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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Aos 67 anos

Adeus ao Ota…

Cartunista teve a coragem de retratar os monstros da ditadura militar em sua obra

No dia 24 de setembro, passeando pelas redes sociais, encontro, nas postagens do companheiro Pablo Carranza, uma triste nota lamentando o falecimento do cartunista e quadrinista Ota, o Otacílio Costa D’Assunção Barros, aos 67 anos de idade. O Pablo é uma pessoa bem-humorada e isso aparece nos seus quadrinhos; quem já leu Smegma, acompanhando as aventuras do Rivalino e do Chupa-Cabra, ou seu último trabalho, Podrão aniquilação, reconhece o riso, embora sarcástico. Naquele dia, porém, ele estava profundamente triste e fez várias postagens nas quais elogia publicamente o amigo Ota, lamentando a falta que faria seu mestre. Eu não conheci o Ota pessoalmente e nem conheço em detalhes seus trabalhos artísticos, por isso mesmo, deixo para seus companheiros de vida mais próximos, como foi o Carranza, a sinceridade do luto. Entretanto, quando percebi, entre suas atividades de editor, a revista Spectro, senti necessidade de escrever.

A maioria dos leitores de HQ se lembra, evidentemente, da revista Mad e de seu criador, Harvey Kurtzman, publicada no Brasil pela editora Vecchi, cuja versão era da responsabilidade do Ota. Também da mesma editora, embora menos conhecida, era a revista de terror Spectro, outra publicação organizada pelo Ota. Não vou me perder, porém, em listar seus trabalhos enquanto editor de HQs; detenho-me apenas na Spectro e quando vi, pela primeira vez na vida, com então meus anos 14 de idade, a ditadura militar brasileira de 1964 e suas práticas hediondas de tortura tematizadas em uma HQ. A história se chama O Ogro, de Julio Shimamoto, e foi publicada na Spectro nº8, de novembro de 1978. Na aventura de terror, o Ogro, um monstro execrável, aterroriza a cidade de São Paulo, desafiando o Conde Drácula, exterminadores de monstros e policiais militares, chefiados por torturadores. Não se trata de um conto, vale lembrar, trata-se de uma HQ, cujas cenas de tortura não são imaginadas, por meio de descrições com palavras, mas vistas em imagens contundentes, nas quais os prisioneiros, dependurados em paus-de-arara, agonizam em meio a cacetadas, eletrochoques e queimaduras de cigarros, cercados por torturadores.

É necessário ter coragem para denunciar tudo isso? Hoje, quando aqueles criminosos da ditadura militar estão mortos, talvez nem tanto; na década de 70, contudo, por muito menos, pessoas perderam a vida, o próprio Shimamoto foi preso em 1969, testemunhando as cenas de horror nos porões da ditadura, desenhadas em suas histórias. Assim como eu, creio que muitos adolescentes também foram levados à consciência política não pelo Ogro, nem pelo conde Drácula, mas pelos verdadeiros monstros da história, aqueles torturadores.

Por isso mesmo, quando li a nota do Carranza, senti-me comovido pela compaixão com o amigo, de quem admiro o trabalho, entretanto, à medida que ia tomando conhecimento das atividades do Ota, quer pelo próprio Carranza, quer por outros cartunistas e quadrinistas, e li as menções sobre a Spectro, de quem fora leitor assíduo, minha comoção ganharia outros contornos e a figura do Ota, outros desenhos (aqueles da coragem e da consciência política). Que a terra lhe seja leve…

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