa tendência como Jean-Marie Le Pen, na França. Putin, de nenhum modo expressa essa tendência. Aos países oprimidos pelo imperialismo, o nacionalismo frente ao opressor, é elemento necessário para o enfrentamento.

Na realidade, um país oprimido como a Rússia, vítima de sanções econômicas em escala jamais vista, nem mesmo Cuba ou Venezuela, pela extensão e rapidez. Mesmo com sob sanções, Putin também recebe apoio popular. Ao contrário de seu algoz imperialista, os Estados Unidos, a Rússia não impõe sanções a ninguém, a não ser para responder com aquilo que lhe é possível, de modo assimétrico.

No “grand finale” do “fio”, Jones Manoel, como quem joga RPG propõe:

  1. O fim da OTAN dependeria, em parte, da vitória russa em sua guerra defensiva;
  2. A retirada das bases militares dependeria da capacidade dos países oprimidos, progressivamente se armarem contra o imperialismo;
  3. A “autonomia” não é possível, pois o princípio que governa a Rússia é a autodeterminação dos povos, que reconheceu a INDEPENDÊNCIA de Donetsk e Lughansk;
  4. A “morte ao Batalhão Azov” depende da força dos exércitos comandados pelo chefe maior das forças russas, Vladimir Putin (a quem Jones Manoel chama de “ultranacionalista”) ;
  5. A “legalização das organizações comunistas” se dará, automaticamente, com o fim do regime de exceção imposto pelo Euromaidan, OTAN e, sobretudo, pelos Estados Unidos (Nota: desde a criação do Partido Svoboda, em 1994, ocorre a liquidação da esquerda institucionalizada – O Euromaidan foi a pá de cal).
RPG com Putin

É preciso que a esquerda volte a estudar, volte a ser anti-imperialista e rejeite as “teses” de pessoas que se vendem como intelectuais promovidos pela imprensa burguesa.

*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário

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