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José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Fora de controle

Crise mundial, inflação e empobrecimento

A conjuntura internacional está em aberto, de certa forma, tudo pode acontecer

petrobras questiona sobre venda de acoes 792018

O conflito na Ucrânia está provocando impactona economia e política mundiais, como seria de se esperar. A reação direta e objetiva da Rússia, em relação às provocações da OTAN e dos EUA, tem grande significado político e causou uma crise políticadramática no interior do bloco imperialista. O conflito trouxe também grandesefeitos na economia, a Europa importa da Rússia 40% do gás que consome. O conflito encarecerá muito o preço da energia para milhões de famílias europeias, com impactos também sobre custos industriais e preços em geral. Com as sanções, a Alemanha suspendeu a aprovação final do gasoduto Nord Stream 2, que permitiria aumentar as importações de gás da Rússia, inclusive a um custo menor. Mas os países europeus continuam comprando gás russo porque não há alternativaà altura, em termos de preços e facilidade de acesso.

Antes do conflitoo mundo já enfrentavaescassez de suprimentos globais e uma onda geral de inflação, problemas que se agravaram muito com a guerra.ARússia certamente está sendo prejudicada pelas sanções, não há nenhum caso anterior de medidas tão duras a um paíscom essa importância econômica.Mas os efeitostendem a se diluir um pouco porque o país é uma potência energética, que se preparou para enfrentar o bloqueio. Além disso, já enfrentou outros bloqueios, ainda que em grau mais ameno. Em alguns aspectos a crise beneficia o país, que dispõe de grandes reservas de petróleo e gás. A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, sendo que 30% são destinadosao mercado europeu.Portanto, a explosão de preços do barril de petróleo, que já apresenta as cotações mais altas desde 2008, beneficia diretamente a economia russa.

A inteligência chinesa compreende perfeitamente que se a Rússia for derrotada, ela passa a ser a bola da vez das investidas do Império (observem atentamente, pelos meiosde informações adequados,o que ocorre em Taiwan).Segunda maior economia do mundo, não aderiu ao boicote e, inclusive, está aproveitando as oportunidades surgidas para expandir mercados. As sanções dos países imperialistas à Rússia abrem uma grande oportunidade de vendas de componentes industriais e serviços de toda a natureza ao país. Por exemplo, com a saída das bandeiras de cartões de crédito Mastercard, Visa e American Express, o Sberbank, maior banco da Rússia, e outras instituições financeiras locais, começaram a emitir cartões por meio da rede chinesa UnionPay.É possível que as empresas chinesas ocupem esses espaços em definitivo, pode ser que as empresas americanas de cartão de crédito não retornem mais, com o final da crise atual.

     As sanções, que visam estrangular a economia russa,o que obrigaria Putin a recuar na guerra, estão sendo impostas por muitos países, e procuram atingir os setores financeiro, energético, transporte e outros. Incluem ainda controles de exportação e proibições de financiamento comercial.As medidas também objetivam limitar o acesso da Rússia à tecnologia sensível (aquela que permite acesso restrito por questões de segurança), assim como componentes e equipamentos de aeronaves. O bloqueio inclui restrições de vendas à Rússia de semicondutores, telecomunicações, segurança de criptografia, lasers, sensores, navegação, aviações e tecnologias marítimas.

Empresas e bancos russos sofrerão também restrições de atuação em vários países do mundo. Uma das medidas mais duras foi o congelamento das reservas internacionais da Rússia, que totaliza cerca de US$ 640 bilhões (em torno de R$ 3,2 trilhões), que é uma das bases da economia russa, justamente para enfrentar as turbulências que deverão advir do boicote. Uma parte dessas reservas estão em ouro e em aplicações na China em RBM, portanto à salvo das sanções, porém, metade das reservas estão dólar ou euro, ou mesmo yen.

Um dos efeitos incontornáveis do conflitoserá a alta de preços das matérias-primas no mundo todo, num contexto em que a inflação já vinha alta. É inevitável o repasse aos produtos, do aumento de preços internacionais, principalmente nos alimentos e derivados do petróleo. Sob formas variadas o mundo todo já vinha enfrentando antes problemas semelhantes, como a redução da oferta de energia, elevação do preço do frete, falta de componentes para a indústria, e assim por diante. O conflito vem agravardramaticamente esses problemas.

Como a política de preços dos derivados do petróleo no Brasil, chamada de PPI (Política de Paridade de Importação), está vinculada à variação do preço internacional do petróleo, a Petrobras anunciou na semana passada aumentos nas refinarias de 24,9% no litro do diesel, de 18,7% no litro da gasolina e de 16% no quilo do gás de cozinha. Os aumentos, que são os maiores das últimas décadas, impactarão fortemente o custo de vida. O governo quer fazer de conta que não tem nada a ver com o aumento de preços, que esta é uma política da Petrobrás, que seria “regulada pelo mercado”.

O fato é que, se a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que há cinco anos aumenta o preço dos derivados do petróleo muito acima da inflação, já era um total absurdo antes do conflito na Ucrânia, o que se pode dizer dela agora?Dependendo dos rumos que a crise mundial tomar, e dos seus efeitos sobre preços do petróleo e derivados, a PPI tende a implodir. Com a crise internacional (na qual todas as possibilidades estão em aberto) será muito difícil o governo sustentar a conversa mole de que não pode interferir na Petrobrás, apenas “dar palpites” e que quem decide os preços dos combustíveis são os diretores e o conselho da empresa.A postura do governo brasileiro chega a ser risível, se pensarmos que Joe Bidenfoi implorar petróleo ao governo venezuelano, o qual os EUA não só boicotaram de todas as formas possíveis, como tentaram derrubar o presidente da República e colocar um vigarista no lugar.

Os aumentos de preços dos produtos básicos (comida, água, energia elétrica, tarifas de transporte) estão ocorrendo num momento em que a classe trabalhadora brasileira já perdeu muito e atravessa o seu pior ciclo de empobrecimento da história. O custo de vida atual já seria muito alto para os salários vigentes, mesmo que ele não estivesse aumentando (ou seja, mesmo que a inflação fosse zero).Além disso, é um aumento de preços que é ainda mais elevado nos produtos alimentares básicos. Em fevereiro, por exemplo, o valor da cesta aumentou em todas as capitais onde o DIEESE realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. Em fevereiro todas as capitais tiveram alta de preços, com variações que oscilaram entre 10,00%, em Porto Alegre, e 23,00%, em Campo Grande. No mês, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas, calculado pelo DIEESE, deveria equivaler a R$ 6.012,18, ou 4,96 vezes o mínimo de R$ 1.212,00.

É nesse quadro, que temos assistido movimentos importantes dos trabalhadores em alguns segmentos (negociação rápida dos pisos estaduais, melhoria do quadro das negociações em geral, greves nos setores privado e público).Tais iniciativas, apesar de suas especificidades, podem estar indicando mudança na disposição de luta dos trabalhadores, que vêm tomando pancada, pelo menos desde o início do processo de preparação do golpe de 2016. A conjuntura internacional está em aberto, de certa forma, tudo pode acontecer. Mas, dependendo do comportamento da inflação, no caso de uma deterioração muito profunda do cenário internacional, a reação dos trabalhadores pode vir mais cedo do que imaginamos.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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