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Impunidade no campo

Massacre de Pau D’Arco: 4 anos de impunidade do latifúndio

Após completar 4 do massacre, nenhum dos policiais civil e militares foram condenados pela execução dos 10 trabalhadores rurais

Em uma quarta-feira, numa manhã chuvosa, no dia 24 de maio de 2017, na fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’arco no sudeste do Pará, aconteceu o que ficou conhecido como o massacre de Pau D´arco, a segunda maior chacina no campo em 20 anos. Dos 10 mortos pela policia civil e militar, 7 pertenciam à mesma família, sendo nove homens e uma mulher, mártires que lutaram pelo direito à terra. Passados quatro anos, os 16 policiais denunciados pela participação no Massacre continuam em liberdade e ativos, o inquérito que investiga os mandantes dos crimes não resultou em nenhum indiciamento.

Naquele dia os acampados escutaram um barulho incomum de carros se aproximando do acampamento. A reportagem do Brasil de Fato que entrevistou os sobreviventes da chacina, declara que dois sem terra foram averiguar o que estava acontecendo. “Eles voltaram correndo, dizendo que era muita polícia, foi a hora que começamos a correr. Corremos bastante no meio do mato”. Os relatos afirmam que os policias riam e quebravam as coisas, “Em menos de dez minutos que a gente estava debaixo da lona esperando a chuva passar e a polícia chegou já gritando: não corre não que vai todo mundo morrer, e já atirando ao mesmo tempo, gritando e atirando”, conta um dos sobreviventes.

No início deste ano, Fernando dos Santos, um dos sobreviventes e principal testemunha do Massacre, foi assassinato com um tiro na nuca, depois de receber várias ameaças. “Eu sinto que tá vindo coisa pesada pra nós aqui na [fazenda] Santa Lúcia”, disse Santos em entrevista para a agência de noticias Repórter Brasil duas semanas antes de ser assassinado. “Os policiais estão pensando em vir aqui dar um jeito de não haver mais testemunha antes do julgamento. Não há testemunha, não há julgamento” era o tipo de mensagem que Fernando recebeu mais de uma vez. Além dele, outros sobreviventes que moram na fazenda receberam as mesmas mensagens.

Em novembro do ano passado Fernando Santos levou um tiro na barriga, procurou a policia, passou todas as características sobre o homem que tentou lhe matar, mas nada adiantou. “Aqui é assim, de nada adianta procurar a polícia”, disse. Duas outras testemunhas do caso, amigas de Fernando temem pelas suas vidas, uma delas desesperadas pela noticia do assassinato do amigo, abandonou a casa onde morava e suas plantações de milho, mandioca e outras culturas que cultivava sozinha em seu lote. Até os dias de hoje não se tem noticia sobre quem matou e quem tentou matar Fernando Santos, ou quem pode ser o mandante da tentativa e da execução.

O clima de medo e desespero na região é constante. Aproximadamente 200 famílias, resistem na terra trabalhando e produzindo alimentos. O clima na Ocupação “Jane Julia” (rebatizado com o nome de uma das lideranças assassinada no massacre de 2017) é de total insegurança, preocupação e incerteza. No primeiro dia de 2021, o advogado José Vargas Sobrinho Júnior, que denunciou a polícia pelo massacre contra o acampamento do MST, foi preso enquanto tomava café da manhã com suas duas filhas de 6 e 8 anos. A justificativa para a sua detenção, segundo seu advogado, Marcelo Medanha, seriam mensagens enviadas pelo aplicativo de celular whatsapp, “Mensagens irônicas, em claro tom de brincadeira”.

A prisão claramente arbitrária de Vargas orquestrada pelo mesmo promotor, Leonardo Caldas, que representa o Ministério Público Estadual na ação de reintegração de posse do local acampando, é nitidamente uma perseguição politica ao advogado dos trabalhadores rurais e das testemunhas da chacina de 2017.  Vargas ficou conhecido no local por questionar abertamente a policia e o judiciário e por mover ações que contrariam grandes grupos econômicos da região. Defende os indígenas Kayapó contra as invasões de seus territórios por mineradoras e ganhou ação emblemática movida por trabalhadores sem-terra contra a JBS.

Além da perseguição jurídica e de ataques sistemáticos, após completar 4 do massacre, nenhum dos policiais civil e militares foram condenados pela execução dos 10 trabalhadores, muito menos se sabe quem poderia seria os mandantes do crime. Segundo Vargas, que se encontra em prisão domiciliar – após 25 dias de prisão fechada – os criminosos estão “todos soltos e seguem trabalhando”, e ainda em referencias aos policiais, segundo ele, andam pela cidade encarando as testemunhas que os acusam. Vargas recebe “proteção” de rondas periódicas por agentes da mesma corporação que trabalha os policiais que ele acusa no processo da chacina. Deixando claro que a qualquer minuto pode se ter mais e mais vítimas do caso na região.

“O Fernando não confiava nas autoridades locais e, infelizmente, estava certo de não confiar”, afirma Vargas. “Um dia depois da chacina, eu tentei convencer ele a depor para o promotor estadual, mas ele recusava. Dizia ‘quem matou a gente foi a polícia, eles [promotores] são amigos da polícia’”.

Além disso o governo Bolsonaro e todos os que o cercam deixam bem claro quais são suas posições politicas em relação as ocupações e aos movimentos de luta pela terra. Tomaram de assalto o poder no país e trabalham abertamente para os interesses dos latifundiários e grandes empresários e capitalistas. Mobilização e organização dos movimentos, para lutar e denunciar os crimes do governo contra todos os povos do campo, é extremamente necessário, e é medida que deve ser tomada com amplo apoio de toda a esquerda e outros movimentos sociais.

É obvio que diante da situação que se encontra os acampados de contantes ameaças e perigo de vida, não adianta recorrer as intuições. É preciso organizar a autodefesa dos trabalhadores do campo e da cidade, sendo essa a única politica concreta e real que pode tentar barrar um novo massacre como em Pau D´arco. Visto que não se trata apenas de crimes cometidos pela policia militar, pois nesse caso envolve também policiais civis, é urgente pedir o fim de toda essa instituição criminosa e assassina. Caso contrário as chacinas contra a população irão continuar. Veja o caso por exemplo do Jacarezinho no Rio de Janeiro, onde o assassinato de 28 pessoas foi cometidos pela policia civil.

Sendo assim nenhuma reformulação desse órgão de extermínio estatal é possível. Somente o fim dessa instituição poderemos barrar e frear esses massacres a chacinas que se repetem ano após anos contra a classe trabalhadora e esmagada pelo capitalismo de todo a país

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