Nesta semana, o ex-presidente Lula fez um discurso histórico, em que chama os trabalhadores à luta para “pôr fim ao governo” Bolsonaro e se coloca à disposição de ser o candidato desta empreitada. A iniciativa de Lula é um marco na luta contra o golpe de Estado e aponta para uma necessidade histórica do movimento operário: a frente única. Mais, permite esclarecermos mais um tanto a tal unidade da esquerda.
Desde os tempos de movimento estudantil na universidade, como muitos outros companheiros, tive a recorrente dúvida do “por que a esquerda não se une”. Foi com esta dúvida que conheci o marxismo e busquei entender as causas da divisão da esquerda, que naquela época, como um leigo, aparentava um despropósito, algo que ajudava os ataques da direita golpista.
Foi no próprio estudo do marxismo, através dos diversos cursos, palestras, universidades de férias, do partido, que compreendi a natureza de tal divisão. Se a história da humanidade é a história das lutas de classes, a história do movimento operário é a da luta entre seus setores proletários contra seus setores pequeno burgueses. Foi assim com Marx e Engels, foi assim com Lênin e Trotski, foi assim com Cannon e eis nós aqui.
Logo, para falar em unidade, é preciso entender sobre qual base deve ocorrer a unidade entre setores dentro da classe trabalhadora que possuem programas totalmente distintos.
Para explicar situações que ocorrem hoje sobre a unidade da esquerda sobre o Fora Bolsonaro e sobre a candidatura de Lula, um dos textos que explica precisamente o problema é “Sobre a Frente Única” de Trotski, que compartilho com vocês:
“9. — Rompemos com os reformistas e com os centristas para ter liberdade para criticar as traições, a indecisão do oportunismo no movimento operário. Tudo que limitasse nossa liberdade de crítica e de agitação seria, assim, inaceitável para nós. Participamos na frente única mas não podemos nos dissolver nela em nenhuma hipótese. Intervimos como uma divisão independente.
Justamente na ação é onde as grandes massas devem se convencer de que nós lutamos melhor do que os outros, que vemos com mais clareza, que somos mais valentes e decididos. Assim aproximamos a hora da frente única revolucionária, sob a direção indiscutível dos comunistas.”
A campanha contra o golpe de Estado, nas mais diversas formas que tomou – pela anulação do impeachment, contra a condenação, prisão e cassação de Lula, pela sua liberdade e pelo Fora Bolsonaro – mostrou que a unidade da esquerda era, na maioria dos casos, demagogia, o que fez o movimento, em vários momentos, converter-se em dispersão.
Hoje isso está expresso na dispersão da maioria das direções da esquerda em torno da campanha pelo Fora Bolsonaro, onde os atos são organizados por apenas alguns setores, como o PCO, os Comitês, setores do PT, da CUT e do MST.
A disputa entre a paralisia dos setores pequeno-burgueses e a combatividade dos setores proletários, desta vez, também se dará, novamente (como em 2018), em torno da candidatura de Lula.
E mais uma vez, só é possível falar em unidade hoje, se a unidade for em torno de uma política que mobilize os trabalhadores para avançarmos na luta contra o golpe de Estado. A maneira de fazê-lo neste momento é claramente através da campanha pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas, por eleições gerais com Lula candidato e presidente. A postura de toda a esquerda diante desta situação, dirá quem faz parte de qual setor da classe trabalhadora e o colocará contra os interesses da classe operária.