Nesta semana, foi anunciada a morte do artista Vangelis, por ataque cardíaco. O tecladista grego, cujo nome de nascimento era Evángelos Odysséas Papathanassíou, passou a ser conhecido pelo mundo com o seu trabalho na banda de rock progressivo grega Aphrodite’s child. Deste mesmo conjunto também ficou conhecido o cantor Demis Roussos.
O tecladista, no entanto, alcançou fama muito maior do que o cantor (o que é atípico). Sua música é de uma beleza sinfônica que toca a sensibilidade de muitas pessoas e fez uma parcela muito grande da população mundial (visto que ela teve alcance gigantesco) se interessar até por música clássica.
O seu álbum considerado como o de maior qualidade é a trilha sonora do filme Blade Runner. O compositor, com sua habilidade, conseguiu criar com muita competência o ambiente misto de noir e futurismo do filme de ficção científica dos anos 80. As faixas de maior sucesso são Blade runner closing theme, a música final do filme, e a faixa Rachel’s song. Esta segunda, uma música cantada por Mary Hopkins, não possui letra e é um caso curioso: não esteve na trilha do filme, mas aparece no álbum, tendo sido provavelmente excluída da versão final. No entanto, acabou se tornando conhecida mundialmente por estar em programas de rádio e, claro, pela presença no próprio álbum.
A música tema do filme Carruagens de fogo, no entanto, é, provavelmente, a mais famosa do compositor grego. Todos conhecem o impactante acorde, o tema tocado no piano e a emoção por ela transmitida, tendo já sido utilizada em diversas situações – outros filmes, desenhos animados, etc. É um daqueles casos em que a música-tema superou a fama do próprio filme para o qual foi feita, mostrando a grandeza do seu criador.
Também não é apenas de trilhas de filme que vive a fama de Vangelis. Os álbuns Spiral, Heaven and Hell e Albedo 0.39 são tidos como exemplos da competência do músico grego no que diz respeito às composições e à escolha de timbres de teclado e orquestrais. Seu trabalho com a banda Aphrodite’s Child, particularmente no álbum 666, de 1971, um disco duplo, cujo tema é o Apocalipse, de João.
Além da lembrança do trabalho deste grande artista, ao nos depararmos com seu falecimento, fica uma reflexão da situação geral das artes nos nossos tempos. A tristeza que traz quando perdemos um dos grandes não é apenas a lamentação diante da morte de um ser humano notável, mas também a angústia de saber que, graças à sede de destruição do imperialismo e de sua política neoliberal, não haverá nenhum outro grande para substitui-lo.
A luta pela valorização das artes é indissociável da luta pelo fim do capitalismo e pela revolução socialista. Na revolução russa de 1917, a proliferação de grandes artistas de todas as áreas no país é notável. A falência de toda a arte pré-revolucionária ou contrarrevolucionária é relatada por Leon Trótski em seu livro Literatura e Revolução. A luta popular e o ascenso da classe operária será fonte de inspiração para artistas de todo o mundo que, nesse momento, estão se vendo calados e oprimidos pelo capitalismo, seja pela censura ou pela catástrofe econômica e social por ele promovidas.