Precarização sobre precarização. Na tentativa de aumentar os rendimentos, os motoristas de aplicativos têm aceitado fazer sexo com passageiros em troca de dinheiro. A prostituição transparece nas sombras de uma economia clandestina.
Não há registros contábeis para rastrear, não há recibos para examinar e não há registros legais para analisar. Simplesmente, é difícil entender o tamanho dessa economia e onde ela pode levar uma pessoa que é vítima da precarização da mão de obra, adotada sem restrições na fase mais decadente de um sistema capitalista em franco declínio.
Conhecer o tamanho da economia é o primeiro passo crítico para permitir que a aplicação da lei, o sistema judicial e os formuladores de políticas façam escolhas adequadas sobre como combater os danos que acontecem nesses mercados. Se acumula o dano aos motoristas de aplicativos, estão mais uma vez marginalizados e precarizados na manutenção de sua economia doméstica.
O dinheiro que se acumula na mão dos detentores de aplicativos, principalmente, e falta no bolso do motorista, determina o aumento da precarização deste último. A tecnologia, em rápida mudança, também termina por atuar contra o trabalhador, pois é manipulada pelo detentor do aplicativo nessa indústria de exploração do motorista e deixa os trabalhadores cada vez mais vulneráveis, pois além de não conseguirem ter uma renda satisfatória, que supra suas necessidades básicas, ainda se veem ameaçados pelos proprietários das plataformas.
Como foi relatado pelos motoristas, na maioria dos casos, além de serem feitos por pessoas do mesmo sexo masculino, existe uma codificação com uso de sinais entre o passageiro e o motorista que determina o interesse de um ou de outro pela prática sexual. Tem-se evitado que haja algum registro nessa prática por conta de represálias da empresa e a possibilidade de uso de provas, como é o caso das mensagens escritas no aplicativo, em alguma questão envolvendo a repressão estatal, com os processos judiciais.
Um dos motoristas entrevistados pela Folha disse que as relações sexuais geralmente ocorrem sem o uso de preservativos. O valor do “programa”, segundo relatou um dos motoristas entrevistados, pode custar entre R$50 e R$150, mas já chegou a faturar R$200. Isso equivale a quase todo o lucro diário que tem com as corridas. O pagamento pode ser feito em dinheiro ou PIX. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o ganho médio de um trabalhador de aplicativos de transporte ou mercadorias no Brasil é de R$1.900 por mês. O que não cobre, segundo o próprio IPEA, as necessidades mínimas de uma família.
Os motoristas de aplicativo, trabalhadores que já se encontravam desamparados pelo mercado de trabalho, recorreram aos serviço via aplicativo como uma maneira de complementar ou mesmo ter uma renda. Estão totalmente desamparados porque não encontram uma maneira de ter uma renda que supra suas necessidades mínimas devidos aos altos gastos com a manutenção do veículo, os preços dos combustíveis que não param de subir, as limitações em sua liberdade para trabalhar que são impostas pela empresa que gerencia os aplicativos etc.
Os motoristas estão recorrendo à prostituição considerando que possam acrescentar alguma renda ao trabalho “formal” – que, na realidade, não tem nada de formal – como motorista de aplicativo que não tem dado resultado positivo. Isso, por si só, já é um sinal muito forte da decadência da sociedade, pois a maneira das pessoas terem uma vida digna na sociedade estão ficando cada vez mais escassas e o trabalhador está ficando cada vez mais à mercê da sorte. A crise do imperialismo significa, necessariamente, a decadência moral e política da sociedade. A saída não é tentar se adaptar à vontade do imperialismo, mas sim se opor a ele.