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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Uma questão nacional

A última mensagem de Milton Santos ao movimento negro

Milton Santos criticou o identitarismo e o movimento woke

Grande parte do movimento negro dirá que não tenho lugar de fala para escrever sobre Milton Santos, pois na lógica do “colorismo” e do feminismo “radical”, sou homem branco cisgênero e representante do patriarcado. Longe de me considerar branco e como oriundo do curso de Licenciatura em Geografia, apaixonado por Psicologia da Educação, também dediquei um tempo de minha vida lendo Freud, que parte do princípio que o ser humano nasce bissexual. Feministas kleinianas (relativo ao revisionismo de Melanie Klein) vão me jogar tinta, pois muitas leram Freud por intermédio de autores pós-estruturalistas e revisionistas, a partir da ideia de Freud sobre “a inveja feminina no pênis” e o complexo de Édipo.

Milton Santos não era um revolucionário político, e sempre destacou nas entrevistas seu comprometimento com a ciência geográfica e o meio acadêmico. Contudo, construiu uma teoria revolucionária na Geografia brasileira ao longo de mais de 50 anos, sendo o geógrafo mais conhecido do Brasil e, juntamente com Josué de Castro, o geógrafo brasileiro mais conhecido no mundo. Quando digo que Milton Santos constituiu uma teoria revolucionária na Geografia, foi a criação de um método de análise geográfico.

Milton Santos também foi grande referência para os movimentos sociais, especialmente o movimento negro, tendo escrito inúmeras colunas e artigos sobre a temática do negro na sociedade e cidadania. Hoje, esses textos circulam inclusive em sites dos movimentos contemporâneos, até mesmo de grandes ONGs financiadas pela Fundação Ford, Open Society etc., reproduzindo o pensamento de Milton Santos. Assim como na Geografia, e mesmo no Marxismo, nenhum autor está imune ao erro de interpretação por outrém.

Nesta coluna de hoje não temos o objetivo de analisar o movimento negro, mas comentar parte da última entrevista de Milton Santos, antes de sua morte em 2001. A entrevista foi concedida à Sylvio Tendler, diretor do filme “Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá”. Não entrarei na resenha do documentário, mas comentarei um trecho da entrevista em que Milton Santos analisa os equívocos de parcela dos movimentos negros no início deste século.

Durante esta semana, com o início da cracolândia identitária na rede Globo, a estréia de mais uma edição do BBB, um reality show que pegou a veia de como explorar o identitarismo para dissimular a canalha ideologia burguesa, e também com o debate errático nas redes sociais, a respeito da coluna de Antonio Risério que foi considerado racista por leitores e jornalistas da própria Folha , curiosamente um veículo historicamente opressor de negros, mulheres e pobres.

Nesse caso da Folha, todos os movimentos que se colocam contra “a ordem vigente”, ou, mais precisamente contra o regime político, deveria pedir o fechamento da Folha ou a tomada deste meio de reprodução de classes a serviço dos bilionários brasileiros, mas aparentemente apenas reivindicam a saída do colunista. Não digo isso somente por esse colunista e esse caso, mas pelo conjunto da obra: Defesa da Ditadura Militar, manipulação das informações para as eleições de Collor e FHC e ter contribuído para o golpe de Estado de 2016 e sua manutenção até os dias de hoje, entre outras barbaridades. Comento sobre isso para denunciar mais uma vez que os movimentos identitários são movimentos em favor da manutenção do regime político. Vejamos o vídeo de pouco mais de um minuto sobre a previsão de Milton Santos e, logo mais abaixo, a transcrição do trecho.

Geógrafo Milton Santos previu justiceiros sociais no movimento negro
Trecho extraído do Documentário

De acordo com Milton Santos:

“Eu tenho um grande medo que aqui se reproduza essa história americana do crescimento separado, da produção de uma classe média e de uma pequena burguesia negra separada do resto da sociedade. Me dá a impressão que muitas coisas me mostram que estamos indo nessa direção no caso brasileiro. Isso me assusta muito. Às vezes a própria mídia negra que faz bem glorificar a população negra, mas que pode conduzir, de alguma maneira a uma atitude de orgulho na exclusividade e eu creio que isso não será uma boa coisa. O meu voto, o meu desejo é que os negros pudessem crescer para serem brasileiros iguais a quaisquer outros brasileiros. Quer dizer, eu vejo com muito mais simpatia a vontade de ser brasileiro. Sou brasileiro desde que nasci e vou morrer assim, mas o que quero ser é um brasileiro como outro qualquer que me respeitem, que me aceitem ou que me recusem como um brasileiro qualquer.”

Milton Santos faz dois alertas centrais: o mais importante é que precisamos pensar o território nacional e sua capacidade de desenvolvimento e poder e, consequentemente, um alerta à importação de um modelo de fazer política dos Estados Unidos. Esse “orgulho na exclusividade” tem relação clara com a busca de significativas parcelas do movimento negro, em estabelecer a “representatividade” do negro, e não combater por completo o regime político. Com isso, Milton Santos denuncia a capitulação de parcela do movimento negro, que fala em “racismo estrutural”, em fazer “tábula rasa” da História do Brasil, ao invés de combater o regime político em sua totalidade frente ao imperialismo ou, globalitarismo, para Milton Santos.

Creio que justiceiros sociais queiram buscar uma reinterpretação da fala de Milton Santos, buscar seus escritos e tentar contrapor a esse temor do geógrafo brasileiro, mas estarão fazendo incorrendo em profundo equívoco analítico, aprofundando no pântano a ideologia identitária e todo seu receituário de alterar a história do Brasil a partir de uma luta antinacional orientada a partir de think tanks dos Estados Unidos, como é o caso de Sylvio Almeida, que trabalha para um sem número de ONGs e empresas opressoras, mas que se posiciona diametralmente oposto à Milton Santos. De acordo com Sylvio Almeida, por meio de um tuíte reproduzido pelo DCM:

Particularmente, não vou gastar meu tempo e nem minha coluna para lidar com esse tipo de gangsterismo intelectual. Há polêmicas sérias sobre racismo, há uma situação geopolítica que demanda nossa atenção; há um disputa sobre a identidade nacional que vai se intensificar com o bicentenário da Independência, os 100 anos da semana de arte moderna; pandemia, copa do mundo e eleições cruciais para o destino do país. Muitos livros básicos dementem tudo o que estes articulistas têm escrito, de tal sorte que com eles não se deve gastar energia que possamos compartilhar, divulgar e comentar textos de gente realmente disposta a pensar. Para o resto é ‘Oi Rodrigo’. (No caso específico ‘Oi Antonio’).
Adendo: vejo aqui também os ‘progressistas’ que gastam mais tempo cobrando colunistas negros quando um branco escreve um absurdo do que comentando e compartilhando os artigos destes mesmos colunistas negros. Estamos de olho…”

Na realidade é Sylvio Almeida, atuante no IREE, think tanks, consultor de grandes corporações capitalistas para questões raciais e presença vip na imprensa golpista, inclusive na própria opressora Folha de S. Paulo, utiliza a superestrutura capitalista para orientar uma política de “reset” na História do Brasil e o estabelecimento da submissão do povo brasileiro ao imperialismo e reprodução de classe e miséria, especialmente dos negros.

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