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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Pressão apocalíptica

A classe operária vai pagar pela transição energética

Como a demonização de certas fontes de energia alienam a classe trabalhadora da luta contra o aquecimento global

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Em 2020, a demanda energética mundial caiu em 5%. O preço do petróleo chegou a ficar “negativo” no início da pandemia, isto é, sem ter onde estocar seu combustível, petroleiras estavam pagando outras empresas para armazenarem sua mercadoria. Por um breve período, os ambientalistas festejaram que o mundo respirava um “ar mais puro”. Isto é, até a retomada acelerada da economia global, tão descontrolada quanto sua desorganização durante a crise sanitária.

Nas últimas semanas, o mundo foi relembrado o quanto ainda dependemos de fontes de energia que emitem grandes quantidades de CO2 na atmosfera. Os preços de combustíveis fósseis e, até mesmo, do carvão dispararam. Usinas termoelétricas na Ásia tiveram dificuldades para reabastecer suas reservas de carvão. Na China houveram blecautes que deixaram no escuro cidades inteiras, inclusive suas fábricas, por falta do minério. Milhões de pessoas em todo o mundo, do Brasil ao Japão, da Europa aos EUA, já notaram o aumento na conta de luz, no preço dos combustíveis, e, devido ao caráter essencial da energia elétrica para toda a cadeia produtiva, nas mercadorias de conjunto.

A causa da alta nos preços tem essencialmente dois motivos. Primeiramente, como Engels já apontou no passado, a produção existente no sistema capitalista é completamente anárquica. Os capitalistas rapidamente abandonam aquilo que não vai lhes dar um retorno financeiro imediato, apenas para retomar esse setor da economia quando lhes convir, para grande sofrimento da população. Em segundo lugar, há grande pressão contra o investimento em fontes de energia “tradicionais” especialmente devido à pressão até mesmo apocalíptica de “cientistas” e ativistas defensores do meio ambiente. A pressão, naturalmente, fundamentada parcialmente na constatação do aquecimento global, é uma grande propaganda impulsionada por setores que apostaram antecipadamente na valorização acentuada de tecnologias como baterias e carros elétricos. O valor absurdo e totalmente especulativo da empresa Tesla é uma amostra disso.

A realidade é que, de acordo com levantamento do portal Our world in data, em 2020, apenas 28,98% das fontes de energia em todo o mundo eram “limpas”. Entram nessa categoria energia hidrelétrica, solar, eólica, entre outras tecnologias. Coloquei limpas entre aspas porque, apesar de não emitir quantidades significativas de gás carbônico, a energia nuclear não se enquadra nessa categoria.

Fica evidente, portanto, que as fontes de energia “sujas” não desaparecerão num piscar de olhos. A sua demonização, porém, se enriquece os especuladores que apostam na Tesla e em outras empresas, na prática, transfere o custo da transição energética de combustíveis fósseis para fontes menos danosas para o planeta para a classe operária mundial. Empresas como a Shell, Esson, e outras petroleiras, assim como as mineradoras, apesar de não estarem mais “na moda”, também não vão se sujeitar a pagar a conta do estrago ambiental que causaram e aumentam seus preços, transferindo tudo para as costas do consumidor.

E não para por aí. Com o uso de combustíveis fósseis em evidência, um dos principais tópicos a serem discutidos na COP26 será o “preço do carbono”, isto é, impostos a serem cobrados sobre produtos que contribuam com o aquecimento global. É claro que nenhum governo pode interferir na sagrada propriedade privada das petroleiras. A solução, então, é colocar os “incentivos” nos lugares certos para que os capitalistas corram atrás da “oportunidade” como uma horda de hienas. Enquanto a nova solução maravilhosa não está pronta, essa alta de impostos será repassada para a classe trabalhadora mundial, que paga o preço da anarquia capitalista que nos colocou nessa situação.

Escrevo essa coluna para provocar uma reflexão entre os ativistas pelo meio ambiente, em sua maioria alinhados à esquerda. Primeiramente, não devemos apelar para profecias apocalípticas para defender o programa de redução de emissão de gás carbônico. É preciso analisar as coisas com frieza e cientificamente, mas não seguindo a “ciência” dos marketeiros de Elon Musk e seus investidores. Em termos mais concretos, se combustíveis fósseis contribuem para o aquecimento global, eles não são todos iguais e o gás natural é uma fonte muito mais eficiente nesse sentido do que outras alternativas. Ademais, energia nuclear é uma fonte energética muito eficiente e seus riscos podem ser muito bem mitigados por um bom investimento em monitoramento e segurança das usinas.

Não há como efetivamente combater todos os desastres ambientais que enfrentamos sem acabar com a “anarquia da produção existente”. Precisamos envolver a população, os trabalhadores, e levantar um programa que leve em consideração a sua realidade. Ninguém quer voltar à época anterior ao descobrimento da energia elétrica. Além disso, há milhões de pessoas no mundo que não possuem acesso regular à eletricidade. Finalmente, nenhum trabalhador, que com dificuldades paga todas as suas contas no final do mês, quer aumento no preço de combustíveis ou na conta de luz.

Para lutar efetivamente contra o aquecimento global é preciso fazer com que os capitalistas paguem pela destruição que causaram. É preciso lutar pela expropriação de setores essenciais da economia, como a produção de energia. É preciso interferir na santidade da propriedade privada. Se defendermos o aumento de impostos contra a população, estaremos no caminho certo para a derrota.

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