Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Amazônia

Bofes dos EUA

Articulista da Revista Fórum defende a entrega do patrimônio nacional para o imperialismo

Leonardo Boff escreveu artigo para a “Indefectível” Revista Fórum sobre a necessidade do Brasil entregar a Amazônia ao “mundo”, na verdade, leia-se IMPERIALISMO. De acordo com Leonardo Boff, “o Brasil, no máximo, possui a administração da parte brasileira (67%) e o faz de forma irresponsável. Caso a Amazônia fosse totalmente abatida, todo o sul do Brasil até o norte da Argentina e do Uruguai se transformariam lentamente numa savana e até, em alguns lugares, num deserto. Daí a vital importância desse bioma multinacional”.

A título de 2/3 do território ser “mal administrado” (Estados, Municípios, organizações paraestatais e movimentos sociais, além do próprio povo da Amazônia), Boff sugere que devemos entregar mais da metade do país aos estrangeiros. Trata-se de uma proposta indecente e nefasta, típica da “intelectualidade brasileira” mainstream. Não faz sentido.

A Amazônia em um sistema em crise permanente

O capitalismo é um sistema em crise permanente, que tenta criar mecanismos de reformas para favorecer a burguesia em momentos críticos. Neste momento se discute mais intensamente a política distribuição de recursos entre os capitalistas, sendo utilizado como ferramenta de especulação, impondo aos territórios agendas de controle territorial. 

No Brasil, o debate sobre a “internacionalização da Amazônia” ou entreguismo por parte da esquerda pequeno-burguesa, foi retomado após as mortes de dois suspeitos de espionagem ambiental, Dom Phillips e Bruno Pereira. Nenhum dos dois realizou, concretamente, um trabalho para melhorar a vida dos índios, mas o imperialismo quis tentar fazer crer que sim.

Phillips, estrangeiro, era jornalista da imprensa imperialista, levava informações sobre povos isolados a fim de facilitar a conquista por parte do imperialismo. O segundo, onguista, ex-funcionário da Funai, trabalhava para ONGs, que fazem parte de um sistema multinacional ambiental, braços da USAID biodiversity

Como expressão da sociedade civil (fundamentalmente encarnada pelas classes médias) e como prolongamento do braço social do Estado mínimo (ou forma que o Estado adquire na atualidade) vem à luz um onguismo triunfante. Sua forma de intervenção ou de atuação social, em conjunto, não persegue transformações estruturais senão medidas paliativas e maquiadoras da ordem social imperante, mas sem levar sequer ao reformismo, dado que suas intervenções são pontuais e destituídas de qualquer projeto integrador sócio-político, gerando ou assegurando clientelas dependentes ao contribuir com a descapacitação, submissão ou dissolução dos movimentos populares ou formas de intervenção autóctones. O onguismo colabora, assim mesmo, na auto-exploração das populações (através do reforço e divulgação de formas de ‘auto-ajuda’, ‘voluntariado’ e ‘economia social’ muito promovidas desde o âmbito de poder econômico político). Contribuindo, em suma, para a substituição das políticas sociais e direitos duramente conseguidos por assistencialismos de um ou outro tipo, e coadjuvando em geral, a aceitação da inevitabilidade da ordem dada . (PIQUERAS, 2000, p.17).

Phillips e Ribeiro são mais um capítulo de uma trajetória de luta pela fronteira (front) mais disputada do mundo, a Amazônia. Esse front foi extraoficialmente delimitado pelos Estados Unidos no século XIX, no contexto da Doutrina Monroe, por intermédio do documento elaborado em 1853 por Matthew Fontaine Maury, na obra The Amazon and the Atlantic Slopes of South America. Maury elaborou um plano de navegação fluvial internacional, a fim de obter o controle sobre a rede hidroviária.

Para estabelecer a República internacional da Amazônia, Maury argumentou, em sua obra, que nenhum dos cinco países amazônicos eram capazes de controlar o ímpeto do Brasil em expandir suas fronteiras, dada a capacidade do Império brasileiro em termos de poderio militar e político no cone sul. O tamanho do território brasileiro é o grande destaque do imperialista Maury, que diz que a bacia hidrográfica deve pertencer a quem pode liderar seu ordenamento jurídico e político, e neste caso o Brasil não é considerado por Maury como capaz de organizar suas águas e seu próprio território, bem como integrar países atrasados na América Latina. Maury afirma que a questão não é somente liberalismo político, mas das “portas abertas” na Amazônia. De acordo com o Contra-almirante é necessário fazer os rios livres:

“Suponha que as cinco repúblicas hispano-americanas criem uma ou mais cidades fluviais sobre os portos do Amazonas para o comércio; e suponha que o Brasil, em vez de vencer três mil quilômetros ou mais deste rio, ultrapasse rapidamente as fronteiras dessas repúblicas. Deste modo, o Brasil, em tal caso, teria o direito de controlar a navegação de todo o rio e seu vale…”.

No livro é apresentado o seguinte mapa, que estabelece o expediente do exagero cartográfico, a fim de demonstrar o poder do Brasil e do “Vale da Amazônia”:

A intervenção de Maury ocorreu após a presença do alemão Humboldt, que realizou uma expedição desde o Orinoco, para explorar a possibilidade da existência de ouro na Amazônia e o nível de dificuldade ou facilidade de comunicações, via rede hidrográfica, além do levantamento de espécies úteis ao desenvolvimento industrial europeu. Humboldt tinha executado a seguinte cartografia do trajeto realizado na exploração.

Essa política do imperialismo é muita antiga, como podemos ver, mas a novidade não é mais expedições ou missionários adentrando o território, mas, com onguistas, jornalistas e partidos políticos de esquerda pró-imperialista como o PSOL, por intermédio de Sônia Guajajara (por exemplo), que tomam a dianteira do projeto imperialista, por dentro.

USAID e o lobby onguista

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (United States Agency for International Development, USAID) é o órgão americano para dominação do mundo e estabelecimento da forma de vida norte-americana. Todas as políticas culturais, educacionais, ambientais, alimentares etc. passam pela USAID.

Para o meio-ambiente a situação é bastante grave, assim como todas as ordens dadas pela USAID, pois o lobby onguista tem presença na Amazônia muito superior a qualquer bioma, não só pelo tamanho da região, mas pelas riquezas da terra. Inúmeras ONGs formulam a política conjuntamente com a USAID, muitas delas brasileiras.

Afirma a USAID sobre o setor de “biodiversidade”:

A conservação é uma tradição americana que cria e sustenta oportunidades econômicas e protege as plantas, animais e lugares naturais que as comunidades precisam para prosperar. Ao investir nas áreas prioritárias de biodiversidade do mundo, a USAID ajuda as pessoas mais vulneráveis do mundo a garantir melhores resultados de saúde e bem-estar, gerenciando e conservando sua riqueza natural.

A USAID Continua:

Orientada pela Política de Biodiversidade e Pelo Quadro de Gestão ambiental e de recursos naturais da Agência, a USAID atua em aproximadamente 60 países para conservar a biodiversidade, alavancar fundos do setor privado, combater o crime de conservação e apoiar a pesca sustentável. O trabalho da USAID é mais crítico do que nunca: a natureza está em declínio a taxas sem precedentes na história humana e estima-se que 1 milhão de espécies vegetais e animais enfrentam a extinção. Os declínios na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos ameaçam minar o progresso já alcançado em direção a muitos objetivos de desenvolvimento global e nossa capacidade de apoiar efetivamente as economias dos países parceiros, a saúde global, a segurança e as capacidades de adaptação a um clima em mudança. A USAID investe na conservação da biodiversidade porque: Aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo dependem de florestas para seus meios de subsistência, especialmente os pobres rurais; A perda de biodiversidade aumenta os riscos de doenças e má nutrição; Setores ambientais, como silvicultura e pesca, são importantes pontos de entrada para o empoderamento econômico das mulheres; A biodiversidade mantém os solos férteis, pragas agrícolas sob controle e apoia polinizadores que sustentam e melhoram a segurança alimentar através do aumento da produtividade agrícola; O combate ao crime ambiental e à corrupção nas comunidades rurais melhora a segurança e as oportunidades de subsistência legal.

Trata-se de uma das agências mais cínicas do imperialismo, que dita o lobby amazônico, explorando o território como piratas, surrupiando as riquezas do país. Por isso, é necessário que o país pense em uma ocupação organizada, planejada, que definitivamente constitua uma Amazônia para os brasileiros, com políticas públicas que impeçam a entrada e a atuação de ONGs.

A entrada desses piratas onguistas, em um território que representa 2/3 do país, por meio de um softpower persistente, precisa ser banida. A verdade é que ONGs não preservam ou conservam o bioma amazônico. O que há é dominação, exploração, violação dos povos da Amazônia, reprodução da pobreza e da miséria.

Com políticas públicas podemos beneficiar índios, mestiços e todos os habitantes brasileiros, desenvolvendo forças produtivas próprias, com ativação de hidrelétricas, usinas nucleares, extração de petróleo e gás, além de determos uma rede hidroviária capaz de promover o Brasil e a América Latina integrada, territórios que façam frente ao imperialismo. Não é mais possível ler ou ouvir as bobagens de Leonardo Boff e ficarmos quietos. É preciso reagir.

Referências

PIQUERAS, Andrés. Del movimento obrero a las ONGs? El fin de una utopía coletiva? In Nuestra Bandera, nº 186, Madrid, 2000.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.