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Arte em Cuba

Cuba transborda arte e cultura

Apesar de toda a crise provocada pela pandemia, Cuba mostra um retorno à “normalidade”, com Festival de Cinema, Bienal de Arte, Feira de Artesanato e projetos para o ensino de arte

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Na última quarta-feira, 8 de dezembro, aconteceu, em Cuba, um encontro do presidente Miguel Diaz-Canel com artistas e dirigentes da área cultural. Foi uma atividade promovida pela própria Presidência da República para discutir e dar seguimento a decisões tomadas, anteriormente, em conjunto com a UNEAC (União de Escritores e Artistas de Cuba). Foram discutidas diversas questões relativas ao fazer cultural em Cuba. Com a participação de professores do ISA (Instituto Superior de Arte), especial atenção foi dada à formação artística profissional, profundamente conectada à ideia de arte como elemento fundamental da identidade nacional.

Além do aspecto artístico, também foi abordada a importância dos espaços de ensino de arte diante da pandemia e dos problemas daí decorrentes, assim como o engajamento dos alunos no enfrentamento do Covid-19. O ensino da arte, aliado à formação do cidadão atuante e participativo na vida do país, é uma realidade em Cuba.

O presidente Diaz-Canel destacou ainda a importância da educação artística na formação integral das crianças e dos jovens cubanos, propondo ações para levar adiante o projeto idealizado por Fidel Castro, desde a vitória da Revolução, em 1959, de possibilitar a todos os cidadãos o direito ao fazer artístico, de maneira cada vez mais eficiente. A partir do encontro realizado, Diaz-Canel estabeleceu alguns objetivos:

  • trabalhar na manutenção das infraestruturas dos espaços de educação artística, mas pensando em aperfeiçoá-las;
  • aproveitar as pesquisas nascidas nas universidades de artes;
  • seguir aperfeiçoando os métodos de ensino-aprendizagem;
  • aprofundar as relações entre os processos de ensino da arte e as dinâmicas sociais cubanas.

Além desse evento do presidente com pessoas atuantes na arte e na cultura, acontece em Cuba, nesse momento de retomada do turismo internacional, a Feira Nacional de Artesanato, na qual se inclui uma agenda de atividades culturais diversas, contando com o suporte do Ministério da Cultura. Há ainda o Festival de Cinema Latino-Americano de Havana, que segue até 12 de dezembro. Podemos ver, também, no noticiário cubano, a divulgação da visita do presidente de Cuba à Bienal de Havana, em companhia do ministro da cultura, Alpidio Alonso Grau, e o elogio feito por ele ao trabalho dos jovens artistas locais.

Quando corremos os olhos sobre essas notícias, o que transparece é que, nesse momento, Cuba vive uma efervescência cultural, apesar da pandemia que nos acomete a todos, de uma forma ou de outra. Com certeza, colabora nessa retomada da cultura e das artes em Cuba o enfrentamento exemplar no combate ao Covid-19, com reconhecimento inclusive por parte da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Mas todas essas notícias criam um espanto a nós, brasileiros. Parece que vivemos em outro mundo. Aqui, o noticiário só fala do aumento da fome no país e dos absurdos índices de desigualdade, que provocam filas tanto de milionários para a compra de jatinhos como de famintos para a doação de ossos. A cultura aqui segue relegada ao último plano. Vivemos um momento de especial desmonte da área cultural e a destruição dos projetos pedagógicos ligados ao fazer artístico. Chega a ser chocante o contraste da nossa realidade em relação ao que vemos no contexto cubano, coisa que não é noticiada na mídia hegemônica, como tudo de positivo que se refira à Cuba.

Esse choque só aumento se lembramos que Cuba é uma país pobre e muito pequeno, impossível de ser comparado com um lugar de dimensões continentais, e de riquezas naturais tão abundantes como o Brasil. Cuba poderia ser comparada a seus vizinhos caribenhos, como a Jamaica ou o Haiti. Mas alguém ouviu falar de produção cultural de referência na América Latina em algum desses países? Cuba tem um centro de produção cultural que serve de parâmetro a todos os países latino-americanos, que é a Casa de las Américas, criada em 1959. Mais recente, de 2014, é a FAC (Fábrica de Arte Cubano), um espaço artístico dedicado ao aprendizado e a criação nas diversas linguagens artísticas e que também funciona como um local aberto ao público, para que se possa vivenciar a arte cubana em um ambiente para lá de agradável. A FAC também já se tornou um local de referência para artistas de todo o mundo e é tido como um dos melhores espaços no cenário internacional, segundo a revista estadunidense Time. Vou até repetir: é considerada um dos melhores lugares do mundo. E na avaliação de uma revista dos EUA! A riqueza artística que se respira na FAC é algo difícil de descrever. Com vários ambientes, há múltiplos espaços para a música, desde a eletrônica dançante até os grandes shows ao vivo ou a música de câmara. Tudo junto com as outras artes: exposição de fotografia, de pintura, moda, design, sala de cinema, enfim, arte para todos os gostos.

Toda essa exuberância cultural nós encontramos em um país que enfrenta o bloqueio imposto pelos EUA há sessenta anos, o que cria, cotidianamente, imensas dificuldades para a vida do povo cubano. Se Cuba, essa pequena ilha, com tantas dificuldades econômicas, consegue viver essa efervescência cultural, por que nós temos que viver nessa situação de indigência?

Historicamente, a cultura tem se mostrado um dos pilares da Cuba revolucionária. Desde os primeiros tempos, quando a campanha de alfabetização erradicou o analfabetismo no país, a educação e a cultura têm sido tratadas como parte dos direitos fundamentais de todo cidadão e da construção dos princípios fundamentais da Revolução. Nos anos 1990, no chamado “Período Especial”, quando se deu a grave crise provocada pelo fim do suporte econômico da URSS, a cultura, ainda assim, continuou sendo uma área central dos investimentos governamentais. Ao contrário do que se vê no Brasil, quando, ao menor sinal de crise, as verbas da área da cultura são sempre as primeiras a serem cortadas, em Cuba, o investimento na produção cultural aumentou nos anos 1990. Criou-se uma verdadeira cadeia produtiva em torno da cultura cubana, sobretudo da música popular, visando ao turismo e à exportação do produto cultural cubano, como uma forma de trazer divisas ao país, então em grave crise.

Mas a valorização da cultura e das artes não se atém ao aspecto econômico. É algo decorrente de uma concepção de sociedade na qual a cultura é entendida como parte essencial da formação integral do indivíduo, em uma compreensão humanista. Para Cuba, a maior riqueza do país é seu material humano. Essa ideia transparece na valorização da própria cultura.

Nesse momento, em que vemos no Brasil o avanço da extrema-direita e das políticas neoliberais, a cultura vem sofrendo ataques jamais imaginados. Nem Ministério da Cultura temos mais e o atual governo tem tratado os artistas como verdadeiros inimigos. A Bienal de Arte de São Paulo terminou no último domingo. Você ficou sabendo de visita do presidente da República ou de algum representante do governo brasileiro ao evento, com a devida divulgação dos artistas participantes? Pois é. O contraste da nossa situação em relação à Cuba é incomensurável e fica mais do que evidente que a destruição da cultura no Brasil é só um sintoma do neoliberalismo.

Faz parte da imagem que o imperialismo quer nos impor sobre Cuba dizer que a Revolução fracassou, que o socialismo deu errado e que não há existe solução fora do capitalismo. Esse capitalismo que dizem ter dado certo, é o mesmo que vemos nas pessoas passando fome no país que é o maior produtor agrícola do mundo? Se Cuba consegue manter toda essa atividade cultural, imagina o que poderíamos ter em um Brasil menos desigual?

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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