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Felipe Maruf Quintas

Mestre e doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Brizola Eterno

100 anos de Brizola

Legado de Leonel Brizola pertence ao povo brasileiro

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Gostando-se ou não do Velho Briza, não se pode negar que ele foi um dos últimos grandes políticos brasileiros com ideais sinceros e capaz de colocar o Brasil acima de picuinhas partidárias, em detrimento, às vezes, da própria reputação, como quando se colocou contra o impeachment de Collor. Sua obra deve ser conhecida e reconhecida por todos os brasileiros comprometidos com as causas da soberania e da justiça social, independentemente de filiações partidárias. Seu legado pertence ao povo brasileiro, não a um ou outro partido.

O idealista, contudo, não fez das suas convicções desculpa para a inação. Governador de dois estados, o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, mudou para melhor a história de ambos e serviu de inspiração até para os adversários.

No RS, criou mais de 5.500 escolas, distribuiu terras, desenvolveu a agricultura canavieira criando a Agasa (Açúcar Gaúcho S.A.), construiu as hidrelétricas de Jacuí e Charqueadas, lançou o projeto da Aços Finos Piratini, ponta de lança do forte industrialismo gaúcho nos anos 70, fundou a Caixa Econômica do RS e, em parceria com os governadores de Santa Catarina e Paraná, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Além disso, encampou a ITT e começou a estruturar a telefonia gaúcha, servindo de modelo para Carlos Lacerda fazer o mesmo na Guanabara (atual cidade do Rio de Janeiro) com a CTB, transformada em CETEL.

No RJ, criou os CIEP – programa educacional, cultural, social, sanitário e industrial ao mesmo tempo -, que se tornariam modelo dos CEU da Marta Suplicy em São Paulo, o Sambódromo, a Linha Vermelha, encampou várias linhas de ônibus barateando seu custo, abriu várias frentes de crédito pelo Banerj à pequena e média agricultura no interior do estado e implantou o policiamento comunitário, reduzindo os furtos e assaltos em vários pontos da cidade.

No que diz respeito especificamente aos CIEP, a sua maior marca governamental, eles representaram uma mudança de concepção na educação pública. Antes voltada basicamente para a instrução técnica dos jovens, tornou-se, a partir de Brizola, o eixo de estruturação de abrangentes políticas sociais e de desenvolvimento econômico e, sobretudo, humano. Além de aprenderem as disciplinas obrigatórias, os alunos faziam cinco refeições diárias de alta qualidade, compostas de alimentos frescos e saudáveis comprados da pequena agricultura local, praticavam esportes e atividades culturais, obtinham tratamento médico e odontológico, e voltavam para casa de banho tomado. O material de construção dos CIEP era fabricado pelas Fábricas de Escolas, unidades fabris criadas por Brizola, gerando emprego e desenvolvimento industriais no RJ.

Administrador público exemplar, as críticas mais comuns a Brizola são todas infundadas. Ele nunca proibiu a polícia de fazer operações contra o tráfico em morros, apenas exigia ordem judicial, que é o básico do básico num Estado de Direito. Tampouco incentivou a favelização do RJ, pois isso aconteceu em todo o país na época e a política de regularização dos lotes urbanos que ele praticou não diferia em nada da que já vinha sendo feita pelos governos militares com o Profilurb – Programa de Financiamento de Lotes Urbanos. As causas da favelização, aliás, são muito complexas e não dependeram de nenhum governo específico, mas, por questão de espaço, não caberia discuti-las aqui.

Brizola cometeu erros? Claro, como todo mortal. Ele se empolgou demais com o sucesso da Campanha da Legalidade e, involuntariamente, tornou-se um elemento radical e desestabilizador do governo Jango, o que depois ele mesmo reconheceu. Depois de 1964, cometeu o erro de tornar-se líder de guerrilha, mas reavaliou sua posição e iniciou uma autocrítica que culminaria na sua adesão posterior, inscrita na Carta de Lisboa, a uma versão nacionalista da socialdemocracia, exatamente o que Jango propunha e ele não entendera na época. O que faz o gigante não é não cometer erros, mas reconhecê-los e reavaliá-los para fazer diferente e melhor.

Esse pequeno texto não faz nem pretende fazer jus a toda a contribuição de Brizola ao Brasil, mas levanta alguns pontos para que, no centenário dele, a sua obra e o seu legado possam servir de inspiração a um Brasil que perdeu a inspiração.

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário

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