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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

LINGUÍSTICA IDENTITÁRIA

A quem serve o “racismo linguístico”?

É difícil "higienizar" o vocabulário na marra, por mais que a esquerda pompom se esforce nesse sentido, mas, se a empreitada fosse bem-sucedida, que ganhos teriam os negros?

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No último dia 21 de novembro, Dia da Consciência Negra, boa parte da imprensa se dedicou a reproduzir cartilhas identitárias que vêm disseminando listas de palavras e expressões supostamente racistas da língua portuguesa. O espírito dessas matérias é sempre o mesmo: o texto dirige-se diretamente ao leitor, em tom professoral, e o adverte de que os termos devem ser extirpados do seu vocabulário.

Um desses textos, da BBC Brasil, publicado na Folha de São Paulo, acabou gerando confusão porque os leitores questionaram as fontes da matéria. A reportagem tratava como conhecimento certo o que não passava de versões fantasiosas da origem das expressões.

Quem tem um mínimo de conhecimento de língua sabe que encontrar a origem das palavras é uma tarefa muito complexa a que se dedicam alguns estudiosos, os quais são os primeiros a advertir da dificuldade de chegar a resultados seguros e, mais importante ainda, do risco de cair em esparrelas ou anedotas curiosas sem nenhum fundamento. Digamos que a reportagem caiu no tão falado “negacionismo”, pois, em vez de buscar ouvir os linguistas e historiadores, rendeu-se à propaganda identitária.

Quem já não assistiu a um vídeo de um homem negro supostamente africano dizendo estranhar o fato de tudo o que tem a palavra “negro” em português ser negativo? Há vários anos, a história circula com diferentes personagens dizendo a mesma coisa. Então vêm as interpretações de que “lista negra”, “mercado negro” e até “magia negra” fazem referência a pessoas de pele negra, o que só convence os ingênuos e os ignorantes. O adjetivo “negro” está associado à ausência de luz (“noite negra”), portanto à morte e também àquilo que se faz às escuras, não às claras (daí a ideia de mercado negro ou paralelo).

A expressão “inveja branca”, usada no sentido de “inveja boa”, “sem maldade”, também entrou nessas listas, pois associar o “branco” a uma “coisa boa” seria racismo. A apresentadora Ana Maria Braga teve de pedir perdão nas redes sociais por ter usado essa expressão, sob pena de ser cancelada por atitude racista ou até processada por injúria racial coletiva ou qualquer coisa do gênero. A cor “branca”, nesse caso, nada tem a ver com cor da pele; “branco” é a ausência de cor (veja-se a expressão “passar em branco”, que não é “positiva”), como se a inveja fosse desbotada de seu sentido negativo.

Até o verbo “denegrir”, que já existia no latim, passou a ser uma referência racial, segundo a etimologia identitária. Na verdade, está ligado à ideia de manchar um tecido (escurecer por mancha) e é dessa ideia de “manchar” que vem o seu sentido negativo.

Um dos exemplos mais curiosos talvez seja o da palavra “criado-mudo”, que os identitários vêm afirmando ser uma referência a um escravo (ou “escravizado”) que passava a noite mudo ao lado da cama de seu senhor para auxiliá-lo na eventualidade de este precisar urinar ou defecar. Consta que guias turísticos já vêm propagando essa história também.

A loja de móveis Etna, alguns se lembrarão, fez uma campanha publicitária há alguns anos, na qual divulgava essa anedota e assegurava à clientela que passaria a vender “mesas de cabeceira”, não mais “criados-mudos”. Tudo indica, porém, que “criado-mudo” seja uma simples tradução do inglês “dumbwaiter”, que é uma mesa de serviço portátil ou mesmo um elevador de transporte de refeições. Independentemente da origem, no entanto, a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar nessa história e, por óbvio, não estava sendo racista ao chamar a mesinha de “criado-mudo”.

Sem entrar no mérito de cada um dos “verbetes”, fica a pergunta: a quem interessa essa campanha? Do ponto de vista prático, é muito difícil “higienizar” o vocabulário na marra, por mais que a esquerda pompom se esforce nesse sentido, mas, caso essa empreitada fosse bem-sucedida, que ganhos teria a população negra oprimida? Difícil dizer.

O que parece mais plausível é que essas supostas interpretações sirvam para “comprovar” a tese do racismo estrutural, cujo subproduto é dividir as pessoas segundo um critério racial, invisibilizando a real divisão da sociedade, que se expressa na luta de classes.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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