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André Esteves

Banqueiro admite: 2016 foi golpe tanto quanto 1964

Capitalistas deixam claro aquilo que a esquerda pequeno-burguesa se recusa a enxergar

andre

O vazamento de uma reunião com clientes comandada pelo banqueiro André Esteves, dono do banco BTG Pontual, caiu como uma bênção para quem está preocupado em analisar a situação política. Trata-se, afinal, de um retrato perfeito do que pensam e do que planejam os capitalistas. Obtido pelo Brasil 247, o áudio, de cerca de uma hora de duração, trata desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff até as eleições presidenciais de 2022.

Em um determinado momento, André Esteves comparou o golpe de 2016 com o golpe militar de 1964, que marcou o início de uma ditadura feroz de 21 anos de duração.

“Quando a Dilma endoideceu, alguém foi lá e: ‘peraí, vamos dar uma parada nisso’. Todo o golpe de 64, quando as pessoas me perguntavam com o Bolsonaro falando aquele excesso de besteira, [sobre] golpe, [eu dizia] é muito diferente. Se você for fazer uma analogia sobre 64 com hoje, a coisa mais parecida… 64 foi meio o impeachment da Dilma”.

A colocação não poderia ser mais precisa — muito mais precisa, inclusive, que qualquer análise vinda dos intelectuais da esquerda pequeno-burguesa. Setores da esquerda pequeno-burguesa dizem que o golpe de 2016 foi um golpe “jurídico”, “parlamentar”, “midiático”, diferente do de 1964, porque não contou com tanques na rua. Assim, não teria inaugurado uma ditadura, como o de 1964: praticamente toda a esquerda considera que ainda vivemos uma democracia. Esse tipo de pensamento da esquerda dá margem, inclusive, para os mais tresloucados que garantem que em 2016 não houve um golpe.

Mas o banqueiro da BTG Pactual não é ingênuo como nossa esquerda. Sabe que o golpe de 2016 foi muito semelhante ao de 1964. Isso porque, em ambos, o que prevalece não é a forma (parlamentar, militar, jurídico etc.), mas sim seu conteúdo de classe: a burguesia retirou um governo na “mão grande” para garantir o seu controle político e econômico do Brasil. Logicamente que André Esteves não considera um “golpe”, porque para a burguesia é a coisa mais natural do mundo derrubar presidentes que ela não gosta, torturar, matar ou estuprar. “Golpe” é só quando Maduro ganha uma eleição…

Mas outra coisa que André Esteves explica, e que a esquerda que ignora a luta de classes tanto tem dificuldade de entender, é que, assim como forma e conteúdo não são a mesma coisa, entre o que Bolsonaro fala e o que Bolsonaro faz há um abismo.

Bolsonaro é um fascista? Sem dúvidas. Admirador de torturador, uma espécie de “sindicalista” dos extratos mais baixos das Forças Armadas, um homem historicamente ligado à direita e hostil a mulheres, sem terra, homossexuais e setores oprimidos em geral. Se tivesse condições, poderia Bolsonaro organizar um golpe e tornar-se um ditador? Ao que tudo indica, sim, ele gostaria de sê-lo. O problema, no entanto, reside justamente nas condições.

Bolsonaro é o resultado da falência dos partidos que cumpriam o papel de aplicar o programa neoliberal no Brasil — em especial o PSDB. Ele é a liderança de um movimento verdadeiro, de massas, que se apoia na histeria da classe média em meio à crise econômica em que o País está envolvido e com um setor da burguesia com menor participação nos lucros do capital financeiro internacional. Neste sentido, é uma figura que está em contradição com o setor predominante da burguesia, que é o imperialismo: Bolsonaro, na medida em que possui uma base social para manter-se no regime político, é incapaz de aplicar a política dos banqueiros de maneira tão eficiente como uma figura como Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Leite, João Doria ou Sérgio Moro, que são políticos sem base social alguma.

O acordo que Bolsonaro tem com o imperialismo só foi possível por causa da necessidade dos capitalistas de impedir o PT de se eleger. Como o candidato favorito dos banqueiros, Geraldo Alckmin (PSDB), estava muito desmoralizado, o único político viável de direita naquele momento era o próprio Bolsonaro. Os discursos de Bolsonaro contra a “democracia”, neste sentido, são muito mais um expediente para mobilizar sua base e demonstrar a força necessária para que o imperialismo continue lhe apoiando do que propriamente a preparação de um golpe. Afinal, para que haja um golpe, Bolsonaro teria que contar com a cúpula das Forças Armadas, que são plenamente cooptadas pelo imperialismo.

A ditadura militar, por sua vez, não foi o resultado das aventuras de um bufão do Congresso Nacional, que tenha decidido da própria cabeça tomar o poder. Pelo contrário: foi um movimento organizado e planejado meticulosamente pelo imperialismo. Os banqueiros, diante da instabilidade em que o país vivia e a necessidade de impor um governo de direita, que tivesse condições de conter as massas e aplicar um programa impopular, tomou a decisão de depor o governo de João Goulart à força.

Se Bolsonaro e sua base acreditam que o golpe de 1964 foi uma ação ideológica dos militares contra o comunismo, são ingênuos mais inofensivos do que os capitalistas. Os verdadeiros pais do golpe sabem que o golpe foi dado porque o presidente à época não atendia aos seus interesses, e que as torturas e a ditadura foram apenas efeitos colaterais. Afinal, o que os fascistas fizeram de pior foi quando estavam rigidamente sob o controle dos capitalistas, como mostra a história do III Reich ou do regime de Mussolini: isto é, quando a burguesia expurgou os setores mais ideológicos do movimento fascista e transformou seus governos em ditaduras burocráticas, firmemente guiadas pela política neoliberal.

Os banqueiros deram o golpe de 2016, assim como haviam dado o de 1964. E podem fazer o mesmo. Eles são frios e calculistas. Não são moralistas: não vão derrubar Bolsonaro e colocar a terceira via porque Bolsonaro é “antidemocrático” ou seja lá o que. Se optarem por outro candidato que não Bolsonaro, será porque ele já não atende mais aos interesses dos capitalistas.

É por isso, inclusive, que não aceitam Lula: um governo Lula não tem condições de promover a política de rapina dos capitalistas, porque Lula tem uma base social e eleitoral que se insurgiria contra isso.

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