Nos atos do dia 2 de outubro, pudemos finalmente presenciar a esquerda voltando às ruas em massa, aumentando em grande escala a quantidade de pessoas se compararmos com as últimas duas manifestações de agosto e setembro, que foram amplamente sabotadas pelas direções do movimento “fora Bolsonaro”. Essa sabotagem se deve, principalmente, aos partidos e organizações que estão comprometidos com a política de frente ampla. São esses mesmos setores que fazem questão de convidar os partidos da direita como o PSB, PDT, PSDB e muitos outros, para os atos.
No entanto, o último ato deixou ainda mais claro que os manifestantes rejeitam completamente a frente ampla e a participação da direita no movimento. Em pesquisa realizada pela USP, publicada no jornal O Globo, 43% dos manifestantes que estiveram presentes na Av. Paulista, em São Paulo, no último ato, consideraram que a esquerda não deveria se misturar com a direita nos atos pelo “fora Bolsonaro”. Outro dado interessante é que um a cada quatro manifestantes eram contrários à participação do PDT nos atos. Reparemos que o jornal da imprensa golpista não é nenhum esquerdista interessado em inflar os dados de rejeição do bloco da direita nos atos. Os números são, na verdade, um exemplo em menor escala do que o que de fato acontece nas ruas.
Ainda de acordo com a pesquisa, 78% dos manifestantes na Paulista disseram que irão votar no ex-presidente Lula. Para quem esteve presente nos atos que aconteceram em todo o país, a defesa de Lula era quase uma unanimidade. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, tive a oportunidade de organizar as faixas no nosso bloco vermelho, que reuniu os militantes do PCO, dos comitês de luta e um amplo setor do PT. Nessa ala vermelha, no bloco mais expressivo do ato, ecoava por toda a Av. Rio Branco palavras de ordem por Lula presidente. Ao chamado do nosso carro de som e nos batuques da bateria Zumbi dos Palmares, os manifestantes imediatamente respondiam euforicamente, fazendo o “L” com as mãos.
Ao percorrer por nossa faixa de 50 metros de “fora Bolsonaro” era impossível tentar disfarçar que a imensa maioria queria não só defender a candidatura de Lula, mas também expulsar elementos da direita como Ciro Gomes, que esteve presente no ato e foi duramente hostilizado pela militância. Nesses percursos, pude presenciar também que fora do nosso bloco, a política predominante era a mesma. Durante o ato, fui abordado pelo menos duas vezes por um certo camelô que vendia água por lá. Na terceira tentativa, já na chegando na Cinelândia, o mesmo me abordou mais uma vez. Achei curioso e comentei com ele que já era a terceira vez que ele vinha até a mim num período de poucas horas. Ele achou engraçado (e eu também) e disse que ele queria mesmo era um adesivo do Lula, pra colar no seu isopor. Ouvi de outros companheiros a mesma demanda pelo adesivo, por parte de outros camelôs, que inclusive elogiaram nominalmente o PCO.
A participação do bloco vermelho destacou que a campanha pelo “fora Bolsonaro” deve vir acompanhada de “Lula Presidente”. É um mecanismo que afasta imediatamente os elementos direitistas e radicaliza o movimento nas ruas. No Rio de Janeiro, foi montado um “Palco da Democracia”, unindo os elementos da esquerda e da direita golpista, que não leva ninguém para a rua. No chão, onde efetivamente estavam os manifestantes, o recado era muito claro: é Lula presidente e abaixo a frente ampla. A população não quer entregar a luta pela derrubada do golpista Jair Bolsonaro nas mãos dos partidos da direita tradicional, que promoveram o golpe de 2016. Os dirigentes da esquerda comprometidos com a frente ampla não podem determinar os rumos do movimento. É necessário definir a luta pelo “fora Bolsonaro” através da mobilização da base dos trabalhadores, que não querem nenhuma aliança com os golpistas.