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"Intervenção simbólica"

Identitários querem destruir o patrimônio histórico gaúcho

Vereador do PSOL, fiel escudeiro dos aparelhos de repressão que massacram a população negra, acusa monumentos farroupilhas de "racistas"

Menos de dois meses após lamentar o incêndio que destruiu o prédio que abrigava a sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do RS — órgão que coordena as forças de repressão contra o povo negro e toda a classe trabalhadora gaúcha —, o vereador porto alegrense, Matheus Gomes (PSOL) iniciou uma campanha pela destruição de monumentos históricos associados à memória da Guerra Farroupilha, em provocação ao seu tradicional período de festejos – a chamada “semana Farroupilha” – quando os gaúchos celebram as datas do 11 de setembro de 1836 (proclamação da República Rio-Grandense) e, sobretudo, do 20 de setembro de 1835 (início da Guerra dos Farrapos). A justificativa seria a livre e desconexa interpretação de que as homenagens prestadas aos líderes da mais longeva guerra civil do país se tratam meramente de um “culto ao racismo”.

Apesar da curta carreira parlamentar do vereador, a trajetória de ataques ao patrimônio histórico do Rio Grande do Sul, utilizando-se de truques retóricos baratos, não é novidade. Em janeiro deste ano, o vereador propôs que o hino rio-grandense fosse censurado, por conta da anacrônica interpretação de que o trecho “povo que não tem virtude, acaba por ser escravo” seria uma espécie de “ode ao racismo”. Já na ocasião, desfilando todo a sua ignorância da composição e do que ela retrata, o vereador se ancorou no artifício de pincelar a frase do contexto para impor a tese revisionista de que o hino é racista, ignorando que a canção versa sobre a insurgência da emergente província contra o império, em uma etapa do desenvolvimento histórico tardio e contraditório que alavancava a burguesia como classe revolucionária.

Não bastasse o intento reacionário de destruir um documento histórico com críticas de qualidade vulgar, para simular um esforço de combate ao racismo, desta vez os alvos se estenderam a objetos inanimados de metal e concreto armado — como já havia ocorrido em SP contra a estátua de Borba Gato —, seguindo a tendência de importar lutas artificias dos EUA, que entram no Brasil como chorume enlatado. Na noite do último dia 20, o vereador publicou nas redes sociais fotos de uma “intervenção simbólica” na capital gaúcha contra as estátuas de Bento Gonçalves (líder das forças farroupilhas) e Duque de Caxias (líder das forças imperiais), que ele reduz categoricamente sob a definição de “monumentos a escravocratas”. As estátuas receberam faixas e cartazes com os dizeres “O racismo não pode mais ser tradição”. Neste novo episódio caricato de críticas anacrônicas e vazias, faltou que explicasse qual o momento da história das sociedades — toda ela escrita à ferro e fogo, sob o manto do escravismo e da servidão — poderia ser preservada. Quanto tempo ele levará para descobrir que essa análise moral e reducionista não leva a outra consequência senão fazer tábula rasa da história humana?

Sem entrar no mérito histórico, já exposto pelo companheiro Paulo Amaro na coluna “O 20 de setembro e a Revolução Farroupilha”, em que disseca o revisionismo vulgar dos identitários, chama a atenção não só a renúncia deste nicho da esquerda pequeno-burguesa em produzir uma análise crítica dialética, como também a de propor ações contra inimigos reais. Se os antigos quilombolas enfrentavam capitães-do-mato pela sua libertação, qual papel cumprem os atuais coletivos negros identitários que se aliam aos modernos cães de guarda da classe dominante? Matheus Gomes compõe a “Frente Parlamentar em Defesa da Guarda Municipal”, um dos braços armados de repressão contra a mesma população negra e pobre que ele promete defender. Neste nível de contradição, não surpreende a consternação que o vereador demonstrou ao ver o horrível e nada valoroso prédio-sede da SSP pegando fogo, ao mesmo tempo em que propõe a destruição de construções histórico-culturais.

Ele mesmo já foi vítima de perseguição policial por ser negro e militante político, o que a princípio parece um diagnóstico de síndrome de Estocolmo. Mas não é isso. A política identitária se caracteriza precisamente pela completa absorção e compromisso com os aparelhos de dominação da burguesia. Enquanto uma mão consolida a aliança com os efetivos opressores do povo, a outra desvia o foco simulando atos de “rebeldia” contra inimigos imaginários, seres inanimados e fantasmas centenários. Não é a mesma inocência de Dom Quixote atacando moinhos de vento, é todo um teatro montado para blindar as instituições pelas quais ele almeja alavancar sua carreira política com golpes de publicidade, enquanto precisa ocultar o fato de ser um colaboracionista dos aparelhos de repressão.

É necessário denunciar essa política reacionária, dissimulada e oportunista que se alastra como parasita dentro da esquerda, impondo seus códigos morais a-históricos e a-científicos. Ela não agrega em nada à luta dos negros e de nenhum grupo oprimido da sociedade. Pelo contrário, desvia o foco de seus inimigos reais, transpondo a ação do proletariado para o que eles chamam de “luta simbólica”, uma espécie de institucionalização da “lacração” como horizonte da luta de classes. Identitários são empregados voluntários da burguesia que se colocam como representantes do povo, fazem cortina de fumaça para os exploradores frente à revolta popular, arrefecem os ânimos e jogam areia nos olhos das classes oprimidas. A única saída para o povo é mobilizar pelo rompimento político com a máquina burocrático-repressiva do Estado burguês – que os identitários tanto se nutrem. “Mostremos valor, constância. Nesta ímpia e injusta guerra”: Pelo fim das polícias, pela organização armada do povo negro e pelo respeito ao patrimônio histórico!

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