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Destruição do país

Deveriam botar as barbas de molho

O aumento da carestia, especialmente quando concentrado em alimentos básicos, tem uma centralidade na vida da esmagadora maioria dos brasileiros

Pela mais recente pesquisa do DIEESE sobre a evolução dos preços da Cesta Básica, o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$5.657,66, valor que corresponde a 5,14 vezes o piso nacional vigente, de R$ 1.100,00. O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças. Os preços dos produtos básicos (comida, água, energia elétrica, tarifas de transporte) estão aumentando num momento em que a classe trabalhadora brasileira atravessa o seu pior ciclo de empobrecimento da história. Esse ciclo foi causado pelo golpe de 2016, que veio para isso mesmo. O golpe foi operado por “necessidade”, ou seja, a profundidade da crise requer maior transferência de riqueza da periferia para o centro, o que significa a necessidade de destruição de direitos, além de outras ações, como a entrega da Eletrobrás. Neste momento de grande crise mundial, não é mais possível manter governos nacionalistas e sociais-democratas na periferia capitalista, sem que entrem em rota de colisão com os interesses do imperialismo.

Por isso derrubaram governos em toda a América Latina. Por essa razão os governos que resultaram de golpes desfizeram rapidamente as escassas políticas sociais ou distributivas que existiam. Michel Temer, por exemplo, mal assumiu com o golpe, tratou de liquidar a Lei de Partilha, que retinha, em maior grau, a renda petroleira no Brasil. O exemplo do petróleo no Brasil ilustra com riqueza o que é ser um trabalhador de um país dominado pelo imperialismo. O país dispõe de uma das maiores reservas de petróleo no mundo, e é um grande produtor de petróleo. Ao mesmo tempo estão vendendo as refinarias, para tornar o país apenas um exportador de óleo cru e depender cada vez mais de importações de derivados de petróleo, principalmente dos EUA. E quantidades crescentes da população não têm o que comer. Quando a cotação do barril de petróleo aumenta internacionalmente, quem ganha não é povo pobre e negro brasileiro, e sim os investidores da Bovespa e da Bolsa de Nova York.

O fato é que com os níveis salariais do Brasil, mesmo com inflação zero, o trabalhador tem a sensação de que ela é muito elevada. É que o custo de vida é muito alto para os salários vigentes, mesmo que ele não esteja aumentando (ou seja, mesmo que a inflação fosse zero). Muitas vezes os trabalhadores reclamam da inflação, mesmo com ela estando em nível muito baixo. Na verdade, a reclamação é direcionada para os baixos salários. Se o trabalhador recebe o salário mínimo para o sustento de duas ou três pessoas e uma cesta básica para um adulto custa R$ 650,00 ou mais, a conta nunca irá fechar. Na realidade, essa é uma confusão entre inflação e salário baixo, que são temas correlacionados, porém distintos.

Se a família sobrevive com um salário mínimo (e no Brasil são muito milhões de famílias nessa situação), a inflação pode ser zero que, mesmo assim, irá faltar dinheiro para suprir as necessidades básicas. A inflação atual, causada em boa parte pelo aumento de preços dos alimentos, impacta frontalmente o pobre. Quem sobrevive com um salário mínimo no Brasil (no total, 27,3 milhões de brasileiros recebem até um salário mínimo, cerca de um terço do total da força de trabalho do país, segundo dados da Pnad-IBGE), gasta praticamente toda a sua renda para comprar comida. Dependendo do número de dependentes da família, não consegue pagar nem mesmo luz e água.

Nesse contexto, quando há uma pressão dos alimentos a renda do pobre é impactada direta e mais fortemente. Em menor escala a classe média baixa sente também. Já as famílias ricas nem ao menos percebem a inflação, especialmente se esta for causada por alimentos. O rico, pelo contrário, aproveita a alta de preços para ganhar dinheiro. Se o preço da carne no varejo sobe muito acima da inflação em um ano, como constatou o DIEESE na sua pesquisa de cesta básica, é evidente que esse aumento beneficia o empresariado. É a hora de proprietários de gado, de grandes atacadistas de alimentos, donos de supermercados, etc., fazerem um lucro extra.

No Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é o índice oficial de inflação, saiu de 4,31%, em 2019, para 10,25%, no acumulado em 12 meses até setembro passado. Este já e um patamar de inflação alta. Se pegarmos os 20 países com maiores produtos internos bruto (PIB) do mundo, o Brasil está em terceiro lugar em inflação (em 12 meses), atrás apenas da Argentina (51,42%) e Turquia (19,58%). Se considerarmos que não há indexação salarial no Brasil, uma inflação de 10% é muito alta, ainda mais considerando que os salários são muitos baixos. Além disso, segundo o DIEESE, quase 70% das categorias não estão conseguindo repor a inflação na data base.

Desde o começo do ano passado, a inflação tem aumentado no mundo em função de alguns fatores principais: 1.as matérias primas voltaram a pressionar a inflação, em função do aumento das vendas principalmente de minérios, aço, grãos e proteína; 2.Com a pequena retomada da economia ao nível mundial, o petróleo, que a principal fonte de energia mundial, do mundo, aumentou seu preço em quase 50% desde o começo de 2020. O principal fator de elevação da inflação no Brasil é o dólar, que aumentou 25% desde o começo de março do ano passado. O dólar mais alto eleva os preços de todos os produtos que tem seu preço definido no mercado internacional, como no caso dos combustíveis. Combustíveis mais caros contaminam outros preços fundamentais da economia, pois estes componentes estão nos custos de quase todos os bens e produtos.

O problema fundamental da inflação no Brasil (como acontece nos países de capitalismo atrasado, em geral) é que a taxa de exploração é muito elevada, os salários são muito baixos. Qualquer elevação mais significativa da inflação coloca uma boa parte da classe trabalhadora no primeiro patamar da fome. E a elevação inflacionária atual não é qualquer uma, ela é forte, persistente, e concentrada em alimentos, o que compromete diretamente a renda da maioria da população. A conta é simples: de acordo com dados da Pnad Contínua, do IBGE, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores (considerando a soma de todos os trabalhos) foi de R$ R$ 2.508 no trimestre móvel até julho de 2021. Este valor deveria ser suficiente para custear comida, aluguel, transporte, luz, água, etc. O fato é que, mesmo que o rendimento médio fosse o dobro, a conta não fecharia, como mostra o valor do salário mínimo necessário do DIEESE (R$5.657,66).

Os preços dos produtos básicos (comida, água, energia elétrica, tarifas de transporte) estão aumentando num momento em que a classe trabalhadora brasileira atravessa o seu pior ciclo de empobrecimento da história. Esse ciclo foi causado pelo golpe de 2016, que veio para isso mesmo.

Com os níveis salariais do Brasil, mesmo com inflação zero, o trabalhador tem a sensação de que ela é muito elevada. É que o custo de vida é muito alto para os salários vigentes, mesmo que ele não esteja aumentando (ou seja, mesmo que a inflação fosse zero). Se o trabalhador recebe o salário mínimo para o sustento de duas ou três pessoas e uma cesta básica para um adulto custa R$650,00 ou mais, a conta nunca irá fechar. Quem sobrevive com um salário mínimo no Brasil (no total, 27,3 milhões de brasileiros recebem até um salário mínimo, cerca de um terço do total da força de trabalho do país, segundo dados da Pnad-IBGE), gasta praticamente toda a sua renda para comprar comida. Dependendo do número de dependentes da família, não consegue pagar nem mesmo luz e água.

Os que fazem a desastrosa política econômica no Brasil (que representa, no fundo um meticuloso projeto de destruição do país), se conhecerem um pouco de história, deveriam botar as barbas de molho. O aumento da carestia, especialmente quando concentrado em alimentos básicos, tem uma centralidade na vida da esmagadora maioria dos brasileiros, fator que não deveria ser subestimado.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste diário.

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