Por Victor Assis
O último balanço oficial dos casos de contaminação pelo coronavírus, divulgado ontem (16) pelo Ministério da Saúde do Brasil, traz os seguintes números: 234 pessoas testaram positivo para o vírus, 2.064 casos permanecem suspeitos, 18 pessoas estão hospitalizadas e já há registro da doença em 16 estados. Em comparação a outros países, a situação do coronavírus ainda é embrionária — no entanto, rapidamente, em questão de poucos dias, os casos deverão chegar aos milhares.
O avanço da doença, caracterizada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem causado pânico. E não é para menos: na Itália, maior alvo do coronavírus na Europa, mais de 2 mil pessoas já vieram a óbito. O desespero, inevitavelmente, está levando a um aprofundamento generalizado da crise capitalista mundial: vários economistas burgueses já vieram a público prever um cenário pior do que o da crise de 2008, bancos estão ameaçando de falir e nenhuma perspectiva de melhora é apontada nem mesmo pelo mais otimista dos capitalistas.
O coronavírus, contudo, só conseguiu avançar tão depressa e causar um estrago tão grande — 170 mil casos confirmados e 7.074 mortes em todo o mundo — por causa da devastação provocada pela política neoliberal nas últimas décadas. A situação da Saúde Pública, do Saneamento e das condições de moradia é cada vez pior: em nome dos interesses dos grandes bancos, os trabalhadores estão largados ao descaso total. Nesse cenário, qualquer doença se espalha com facilidade — no Brasil, por exemplo, os números colossais de contaminação pela dengue, entre outras doenças, são uma demonstração disso.
A contribuição da política neoliberal para o coronavírus, no entanto, não é o de apenas facilitar que o vírus se espalhe rapidamente pelos cinco continentes. Na medida em que causa a destruição de tudo aquilo que é de interesse dos trabalhadores, a política neoliberal tece um destino muito sinistro para a humanidade: o da total falta de assistência no combate à doença e, consequentemente, das pilhas intermináveis de cadáveres vitimados por um vírus que poderia ser enfrentado de uma maneria séria.
As mortes por falta de assistência médica, que aumentarão rapidamente no Brasil diante do total sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS), são já bastante conhecidas. E, dentre as maiores vítimas do descaso na Saúde Pública, estão, como sempre, nós, os negros, setor pisoteado pela sociedade capitalista em todos os aspectos.
Qualquer pesquisa que aponte as contradições entre brancos e negros mostrará índices que vão de 75% a 80% de negros entre a população mais pobre. O inverso, por sua vez, também é comprovado: de 70% a 80% dos mais ricas são brancos. A desigualdade é explícita e toma as mais variadas formas, como, por exemplo, o “radar” desenvolvido pela Polícia Militar. Não teria como a segregação, conscientemente promovida pelos capitalistas para maximizarem seu lucro, deixar de ter seus impactos na saúde.
No Brasil, 80% da população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) — isto é, que não tem condições de pagar um plano de saúde — são negras. Sob o governo Bolsonaro, que não está minimamente disposto a gastar o dinheiro dos capitalistas com a saúde pública, é mais que previsível um colapso do SUS e, consequentemente, um colapso da assistência médica ao povo negro.
Diante desse desastre anunciado, é preciso que o povo negro, junto com os demais explorados, forme uma frente única de luta pela derrubada imediata do governo Bolsonaro. Apenas por meio de uma luta contra a direita, que obrigue os capitalistas a pagarem os custos da pandemia que eles próprios criaram é que será possível impedir que milhares e milhares de negros sejam assassinados pelo cornavírus no Brasil.