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“Ele deu ré por uns 50 m e arrastou o carro em nossa direção”

DCO entrevista Kawã Pataxó, liderança indígena que sofreu atentado e quase foi atropelado pelo latifundiário Lucas Lessa em Prado (BA)

lucas lessa

DCO: Fale sobre a sua aldeia e como estão as coisas dentro da terra indígena

Kawã Pataxó: Somos da Aldeia Cahy (Kaí), uma comunidade indígena pataxó. A gente já vem há muito tempo lutando pelo direito ao território sagrado e nos últimos tempos nós viemos sofrendo vários ataques. Em 19 de janeiro de 2016 houve uma reintegração de posse truculenta aonde toda a comunidade veio abaixo e nove dias depois nós conseguimos a retomada da aldeia e reconstruímos a comunidade. Nos últimos dias e meses nós estamos sofrendo vários ataques como ameaças, incêndios criminosos, incêndios em casas, intimidações em redes sociais, mas nós estamos levando a luta à frente. A comunidade está resistente, a comunidade trabalha hoje com coletivos de liderança e estamos na luta.

DCO: O que ocorreu na segunda feira quando o Lucas Lessa tentou atropela-lo.

Kawã Pataxó: Estava me preparando para ir ao trabalho – hoje sou secretário de assuntos indígenas do município de Prado –, quando minha irmã apareceu correndo em minha casa avisando que a liderança da área estava sozinho com o senhor Lucas Lessa que estava tirando foto da área da comunidade. Me desloquei ao local de moto e encontrei com ele na estrada, de carro, encostei a moto e fui conversar com ele a respeito do território indígena, que tinha uma decisão liminar do ministro Dias Toffoli, presidente do STF à época, que dava direito à permanência da comunidade indígena na terra e que por conta da pandemia a decisão seria até a conclusão do relatório. Com isso, uma das lideranças ficou um pouco exaltado, começou a xingar – com razão por conta das ameaças que estava sofrendo em relação a ele, porque um tempo atrás ele já tinha vindo à comunidade com milícia armada de policiais militares, nós identificamos e denunciamos esses policiais. A liderança estressada disse para ele se retirar da comunidade, que estávamos com a posse, que aquela era uma área de preservação ambiental (apesar deles terem queimado tudo, estamos com um projeto para recuperar).
Foi então que ele deu ré com a caminhonete, eu pensei que ele iria embora, ele deu ré por uns 50 metros e arrastou o carro em nossa direção, passando pela liderança Adário, eles se defenderam com os tacapes que estavam na mão jogando em direção ao carro e veio em minha direção, eu pulei, o carro arrastou na minha perna porque eu consegui desviar. Mesmo assim, ele pegou minha moto. Depois disso, fomos à delegacia registrar o B.O., ele já tinha dado o depoimento dele, o delegado somente chamou a liderança Adário, mas não quis me ouvir. Ele disse que não poderia escutar dois depoimentos em uma única ação, então argumentei que qualquer cidadão tem o direito de registrar um B.O. quando o delegado respondeu que na delegacia dele eu não registraria nenhum B.O. que ele não iria deixar. Respeitei a autoridade dele, me retirei e comuniquei ao MPF sobre essa recusa do delegado em receber meu depoimento.
A gente já sofreu cinco incêndios criminosos que eles tocaram na área. Quando a gente chegou a área estava loteada, uma área de preservação com várias nascentes. Tiramos todos os piquetes porque era uma área pertencente à comunidade. Aí eles foram e voltaram para a área à noite, retiraram os piquetes da cerca que iríamos fazer para impedir a entrada deles, eles retiraram os piquetes. Eles tinham loteado mais ou menos 30 lotes para a venda. Então, desmanchamos o loteamos dele e ele não gostou.

DCO: Como está a situação da terra indígena por ai? Há outros ataques e ameaças? (disse que foram queimadas casas o fechamento do acesso pelo Lucas.

Kawã Pataxó: Teve queima de casa aqui na aldeia. O fechamento de praia é constante, aqui em Cumuruxatiba a Ponta do Moreira, que é a área da comunidade, é uma das únicas praias abertas da cidade, as outras praias são como se fossem privadas, ou tem restaurantes grandes ou tem fazenda que não deixa entrar pessoas. A impressão que tenho é que ele queria fazer uma venda para construção de um resort, mas nós conseguimos impedir.

DCO: Envolvimento com a polícia e as milícias

Kawã Pataxó: Eles têm envolvimento muito grande com milícia de policiais. Dessa vez que ele veio aqui com os policiais, nós denunciamos e identificamos um policial da comarca de Alcobaça que trabalhava em Prado e outro da região de Itabuna e Ilhéus. A relação deles com policiais já vem de muito tempo porque a milícia aqui na região é muito forte por conta do parentesco e da amizade de policiais com fazendeiros. Depois também dessa denúncia que fizemos dos policiais, eles pararam um pouco de vir. Porém ele estava com alguns homens dentro do carro, mas não temos certeza se eram policiais.

DCO: A família de Lessa é de grileiros de terras antigos, né?

Kawã Pataxó: Fazendo uma busca rápida no JusBrasil com o nome Lucas Castro Lessa você vai achar muitos processos envolvendo os Lessa que dizem respeito a terras. Então é uma família que já vem tomando terra há muito tempo em territórios de comunidades tradicionais, principalmente. É uma relação antiga que passa de pai para filho na família deles.

DCO: Aumentaram as ameaças e ataques após a subida de Bolsonaro a presidência?

Kawã Pataxó: Aumentou muito principalmente quando esse presidente tomou posse. Os fazendeiros se sentiram à vontade de fazer ataques, andar armados e isso está dificultando a gente. Os comandos se sentiram fortalecidos para fazerem o que querem, nem todos, lógico, mas uma grande parte se apoia nesse governo para fazer coisas anti-lei. Estamos sofrendo muito diante desse governo truculento que só sabe atacar as comunidades tradicionais.

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