O golpe de 2016 impactou gravemente os serviços públicos, dos quais depende a maioria da população brasileira. Um dos serviços gravemente atingidos pelo desmonte neoliberal levado a cabo pela direita foi justamente a vacinação, que num país do tamanho do Brasil é uma tarefa bastante complexa.
O Braisl de Fato entrevistou a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Dra. Flávia Bravo, que trouxe dados que detalham a atitude criminosa dos golpistas em relação à saúde pública. Em especial, foi destacada a importância do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que estabelece o calendário de vacinação, as estratégias que serão adotadas e a logística da distribuição de vacinas em todo o território nacional.
O PNI existe desde a década de 1970 e foi essencial para estabelecer um planejamento de larga escala para a prevenção de doenças como sarampo, poliomielite, coqueluche e outras. Mesmo subfinanciado, o programa conseguiu resultados muito importantes para o conjunto da população, tornando o país um grande produtor de vacinas.
Porém, na etapa atual da crise capitalista a burguesia não está disposta a permitir nenhum desenvolvimento independente, por menor que seja. Não por acaso ocorreu uma articulação do imperialismo com a direita nacional para derrubar o governo de Dilma Rousseff, mesmo com a moderada política social dos governos petistas.
A partir do governo golpista de Temer, a coberta vacinal começou a cair progressivamente. Uma das ações realizadas ainda nesse governo foi a privatização da distribuição de vacinas, desmontando a Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos, a CENADI, órgão que já acumulava mais de 20 anos de experiência nas complicadas tarefas de armazenagem, controle e distribuição de vacinas e outros ao redor do território brasileiro. No governo Bolsonaro, esse desmonte só avança.
Até hoje, a empresa VTCLog ganha muito dinheiro em contratos com o governo para cumprir, muito mal, o papel que era da CENADI. Para dar contornos mais bizarros a essa privatização, a VTCLog é o braço logístico do Grupo Voetur, que como a sigla indica é especializado em turismo, mais especificamente turismo de luxo. Como toda privatização que vimos por aqui, ao contrário da propaganda, os gastos aumentam e a eficiência cai. E quem paga essa conta é o povo brasileiro. A empresa foi até citada no circo da CPI da Pandemia, por receber pagamento por um parecer técnico com um sobrepreço obsceno.
Para se ter uma ideia do nível do prejuízo sanitário para a população, a cobertura vacinal para a poliomielite, que causa a terrível paralisia infantil, caiu de 98% em 2015 para 76% em 2020. Em 2021, as coberturas vacinais em geral estão abaixo de 50% em todas as regiões. Esse é o caso, por exemplo, da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola.
A pandemia de covid ocorreu no meio desse cenário degradante, quando o estado brasileiro além da falta de interesse, não tem capacidade operacional para imunizar a população, que segue morrendo de covid e outras doenças para as quais já existem vacinas. Essa responsabilidade é de Bolsonaro e de todos os golpistas, alguns deles que tentam se infiltrar nas manifestações da esquerda para limpar o nome na praça.
Por fim, cabe um alerta. A situação tende a piorar, seja com Doria, seja com Bolsonaro ou com qualquer outro canalha da direita, inimiga natural do povo. Isso não depende da afinidade maior ou menor desses criminosos com a “ciência”, mas da etapa atual da crise capitalista, que precisa espremer o quanto for possível o orçamento dos países atrasados em benefício dos tubarões do setor mais parasitário do sistema econômico, os bancos.