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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Quadrinhos brasileiros

A arte de Lobo Ramirez

O quadrinista e agitador cultural Lobo Ramirez não produz somente os próprios trabalhos, ele também edita, na Escoria Comix, muitos talentos da HQ brasileira da atualidade.

Lobo Ramirez, para quem acompanha a história em quadrinhos brasileira, é um dos artistas mais atuantes do estado de São Paulo. Além de produzir os próprios trabalhos na Escória Comix, o Lobo edita outros artistas, entre eles, Victor Bello, Diego Gerlach, Vitor Valença, Luiz Berger, Pablo Carranza, Arame Surtado, Emille Bonna e Fábio Vermelho. Para quem ainda não o conhece: quem é Lobo Ramirez?

Certa vez, por sorte encontrei um exemplar de “Ejaculator”, lançado em 2015 pela Prego Publicações; “Ejaculator” é uma novela gráfica do Lobo Ramirez em que são narradas as desventuras de um monstro de duas cabeças, o JesusSatan. Meses depois, tive o prazer de conhecer o Lobo pessoalmente em feiras de HQs, foi quando li seu quadrinho “Tropical Samurai”, a história de um pato samurai tentando comer dogãokisoba, um sanduíche de yakisoba; depois li “Rogéria”, feito em parceria com Fabio Mozine, cuja personagem é um papagaio marginal vivendo na cidade do Rio de Janeiro.

Visitando o site da Escória Comix – escoriacomix.iluria.com –, encontrei a série “Heavy Metal Porno Holocausto”, lançada no primeiro semestre de 2017 em quatro volumes; para cada volume, uma personagem e sua história: (1) Marlana, em “Necropênis”; (2) Chico Lopes, em “Amor à primeira vista”; (3) Bestialóide, em “Perigo na masmorra”; (4) Valdecir, “Conga conga conga”. Marlana, semelhantemente ao Doutor Frankenstein, constrói um monstro com cadáveres, mas para fazer sexo; Chico Lopes é um ogro demente; o Bestialoide se parece com o próprio Lobo, quem se coloca entre suas personagens desde “Ejaculator”; Valdecir é o monstro feito por Marlana. As quatro histórias, embora formadas por narrativas lidas independentemente, estão correlacionas pelos quatro monstrengos praticando sexo grupal na mesma masmorra… em um país com crescente dominação do evangelismo de extrema direita, nada se compara a ler “Heavy Metal Porno Holocausto”.

Vale a pena lembrar, ainda, de “Asteroides – Estrelas em Fúria”, 2018, uma edição Escoria Comix e Ugra Press. Detendo-se nos desenhos do Lobo, evidencia-se o quanto ele desenha bem, seu traço agressivo não esconde os detalhes explorados em cada expressão corporal; a narrativa, por sua vez, é permeada por citações, principalmente de animes e mangas, enquanto o tema é o submundo em que mulheres anabolizadas dilaceram-se saltando dos edifícios, prontas para se matarem nesse esporte suicida. Em meio a tudo isso, há criminosos e justiceiros cadeirantes, um assassino serial viciado em comer merda, um judeu lutador de kung fu lançando surikens em forma de estrelas de David… com tantos delírios, quais seriam os sentidos dessa trama?

Vivemos em um mundo movido pelo capitalismo em crises constantes e violentas, consequentemente, nele as relações entre sociedade e política são complexas, sempre há incerteza; longe de ser laico e guiar-se pela objetividade, o estado sempre esteve articulado com instituições religiosas em suas contradições entre a ética, o capital e a metafísica, confundindo-se com seitas e falsos profetas. Havendo divisão do trabalho em classes sociais, há contradição, por decorrência, pessoas e sociedades tornam-se contraditórias, as ideias raramente são claras e o consenso não passa de ilusão filosófica. No mundo global, costumes antes tomados por universais humanos são colocados constantemente em xeque; a luta de classes provoca crises insuperáveis nos partidos políticos, mesmo nos mais progressistas… tudo isso não é expressão de apolitismo, contrariamente, isso é a própria política.

Inserido nas lutas sociais, o marxismo tem propostas para compreender e combater o capitalismo mediante a mobilização do proletariado, trata-se de soluções objetivas, com as quais nem todos estão de acordo, especialmente os capitalistas. As articulações sociais e suas tensões aparentemente caóticas, paralelamente às abordagens materialistas, podem ser abordadas em linguagens míticas, tais quais as artes; cabe lembrar de que os mitos, longe de serem mentiras ou enganos de mentes atrasadas, são formas de explicar o mundo e de resolver contradições, em princípio, insolúveis. Enquanto arte, as contradições expressas em “Asteroides – Estrelas em Fúria” podem ser o significado de tempos confusos, mas que encontram coerência nas narrativas engenhosas do Lobo Ramirez.

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