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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

No Brasil e no mundo inteiro

Criar dois, três… muitos Afeganistãos!

É preciso fazer florescer a Revolução por toda a superfície do globo

¡Cómo podríamos mirar el futuro de luminoso y cercano, si dos, tres, muchos Vietnam florecieran en la superficie del globo (…) Y si todos fuéramos capaces de unirnos, para que nuestros golpes fueran más sólidos y certeros, para que la ayuda de todo tipo a los pueblos en lucha fuera aún más efectiva, ¡qué grande sería el futuro, y qué cercano!
Che Guevara, mensagem aos povos do mundo através da Tricontinental (16 de abril de 1967)

Abro minha timeline e vejo um post de um amigo. “A capa do Extra é fortíssima. E necessária”, escreve, anexando a manchete do jornal carioca ─ A dor da fome.

A foto, a de três homens negros recolhendo ossos dentro de um caminhão no Rio de Janeiro, rodou o mundo. “Antes, as pessoas passavam aqui e pediam um pedaço de osso para dar para os cachorros. Hoje, elas imploram por um pouco de ossada para fazer comida. O meu coração dói” é a declaração do motorista do caminhão, que acompanha a foto da capa do diário.

No mesmo dia, também no Twitter, sou apresentado a um vídeo que mostra dois PMs massacrando uma mulher negra, descalça no chão de terra batida, de saias, em um bairro aparentemente muito pobre da periferia de uma cidade no Espírito Santo. Um deles a coloca contra a parede, dá-lhe uma joelhada na cara, seguida de dois socos próximos ao estômago. Em seguida, com a ajuda do outro, a joga no chão, ajoelhada, com a testa encostada na terra, e lhe dá um tapa na cara. Tudo isso, em plena luz do dia, aos olhos de seus vizinhos, que apenas observam com certa naturalidade. Estariam acostumados com cenas como essa?

Ambos os casos são exemplos da vida cotidiana dos brasileiros. Há cerca de 120 milhões de pessoas à beira da fome no país que abriga o maior rebanho bovino do mundo. Em dois anos, o número de pessoas em situação de “insegurança alimentar” (termo poético para designar quem passa fome) aumentou 54%.

Aproximadamente 90 milhões de trabalhadores estão desempregados, vivendo de bico, em trabalho informal, desalentados, desocupados ou em alguma categoria encontrada pelo governo para camuflar o tamanho do índice real de pessoas sem emprego de verdade.

Antes da pandemia, 220 mil pessoas vagavam pelas ruas do País, sem um teto para se proteger da chuva, do frio ou da polícia. Não há dados disponíveis ainda sobre quantas pessoas mais foram jogadas nas ruas desde então, mas, vistas as informações em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, e andando pelas principais capitais, é nítido que aquele número já foi ultrapassado há muito tempo.

Em toda esquina do centro de São Paulo se vê mendigos e barracos. Os sem teto, diante da falta de espaço para viver no centro, já espalham-se pela periferia ─ curiosa expressão do déficit habitacional: dormir no meio dos ratos da Praça da Sé é luxo aos olhos dos esfarrapados do Grajaú. Luxo ainda maior para quem se arrasta pelas vielas do interior do País.

Centenas de militantes e ativistas vindos dos mais variados estados da federação observaram, arrepiados, as almas errantes e amontoadas no 1° de Maio na Sé. Um dos forasteiros, no entanto, não se espantou. Pelo contrário, animou-se. Trazido em uma caravana de sem teto de Brasília, para se manifestar em defesa de moradia digna, decidiu largar a vida de sem teto na capital administrativa do País para começar uma nova, uma vida de sem teto na capital política e econômica da nação, metrópole dos arranha-céus e dos grandes negócios, paraíso financeiro, a cidade das oportunidades. Já ouvi a piada de que é melhor ser mendigo em Paris, mas a crise está tão braba que São Paulo já é lucro para os sem teto do Brasil.

A cidade de São Paulo é justamente onde o governo vai roubar 14% da renda mensal de cada aposentado para dar aos bancos, sob a desculpa de “salvar a previdência”. Uma em cada dez pessoas no mundo gasta mais de 10% de sua renda com remédios, o que significa que muita gente com certeza vai perder um quarto da renda mensal com essa medida da prefeitura paulistana. Mas isso deverá ser ainda pior, dados os preços estratosféricos dos medicamentos com a inflação galopante.

O que restará para essas pessoas?

Em agosto, a região metropolitana do estado mais rico do País registrou um aumento de quase 80% no número de roubos e furtos, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Oitenta por cento.

No Brasil inteiro, começam a ocorrer casos de saques a supermercados. Caminhões que transportam alimentos para os estabelecimentos comerciais também já sofreram ataques nos últimos meses. Parado no farol de pedestres no cruzamento de uma favela vizinha até minha casa, vejo, todos os dias, alguém revirando a caçamba de lixo, procurando o que comer. Quando já não houver mais ossos no lixo, essas pessoas poderão atravessar a rua, como eu, e assaltar a lanchonete da esquina.

Entretanto, antes que as pessoas comecem a pensar em soluções pouco ortodoxas para seus problemas, o Estado intervém. Não para garantir a proteção dos cidadãos, assegurando-lhes moradia digna, emprego, saúde, educação, alimentação. Mas para garantir que não incomodem aqueles cuja ceia é farta e abundante. Daí provêm a chacina do Jacarezinho, por exemplo. Ou a humilhação sofrida pela mulher negra do Espírito Santo.

Não somos dignos da visita ianque nem mesmo para sermos esbofeteados. Enquanto os EUA enviaram milhares de efetivos para reprimir o povo do Afeganistão, aqui eles não se dão a esse trabalho: usam de bucha de canhão os verdugos locais, de tão serviçais que são.

Mas abra o olho, Tio Sam! Os buchas de canhão brasileiros já estão demasiadamente gastos e marcados pelos que, até agora, foram suas vítimas. O Afeganistão mostrou que o jogo vira, cedo ou tarde. Se os pastores de cabras de sandálias botaram para correr os tanques e helicópteros norte-americanos de última geração, o que não farão os favelados de metralhadoras e fuzis com os PMs, cujos rostos vão ficando conhecidos devido às intermináveis listas de trabalhos de campo nos morros em seus currículos?

Cada favela, cada quebrada, cada cortiço brasileiro é um Afeganistão. O Talibã é um grupo pacifista perto dos homens que vivem nas periferias brasileiras. Quando a Guerra Santa começar também no Brasil, a humilhação norte-americana para os afegãos será totalmente esquecida diante do espetáculo (talvez não muito bonito) que tomará conta das vielas por todo o País. Os soldados americanos escaparam de volta para os EUA em suas aeronaves. Para onde fugirão os PMs brasileiros? O Talibã pintou a bandeira do Afeganistão de branco. A do Brasil será pintada de vermelho.

Mas engana-se quem pensa que é apenas no Afeganistão, em uma medida, ou no Brasil, em outra medida, onde a situação se encontra explosiva. A resistência de 20 anos do povo afegão tornou-se um exemplo para os povos do mundo todo, principalmente os povos oprimidos do Oriente Médio, do Norte da África e da Ásia. Os Houthis, o Hamas e o Hezbollah ganharam novo impulso com a esplêndida vitória dos irmãos afegãos. Os maoístas indianos, geograficamente próximos ao Afeganistão, também sentem-se mais motivados. Longe dali e perto daqui, o ELN mantém-se firme na luta contra a ditadura terrorista da Colômbia, enquanto os elementos mais combativos das FARC começam a se reorganizar.

A crise econômica se acentua na mesma medida em que acirra-se a luta de classes. Toda ação criminosa do imperialismo agonizante, com o exemplo afegão, tende a se tornar uma reação heroica da classe operária mundial e de todos os oprimidos desta Terra.

O Talibã recebe a simpatia e a solidariedade internacional de todos aqueles que lutam real e concretamente contra o imperialismo. Sabem que é um exemplo a ser seguido. No entanto, a maior solidariedade ao povo afegão, que, apesar de ter derrotado os EUA, está longe de ter se livrado da opressão imperialista, é exatamente colocar em prática os ensinamentos da Guerra do Afeganistão.

Iêmen, Gaza, Donbass, Colômbia, Filipinas, Catalunha, África do Sul, Haiti. As favelas e campos brasileiros. É preciso erguer-se organizadamente e se insurgir violentamente contra o imperialismo e seus fantoches. O fuzil deve exterminar, a foice deve fazer rolar e o martelo deve terminar o serviço batendo os últimos pregos do caixão do imperialismo. Os povos do mundo hão de vingar-se e, em conjunto, levando adiante a luta pela derrubada fatal do regime de opressão imperialista, construirão na Terra o Paraíso de toda a Humanidade.

A imprensa imperialista, refletindo o temor dos grandes monopólios capitalistas, viu na derrota no Afeganistão um flashback da derrota no Vietnã. Vamos mostrá-los que estão equivocados: a crise revolucionária de agora será ainda mais aguda do que aquela. É hora de organizar o proletariado, o campesinato pobre, a juventude sem perspectivas, os criminosos em potencial perante a catástrofe que os aguarda e construir partidos operários de massa em todos os países para impor a derrota derradeira dos opressores imperialistas.

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