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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

─ Aaaahhh!!!!

A vida proibida de Mel Gardot

A história secreta de uma feminista que odiava homens, pero no mucho

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Ao fechar a porta do seu quarto, Sérgio sentiu-se relaxado. Deitou-se na cama e teve uma ideia: escreveria um conto. Seria baseado nas suas experiências no movimento feminista. Militante político, conheceu de perto companheiras que, confusas em suas ideias, expressavam-se publicamente de maneira surpreendente ─ principalmente para quem as conhecia fora da vida militante.

─ Vou escrever sobre Melissa Bergonha. Ela será a personagem principal. Mas não posso utilizar seu nome. Será uma personagem fictícia que representará Melissa, como retrato da feminista média do tipo que conheci ─ pensou. ─ Seu nome será Mel Gardot.

Ligou seu notebook, sentou-se à sua mesa e começou o conto.

“Mel Gardot era uma feminista radical. Militava no movimento havia três anos. Filha de um médico e uma psicanalista, acabara de se formar em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Lá, conhecera suas colegas de movimento.”

─ Preciso tomar meu remédio, já ia quase me esquecendo ─ lembrou Sérgio.

“Mel pregava o combate total contra os homens ─ “machos”, como se referia a eles. Aqueles que diziam-se feministas não passavam de impostores que também deveriam ser repudiados. A organização da jovem não aceitava a participação de homens nem mesmo nos protestos.

─ Todo sexo com penetração entre um homem e uma mulher é um estupro, disse em uma discussão de corredor, com suas amigas, atacando um rapaz que passava e tentava discutir com elas. ─ Sai macho, quem você pensa que é para falar sobre nós, mulheres? Cadê a sua boceta?

Nas redes sociais, ela era ainda mais incisiva. No grupo de alunos da FFLCH, do qual ainda participava, certa vez ela entrou em um debate aleatório com alguns estudantes. No começo, todos foram educados. Mas Mel, indignada com as posições supostamente machistas dos debatedores, iniciou ataques mais agressivos. Chamada de histérica, escreveu:

─ VAI PARA O CARALHO QUE TE FODEU!

O que soou como uma contradição em seu discurso, até aquele momento uma defesa de que o pênis era, justamente, uma arma utilizada por qualquer homem contra uma mulher.

─ Todo homem é um estuprador em potencial, afirmara.”

Sérgio passou a mão nos cabelos.

“─ Eu acho que as mulheres, naturalmente, têm muito mais direito do que os homens de opinar sobre as questões feministas, comentou um membro do grupo.

─ Essa é a prova do quão misóginos vocês são. Ignoram completamente uma mulher que está aqui discutindo há meia hora, mas é só aparecer um macho que finge que é feminista para dizer alguma coisa “a favor” de nós, mulheres, aí vocês o escutam.

Mel começou a ferver e a chorar. Impulsiva, bloqueou todos os estudantes que participavam da discussão e saiu do grupo.

Algumas amigas de Mel não depilavam as pernas nem o sovaco. Mas Mel, Amanda, Carol e Juliana depilavam. Ninguém as havia questionado sobre o motivo.

A esmagadora maioria das militantes da organização era assumidamente lésbica. Trocavam figurinhas no WhatsApp que representavam pênis sendo enforcados, decapitados ou esmagados. Buscavam imitar as coreografias do Femen em seus protestos públicos.

Mas Mel tinha um segredo que não contava para suas amigas. Ninguém do movimento o conhecia.”

Sérgio coçou a perna e acendeu um charuto.

“Quando chegava em casa ─ já morava sozinha àquela altura, 23 anos ─, entrava em seu quarto e acendia a luz. Cor-de-rosa, as paredes eram forradas de pôsteres com homens nus, em posições sensuais. Seu abajur era em formato fálico, tal como a maioria dos objetos que decoravam as estantes.

Deitada na cama, Mel marcava encontros noturnos no centro da cidade. Ia à casa dos homens que acertavam com ela, ou de vez em quando a algum motel.

─ Aaahh, aaaah, aaaah!!

─ Tá gostando?

─ Me fode mais!

─ Hmmm.

─ Forte, mais forte!!

─ Olha pra mim, Mel!

─  Me chama de puta!

─ Olha pra mim, sua puta!

─ Me come todinha, meu macho!

Ao menos quatro vezes por semana, Mel tinha um encontro como esse.

O ódio mortal pelos homens nada mais era do que uma fachada que escondia sua paixão proibida e altamente libidinosa por esses mesmos homens.

Magra, 1,61 de altura, branca, olhos azuis, cabelos negros bem curtos e um bumbum respeitável, era extremamente lasciva. Tinha nas costas uma tatuagem de Shiva e, no ombro esquerdo, uma rosa vermelha. Gostava de BDSM, pedia para ser amarrada, acorrentada e chicoteada. Seus tipos favoritos eram negro e italiano. Ainda tinha uma tara por japoneses e skinheads. Mas comia de tudo. Era gulosa a moça. Certa vez, organizara uma orgia com quatro skinheads gays. Completamente submissa, entregue ao seu dominador, fazia strip-tease, rebolava, ficava de qu…”

─ Trrriiiiiimmmm! ─ tocou a campainha do apartamento de Sérgio. O zelador deixara uma carta por debaixo da porta. Recolheu a conta do condomínio, deixou-a em cima da mesa da sala de estar e voltou para o quarto.

“Mel fazia um boquete muito elogiado por seus parceiros. Estava começando a experimentar sexo anal. Sempre levava muitos brinquedos, além daqueles usados para BDSM, em seus encontros.

─ Hoje a sua cadelinha quer bastante tapa na cara. Me espanca!

Muitos homens adoravam, mas outros ficavam assustados com a fome da menina.

─ Goza na minha boquinha, vai?”

Sérgio escreveu sua história em uma noite. Ficou em dúvida se enviava para algum amigo dar uma olhada. Talvez fosse antiético publicá-la. E se Melissa reconhecesse?

─ Talvez isso não ocorra. O apelido dela nem é Mel, é Chana ─ refletiu. Elas se chamavam pelos apelidos. Mel era Chana, Ana era Bubu (de boceta), Gabi era Vênus e assim por diante.

Sérgio tomou coragem e enviou o conto para o blog de um amigo, que sempre publicava seus textos. A história foi publicada numa quarta-feira à tarde, com o título de “De dia é feminista, de noite é…” e se espalhou rapidamente pelas redes sociais. Em dois dias, recebeu 191 comentários. Muitas pessoas o procuraram no Facebook e Instagram, a maioria mulheres do movimento feminista.

─ Fui cancelado por um conto. Fui cancelado por uma ficção ─ postou o jovem auxiliar administrativo, de barba sempre por fazer, óculos redondos e barriga que denunciava suas bebedeiras de final de semana.

Grupos feministas radicais, como o de Melissa, organizaram um escracho público na frente do escritório onde Sérgio trabalhava. Haviam descoberto o local de algum modo. ─ Um traidor? ─ pensou.

Na segunda-feira seguinte, pela manhã, 22 feministas compareceram ao protesto. A representante da Marcha das Vadias havia tido uma crise existencial e não participou. Com tintas vermelhas, representando o sangue menstrual, com os peitos de fora, com cruzes que seriam inseridas em seus orifícios anais (influência do Femen), elas começaram a coreografia.

─ Machista! ─ gritou uma manifestante.

─ Misógino ─ bradou outra.

─ Macho escroto ─ acusou uma terceira.

─ Esquerdomacho ─ berrou mais uma, cuspindo no chão.

Artemisa, oradora oficial do ato, realizou um forte discurso denunciando Sérgio.

─ Todas nós fomos estupradas. Isso é uma afronta à dignidade da mulher. Mas nós já estamos acostumadas a ser tratadas desse jeito por essa sociedade patriarcal. Você vai pagar, macho, você vai pagar por isso. Você, um homem branco, cis e hétero. Que nos oprime e nos humilha. Já estamos entrando com um processo na Justiça contra você. Espero que vá preso!

Nas redes sociais, conseguiram levantar a hashtag #PrisãoParaMachista. Sérgio recebeu ameaças de morte, com seu pênis decepado, esquartejado e queimado.

─ Eu já havia publicado histórias de freiras depravadas, muçulmanas libertinas e operárias promíscuas. Por que só agora vieram encher meu saco? ─ indagou-se, pensativo. O ano era 2017. “No ano passado, 203 mulheres morreram por aborto inseguro, segundo o SUS”, dizia a notícia que Sérgio estava lendo. “Entre 2010 e 2016, foram realizados 500 mil abortos por ano, sendo apenas mil efetuados de forma legal”.

─ Centenas de mulheres morrem por ano porque o aborto é ilegal no Brasil ─ refletiu, olhando no espelho e tocando os pontos em sua testa, rasgada pelo ataque de uma feminista.

Nunca mais veria Melissa. Ou melhor, Chana.

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