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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Decadência

A velha política

Na medida em que a polarização política aumenta, a burguesia necessita, cada vez mais, que pessoas de sua mais extrema confiança estejam no comando

A Folha de S.Paulo, trazendo consigo a esquerda pequeno-burguesa de conjunto, soltou fogos de artifícios com a vitória eleitoral de Joe Biden, nos Estados Unidos. Com uma demagogia barata, que não engana absolutamente ninguém, o imperialismo afirmou que se tratava de uma derrota do “fascismo” e do “obscurantismo”, como se uma onda progressista tivesse atingido seu mais importante país.

Não foi uma grande vitória. Trata-se, como tudo mais que diz a imprensa burguesa, uma grande farsa. A vitória de Biden, em condições abertamente conspirativas, com várias evidentes de fraude, é uma grande demonstração de fraqueza. O imperialismo está cambaleante, de modo que precisa de manobras estrambólicas para conseguir eleger o seu representantes.

Não bastasse a censura a Donald Trump nas redes sociais, os investimentos bilionários dos financistas de Wall Street, a suspeita de adulteração as urnas nos estados governados pelos democratas, os votos pelos correios e a baixa votação de Biden mesmo com todo o mundo conspirando a seu favor, a própria escolha de Joe Biden como candidato é uma demonstração de fraqueza. Significa que o imperialismo está em uma crise tão grande, mas tão grande, que só consegue confiar minimamente naqueles que são seus mais fiéis serviçais.

Governar qualquer país na atual crise não é para amadores. Por mais que um direitista se ajoelhe perante o imperialismo, isso não é suficiente para levar adiante a política neoliberal. É preciso ter o mais alto nível de inescrupulosidade e uma capacidade de articulação política tamanha que não aparece todo dia.

Joe Biden não é, neste sentido, um direitista qualquer. Não foi escolhido como novo presidente simplesmente porque foi o vice de Barack Obama. Biden é um dos mais importantes arquitetos do aparato de repressão e de guerra e dos Estados Unidos. Ele, inclusive, foi um dos responsáveis por toda a política do imperialismo na guerra do Iraque, e um dos articuladores externos do golpe de 2016 no Brasil.

Se Biden era o Cardeal de Richelieu do governo Obama, um homem que agia por trás das cortinas, por que ele foi trazido agora para o palco? Ora, porque, para o imperialismo, tratava-se de uma questão de necessidade. Para os monopólios investirem tão pesadamente, era preciso uma garantia de que o próximo presidente seria capaz de lidar com a crise.

O que o imperialismo fez com Biden é regra para todo o mundo. Na medida em que a crise se aprofunda, os velhos caciques da direita — e até mesmo os da esquerda, que são corrompidos pela burguesia para sustentar o regime — vão sendo cada vez mais convidados a intervirem na situação política. É por essas e outras, por exemplo, que Fernando Henrique Cardoso ainda não foi aposentado pela classe dominante.

Na última semana, tivemos um caso típico de como a direita necessita cada vez mais que os caciques controlem os partidos. No PSOL, partido que já levou alguns milhares de votos da classe média com o discurso picareta contra a “velha política”, uma política bastante velha foi escolhida como candidata à presidência da Câmara dos Deputados: Luiza Erundina.

A candidatura não tem qualquer chances de vitória. No entanto, a escolha de quem irá concorrer tem a sua importância: ganhará, após a votação, uma posição de “liderança” dentro do partido. Se, junto a isso, levarmos em consideração que Luiza Erundina foi a escolhida para ser candidata a vice-prefeita de São Paulo nas eleições de 2020, fica óbvio que há uma tentativa de promovê-la dentro do PSOL.

Erundina é exatamente o que poderia se chamar de uma “cacique” da esquerda. Eleita prefeita pela base operária do PT, Erundina acabou fazendo uma das piores e mais direitistas gestões que São Paulo já viu. Teve grande estaque, por exemplo, a dura repressão aos trabalhadores da CMTC, que estava sendo privatizada. Depois de prefeita, rompeu com o PT para ingressar no governo de Itamar Franco, do MDB, indo parar no partido burguês PSB. No PSB, Erundina se integrou ainda mais à burguesia, chegando a sair candidata à prefeita tendo como candidato a vice ninguém menos que Michel Temer!

É por isso que a burguesia está tão interessada em promover Luiza Erundina: para garantir que nem mesmo o PSOL, que é um partido de classe média, saia minimamente da linha. Afinal, mesmo Guilherme Boulos tendo mostrado muita disposição para defender a política da direita, continua sendo necessário alguém com “experiência” na velha política da direita.

Como o partido está apoiado em uma demagogia com um setor da classe média que se acha esquerdista — e muitas vezes que conserva algum rancor em relação ao PT —, o PSOL não conseguiu uma unidade em torno da eleição na Câmara dos Deputados. Os parlamentares mais integrados ao regime queriam apoiar Baleia Rossi (MDB) logo no primeiro turno, enquanto deputados mais esquerdistas, como Glauber Braga, queriam uma candidatura própria. A divisão do partido chegou a aparecer na imprensa burguesa…

Em uma crise como essa, nada melhor que a solução Erundina! No discurso, o PSOL apresenta como uma vitória de sua ala esquerda, uma candidatura própria que se contrapõe à política de Baleia Rossi. Mas, na prática, além de ser uma enrolação — já que a legenda apoiará Baleia Rossi no segundo turno —, trata-se da candidatura própria mais frustrante possível: a candidatura própria de quem mais defende a aliança com a direita golpista.

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