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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Linguística

André Constantine e o tom da fala

Além de um estilo pessoal, característico do companheiro Constantine, suas falas expressam também a linguagem própria de uma comunidade

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Seraphim Pietroforte

              Sou professor de linguística, nas aulas de introdução ao curso, um dos primeiros tópicos estudados é o do preconceito linguístico, quando se debate a linguagem de dois pontos de vista: (1) o normativo, aquele em que o conceito de língua coincide com o de bem falar e bem escrever, restringindo a língua a uma série de regras; (2) o descritivo, em que as línguas são entendidas enquanto conjuntos de falares distintos realizados em um mesmo idioma, de modo que nenhum deles se sobrepõe aos demais. Isso precisa ser explicado melhor. Via de regra, nos ensinos fundamental e médio, boa parte das aulas de língua portuguesa é tomada por tópicos do chamado uso correto da língua, em que se aprendem regras de ortografia, de colocação pronominal, vocabulário básico etc., aulas cuja finalidade é o conhecimento da norma culta da língua, com vistas à leitura, comunicação e expressão. A norma culta é um bem comum, trata-se de uma construção linguística, cuja função principal é a unidade política nacional. Embora importante, a norma culta não pode ser confundida com uma linguagem pura, cuja realeza se impõe acima dos demais registros da mesma língua. Do ponto de vista descritivo, em vez disso, busca-se descrever a gramática própria de cada um desses registros, evitando, assim, o preconceito linguístico.

              As línguas variam? Sim, basta prestar atenção nos sotaques de cada região do Brasil para se verificar isso. Assim, enquanto os paulistanos se valem do /r/ pronunciado com a ponta da língua ao encontro dos dentes superiores, os paulistas o pronunciam com a ponta da língua ligeiramente recuada para o céu da boca, enquanto os cariocas o exprimem com uma aspiração na garganta. A morfologia também varia, nem todos os falantes conjugam os verbos do mesmo modo – haja vista a utilização dos pronomes “tu” e “você” entre paulistanos, cariocas e gaúchos –; o vocabulário também não é o mesmo para todos – abóbora / jerimum, mandioca / aipim etc. –. Essas variações, porém, não se limitam às relações gramaticais, elas envolvem os usos sociais da língua, quer dizer, os tons da fala e as vocações dos discursos; deve-se prestar atenção também nos significados desses discursos, isto é, o que se diz com a língua.

              Em suas entrevistas, o escritor Plínio Marcos costumava afirmar, quando censurado por suas posturas diretas e contundentes, ser a educação uma “coisa da burguesia”. Plínio Marcos tinha razão, a educação formal é “coisa da burguesia”, ela serve para o respeito alheio, mas também serve para ocultar as práticas hediondas dessa classe social em suas “falas mansas”. Ora, a norma culta, além de abranger a gramática e o vocabulário, também incide sobre a entonação, os temas do discurso, enfim, trata-se de normatizar todos os usos da linguagem, inclusive seu registro supostamente educado, isto é, o falar burguês. Se há, portanto, outros registros além da norma culta, cabe a qualquer comentarista político, seja jornalista, professor ou militante, levar em consideração a sociolinguística dos debatedores e não pretender traduzir tudo nas normas burguesas de seu bem falar ou bem escrever, supostamente melhor educados. Desse ponto de vista, o das variações da linguagem e de seus modos de expressão, as falas das comunidades periféricas podem não gozar da mesma educação burguesa, elas, todavia, dispensam a hipocrisia preferindo a sinceridade, sendo, por decorrência, porque são diretas e objetivas, tidas por mal-educadas por burgueses alegadamente bem esclarecidos.

              Com tudo isso, com toda essa conversa de professor, espero contribuir para defender o óbvio, que as falas do companheiro de luta André Constantine não são e nem pretendem ser “educadas”, “educação” do ponto de vista da burguesia, inclusive da esquerda pequeno burguesa, elas estão distantes da “fala mansa” dos funcionários do IREE ou do STF. Além de um estilo pessoal, característico do companheiro Constantine, suas falas expressam também a linguagem própria de uma comunidade, cujas agressividades da expressão não chegam sequer aos pés da violência dos conteúdos criminosos das falas da burguesia, porém sempre bem escritos e melhor educados, com suas ameaças de lançar os cachorros da justiça burguesa em cima de quem se levantar, educadamente ou não, contra os senhores corteses.

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