A Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul, é a mais densamente povoada do Brasil. Em apenas 3.475 hectares de área vivem 18 mil indígenas das etnias Guarani Kaiowá e Terena. Sem políticas públicas adequadas e sofrendo de desabastecimento de água, a situação social em que vivem se assemelha bastante ao das favelas dos grandes centros urbanos. Da mesma forma, sofrem com a falta de saneamento básico e de infraestrutura urbana, assim como são alvos constantes da violência contra indígenas, tanto por parte do poder público, como por parte de não indígenas. O início de 2020 foi marcado por uma série de denuncias de ataques contra os povos indígenas da região.
O Estado do Mato Grosso do Sul, que concentra a segunda maior população indígena do país, ficando atrás apenas do Estado do Amazonas, não possui uma política de saúde indígena capaz de atender de forma minimamente satisfatória essa população. Os indígenas, ainda por cima, sofrem preconceito no atendimento na rede pública de saúde, que mantém apenas 35 leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Município de Dourados.
A enfermeira Indianara Machado Ramires Guarani Kaiowá alerta na página da internet do Conselho Indígena Missionário (CIMI): “se entrar aqui na Reserva será uma catástrofe. Não vai ter como atender”. Esse temor é ainda mais justificado pelo fato de que o governo federal não tenha, até o momento, apresentado nenhum plano de combate ao coronavírus para as aldeias indígenas.
Até o dia 27 de março, não havia ainda sido registrado nenhum caso confirmado ou suspeito de coronavírus no Distrito Sanitário Especial Indígena do Mato Grosso do Sul, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena. Ainda que agentes de saúde indígena procurem alertar e informar a população da reserva sobre a doença, formas de transmissão e cuidados, a enfermeira Indianara Guarani Kaiowá entende que seria necessário que o governo federal incluísse os indígenas como grupo de risco, para garantir um plano de proteção específico para eles.
Apesar de ainda não apresentar nenhum caso confirmado, a Reserva de Dourados, mantém intenso intercâmbio com o município o que os torna muito suscetíveis de, mais dia, menos dia, terem algum indivíduo contaminado.
De acordo com suas próprias declarações, o governo Bolsonaro não demonstra o menor apreço pelos povos originários do Brasil, muito pelo contrário, elas sempre denotaram preconceito e apoio aos latifundiários que amiúde entram em disputas com os indígenas. Não é, portanto, coincidência que desde o início do governo golpista assistimos um aumento nos assassinatos de lideranças indígenas em todo o território nacional.