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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Propaganda de guerra

A inflação na Rússia e a propaganda pró-imperialista

O noticiário dos jornais internacionais parece ter se inspirado em Orson Welles quando narrou a Guerra dos Mundos. A diferença é que este era muito mais honesto

─ Eduardo Vasco e Rafael Dantas, de Rostov-do-Don

“Rússia caminha para a pior recessão desde o fim da Guerra Fria” (The Guardian, 8 de abril de 2022)

“Economia russa está prestes a entrar em colapso com sanções cobrando o seu preço” (Fox Business, 15 de abril de 2022)

“Sanções ocidentais estão golpeando a economia russa” (CBS News, 6 de abril de 2022)

“‘O dinheiro já não significa mais nada’: 10 russos explicam como é viver sob as sanções ocidentais e a repressão do Kremlin” (Fortune, 9 de março de 2022)

“Os cidadãos estão enfrentando um futuro de inflação crescente, desemprego aumentando, crédito caro, controle de capitais, escassez de produtos e restrição de viagens” (Radio Free Europe/Radio Liberty, 2 de março de 2022)

“A invasão de Putin na Ucrânia vai tirar 30 anos de progresso da economia russa”, (CNBC, 30 de março de 2022)

O noticiário dos jornais internacionais parece ter se inspirado em Orson Welles quando narrou a Guerra dos Mundos. A diferença é que o radialista e ator norte-americano era muito mais honesto, pois no final da história revelou que tudo não passava de ficção. A imprensa imperialista, porém, insiste que está contando uma história verdadeira sobre o que se passa na Rússia.

É verdade que a economia russa está sofrendo com os efeitos da operação militar especial na Ucrânia, realizada para se defender da OTAN? Sim. Mas qual é a profundidade desse sofrimento? 

Estaria a Rússia pagando o preço de sua “invasão” e “genocídio” contra os membros do Batalhão Azov – pobrezinhos fascistas! – e do regime fantoche de Vladimir Zelensky? 

Estariam os cidadãos russos desesperados, prestes a morrer de fome e buscando fugir do país para salvarem suas famílias? 

Não, absolutamente.

“A vida ficou mais difícil, empresas estrangeiras saíram do mercado russo e os preços ficaram mais caros. Para qualquer pessoa normal é mais difícil, mas não se pode falar de economia quebrada”, diz Varvara Kyznetsova, pesquisadora da Academia de Ciências da Rússia.

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Os russos estão sentindo o peso da crise?

A maior parte dos cidadãos russos sabe o que é um verdadeiro colapso econômico. A destruição da União Soviética, seguida pela tentativa de implantação do neoliberalismo pelo imperialismo norte-americano e europeu na Rússia levou a índices alarmantes de inflação, como os mais de 85% em 1999; de desemprego, pessoas abaixo da linha da pobreza, consumo de drogas, prostituição, êxodo do país e fome. O que ocorre hoje ou que poderá ocorrer a médio-longo prazo não é nada parecido com aquele pesadelo.

Konstantin, que vive e trabalha em Moscou, não está preocupado com o índice inflacionário. “Foi só um período de duas a três semanas muito chocante, quando os preços dos produtos importados duplicaram ou mesmo triplicaram. Depois, os preços voltaram ao normal. No supermercado, agora pago 10 a 15% a mais. Todos os outros gastos continuam os mesmos: casa, apartamento, transporte, salão de beleza.”

Evgenia, de Nijni Novgorod, concorda que os preços subiram nesse nível, mas ainda não está sendo afetada e lembra que isso é uma tendência internacional. Já Ekaterina, residente em Rostov do Don, discorda das manchetes sensacionalistas dos jornais estrangeiros. “[A economia russa] não está quebrada. Os preços de alguns produtos aumentaram, mas não muito. Isso já vinha acontecendo nos últimos anos, os preços de alguns produtos subindo aos poucos. Mas agora eles estão abaixando.”

“Sim, tudo ficou mais caro aqui, mas nada tão alarmante”, afirma Arthur, estudante brasileiro em São Petersburgo. “Os preços aumentaram mas não falta nada nos supermercados.”

A equipe da Causa Operária na Rússia também foi à principal rede de supermercados da Rússia, a Pyaterochka, na cidade de Rostov do Don, para conferir os preços dos produtos. Listamos aqui o que seriam os produtos da cesta básica brasileira, em suas respectivas quantidades:

produtoquantidadevalor em rublosvalor em reais
carne6 kg2.690184,75
leite15 litros1.23084,47
macarrão *4,5 kg54037,09
arroz3 kg31721,77
farinha1,5 kg103,57,08
batata6 kg41128,23
tomate9 kg1.530105,08
pão6 kg60041,21
café600 g.86459,34
banana90 unidades81055,63
açúcar3 kg23416,07
óleo1,5 kg28119,30
manteiga900 g.50034,34

Se tomarmos por comparação os preços na cidade de Porto Alegre, que tem uma população aproximadamente igual à de Rostov do Don, a cesta básica em março na capital gaúcha teve um valor de R$734,28, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em Rostov, esse valor é de 10.110 rublos. Na conversão para o real, o valor total dos mesmos produtos na Rússia sai por R$694,36, quase 40 reais a menos. Como não encontramos feijão no supermercado, o substituímos por macarrão.

O salário mínimo em Rostov do Don é de 14.556 rublos, o equivalente a 999,69 reais. Já em Porto Alegre, o salário mínimo é de R$1.305,56, pouco mais de 300 reais a mais. O salário médio dos rostovianos, no entanto, é de 38.718 rublos (R$2.659), enquanto o dos porto-alegrenses é de R$1.985.

A cesta básica representa 65,5% do salário mínimo mensal em Porto Alegre, enquanto em Rostov do Don ela representa 69,4% do mínimo. Porém, quando se trata do salário médio, a cesta básica representa 37% em Porto Alegre e 26,1% em Rostov do Don.

“Falando de mim e das pessoas que conheço, claro que se nota que há o aumento dos preços de alguns produtos, mas não posso dizer que temos dificuldades”, nos diz ainda Ekaterina, de Rostov.

A vida no interior da Rússia europeia

Inflação? Sim, mas não é exclusividade da Rússia

A inflação na Rússia chegou a 17,7%, tendo um crescimento de 11,3% desde o início deste ano. Esse é o maior índice desde 2002. O principal motivo dessa alta, logicamente, são as criminosas sanções do imperialismo, que buscam debilitar a economia russa dificultando o comércio internacional com os russos. Mas essa busca ainda não encontrou grandes tesouros. Na verdade, até agora, o saiu pela culatra. O imperialismo começa a sofrer mais do que a própria Rússia as consequências dessas sanções.

A Europa, por exemplo, é quase que totalmente dependente do gás russo. Por esse motivo, mesmo com toda a campanha que ela encabeça junto dos EUA contra o governo Putin, ela continua obrigada a não seguir o seu próprio discurso. A compra de gás da Rússia pelos europeus é dez vezes maior do que a venda de armas para a Ucrânia. Triste contradição dos salvadores do povo ucraniano. 

“Desde o começo da Operação Especial para a Desmilitarização e Desnazificação da Ucrânia, em 24 de fevereiro, os países-membros da União Europeia vêm pagando cerca de 850 milhões de dólares para exportadores de energia russos diariamente: quase mais da metade desse valor foi gasto em fornecimento de gás natural, e o restante na compra do ‘ouro negro’. Ao todo, desde o fim de fevereiro, os europeus tiveram que transferir 47 bilhões de euros pelos recursos energéticos da Rússia”, disse um especialista da agência turca Anadolu, Bahattin Genyltashi. “O embargo proposto à importação de materiais brutos da Rússia vai prejudicar a União Europeia, mas será benéfico para a Gazprom e outros exportadores, uma vez que a Rússia será capaz de vender hidrocarbonetos para o resto do mundo a preços altos”. (MK-RU, 28 de abril de 2022)

O crescimento econômico europeu já se via ameaçado pelo risco de estagflação (a combinação explosiva de estagnação econômica com inflação). O magro crescimento do último trimestre de 2021, resultado da recessão associada à pandemia da covid-19, na casa dos 0,3% foi seguido de 0,2% de crescimento do PIB dos 19 países da zona do euro nos primeiros três meses deste ano. A economia da França está estagnada, a da Itália em recessão e da Espanha em desaceleração. A queda de 0,2% do PIB italiano praticamente anulou o crescimento de 0,6% do último trimestre de 2021 e deixou a economia ainda abaixo dos níveis pré-pandemia. Apenas a Alemanha, uma das quatro maiores economias da União Europeia, superou as expectativas do primeiro trimestre com um crescimento irrisório de 0,2% em relação ao trimestre anterior.

Além do mais, ao contrário de representar um ponto fora da curva, a Rússia nada mais faz do que acompanhar o aumento da inflação e da crise econômica internacional. Desde a implantação do euro, em 1999, a União Europeia não via uma inflação tão grande, chegando a 7,5% em abril. Nos EUA, o índice de 8,5% é o maior dos últimos 41 anos. Na Inglaterra, em 30 anos não se via algo maior do que os 7% de hoje. O Brasil voltou ao pesadelo da Era FHC, com 11,3% de inflação, maior taxa desde 2003.

Os custos da energia (gás, petróleo, carvão e, consequentemente, eletricidade) saltaram 38%, alimentos não processados subiram 9,2% e a taxa básica de inflação na zona do euro – descontados energia e combustíveis – aumentou para 3,5% sobre um patamar anterior de 2,9%. Os dados mostram que os preços de mercadorias básicas manterão a inflação bem acima da expectativa de 2% estimada pelo Banco Central Europeu. 

“Achamos que o PIB da zona do euro provavelmente vai se contrair no segundo trimestre como consequência da guerra na Ucrânia e o aumento dos preços de energia vai pesar no orçamento doméstico e na confiança dos consumidores, bem como continuar a exacerbar os problemas na cadeia de fornecimento de mercadorias”, disse Andrew Kenningham, economista da agência Capital Economics. (Financial Times, 28 de abril de 2022).Dito de outra forma, por um especialista do mercado: “a arena econômica europeia não é governada por palavras de ordem políticas, mas por interesses comerciais” (idem).

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