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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Fim da livre concorrência

O imperialismo deu à luz a senhores feudais digitais

Não é só o Estado que cobra impostos...

No último dia de agosto, os dois maiores monopólios do mundo da tecnologia levaram um raro golpe contra seus interesses. Segundo reportagem do The Wall Street Journal o parlamento sul-coreano aprovou uma lei que bane a política de pagamentos imposta tanto pela App Store como pela Play Store, lojas digitais de aplicativos controladas respectivamente pela Apple e pelo Google. Para explicar o que isso significa, permitam-me uma breve digressão.

As duas gigantes levam 30% de comissão sobre todas as transações mediadas por suas plataformas incluindo venda de aplicativos (caso sejam pagos), venda de conteúdo dentro dos aplicativos e assinaturas. Há formas de contornar a prática abusiva. Empresas como Uber, Amazon, iFood, Airbnb e outras, que oferecem produtos e serviços alheios ao funcionamento do aplicativo estão isentas do imposto digital.

Outros monopólios, como Netflix e Spotify não vendem a assinatura de seus serviços por seus aplicativos de celular ou tablet. O usuário deve assiná-los pelo seu browser em seu dispositivo móvel ou em seu computador pessoal. Nesse caso, essa inconveniência pode ser uma barreira à compra do usuário, isto é, se o seu produto não for um dos grandes monopólios de streaming com o último filme da Marvel e a última música do Drake, provavelmente quem iria assiná-lo irá pensar duas vezes e, em muitos casos, desistir da compra.

A situação é ainda pior no caso mais simples: aplicações pagas. Para comprar um aplicativo pela Play Store ou pela App Store, o imposto é retido “direto na fonte”. Não há como vender sem pagar uma taxa ao senhor feudal que garante a lei e a ordem no espaço digital que abriga seu humilde aplicativo. No caso do Google há um fator atenuante: é possível instalar aplicativos num celular Android por fora da Play Store. Haverá algumas inconveniências como o seu sistema constantemente avisando que o aplicativo forasteiro pode ser um vírus, mas é possível. Já no caso da Apple, nada pode ser instalado sem passar pela App Store, a não ser que o dono do iPhone ou iPad tenha um certo conhecimento técnico e faça o jailbreak de seu dispositivo.

Recentemente, a “bondosa” Apple recuou em uma série de aspectos da sua política de pagamentos. Após processo no Japão, a empresa passou a autorizar o envio de emails aos usuários com instruções para formas de pagamento alternativa. No decorrer do longo processo iniciado pela Epic Games – produtora de um dos jogos de videogame mais jogados no mundo, Fortnite -, que questiona o monopólio sobre vendas digitais em iPhones e iPads, a empresa comandada por Tim Cook passou a cobrar “apenas” 15% de desenvolvedores de aplicações que faturem até US$ 1 milhão por ano. Não atende o caso da Epic Games, que ainda continua na justiça norte-americana contra a Apple, mas serve como demagogia.

A nova lei sul-coreana, porém, deveria eliminar completamente o monopólio das lojas digitais forçando os desenvolvedores dos sistemas operacionais a fornecerem meios de pagamentos alternativos. Digo “deveria” porque nunca se sabe do que são capazes os advogados de grandes monopólios. Os representantes do Google e da Apple já se apoiaram em argumentos como “custo de manutenção da plataforma” e “garantia de segurança dos usuários” para justificar suas práticas monopolistas.

Esse episódio, na minha opinião, deixa claro como uma tecnologia como a internet tem suas capacidades completamente tolhidas e distorcidas pela fase imperialista do capitalismo em que nos encontramos. Isso não é uma defesa de monopólios igualmente nefastos como o Netflix, o Spotify e a própria Epic Games. Mas apenas ilustra uma disputa entre os senhores feudais modernos que lutam para cercar suas zonas de influência digitais.

Todos eles cobram impostos. O Uber, o iFood e similares extraem 20% de todas as corridas do trabalhador que já tem que arcar com a aumento no preço da gasolina. O Spotify extrai até a última gota de suor dos músicos, principalmente os menores, que necessitam de centenas de milhares de visualizações de suas músicas para ganhar alguns trocados. O Steam, monopólio de venda de jogos de computador, cobra tarifas abusivas de desenvolvedores e entrega um serviço arcaico, péssimo do ponto de vista de quem está tentando vender na plataforma (digo isso por experiência própria!).

Disputas legais à respeito dessas práticas mostram como o Estado capitalista da época imperialista serve apenas como um mediador entre os interesses dos monopólios. Se um prejudica muito o outro, o Estado intervém, mas, no final das contas, sempre há um novo vencedor, um novo monopólio para governar todos. No sistema capitalista, os bilhões de consumidores e trabalhadores autônomos que circulam nas plataformas provavelmente estarão sempre sujeitos a tarifas e regras impostas pelos senhores dos espaços digitais e pouco poderão fazer à respeito.

Desse ponto de vista, a diferença entre o monopólio e o Estado é quase nula. As empresas impõem as tarifas que bem entenderem, uma vez que estejam de acordo entre si, e até mesmo definem regras sobre o que pode e não pode ser dito dentro de seus espaços, como é o caso de redes sociais como o YouTube, o Facebook e o Twitter. Mas esse aspecto da Magna Carta dos lordes digitais fica como tema para outra coluna.

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