No dia 4 de abril de 1955, a cidade Jataí, situada no sudoeste de Goiás, recebia o então presidenciável Juscelino Kubitschek. O comício eleitoral foi marcante porque ali se anunciou a transferência da capital, no Rio de Janeiro, às terras goianas, excluindo-se, assim, o projeto de construir Brasília no Estado de Minas Gerais. No dia 31 de maio de 2022, a cidade recebe o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, em seu 127º aniversário.
A revelação feita por JK marcou a história da cidade goiana de tal forma que foi construído um museu em seu nome. O museu se situa numa praça bem planejada, que também recebe o nome de JK, e conta com um lago preservado. Além disso, as crianças aprendem, desde cedo, a associar o marco histórico com as suas origens, cultura e memória.
No aniversário da cidade, a gestão do Prefeito Humberto Machado (MDB), convida para o “comício extraoficial”, o então golpista Jair Messias Bolsonaro a pretexto de comemorar o aniversário da cidade e inaugurar a obra. No entanto, diferentemente do Plano JK, Bolsonaro pretende jogar o Brasil no túnel do tempo com o plano de privatizações.
Registra-se que o Plano JK previa o desenvolvimento econômico por meio do fortalecimento da indústria nacional. Embora muitas das metas não tivessem se concretizado, como por exemplo, a criação de uma indústria automobilística nacional, por outro lado, houve um esforço para a construção das Usinas Hidrelétricas de Furnas (1957) e de Três Marias (1957-1962), as quais tiveram um papel fundamental para a formação da Eletrobrás.
Atualmente, a União detém 72% das ações da Eletrobrás e o governo Bolsonaro quer tornar essa porcentagem ainda menor (45%) para que o setor privado consiga ter o controle total sobre a empresa. Segundo o sindicato dos funcionários da Eletrobrás, a Eletrobrás vale R$ 400 bilhões ou mais. Porém, foi anunciada por R$ 67 bilhões.
Todo o sistema de geração e distribuição de energia elétrica brasileiro foi e é imprescindível ao desenvolvimento nacional. Acontece que, tal patrimônio, ora construído a duras penas pelo povo brasileiro, tornou-se moeda de troca de Bolsonaro que, de maneira absolutamente demagógica, aparece em sua campanha como patriota.
Vale dizer que a Exposição Agropecuária de Jataí (EXPAJA) preparou terreno para recepcionar Bolsonaro. Tanto é assim que foram quatro dias emendados de shows sertanejos, ocorridos entre os dias 26 a 30 de maio. Cantores como Gustavo Lima, Zé Vaqueiro, Barões da Pisadinha e Guilherme & Benuto se apresentaram ao público tendo a ciência de que, no dia 31, Bolsonaro capitalizaria o público para tirar proveito eleitoral.
Não há de se olvidar a hipocrisia do governo, que chegou a acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Lula, por que alguns artistas durante o Lollapalooza, acenaram timidamente um apoio político ao ex-presidente. O pedido foi acatado, no sentido de censurar os artistas, sob o argumento de combater “campanha eleitoral antecipada”.
As manifestações políticas em prol de Lula foram, em grande medida, espontâneas. Todavia, o que aconteceu na comemoração do aniversário de Jataí foi planejado cuidadosamente pela oligarquia regional vinculada ao agronegócio.
Há campanha antecipada por parte de Bolsonaro sem que isso seja objeto de questionamento pelos fiscais do TSE e TRE. O que se vê é a burguesia de carne e osso agindo à luz do dia sem sofrer qualquer tipo de retaliação. Nota-se, portanto, que a lei eleitoral não é aplicada igual aos candidatos, favorecendo um em detrimento de outro.
Só é possível barrar o plano de devastação econômica por meio da classe trabalhadora em luta. Nesse sentido, a mobilização é a única solução consequente para reverter o quadro político. Afinal, a burguesia e as oligarquias regionais se agrupam e se definem cada vez mais em torno de Bolsonaro que, por sua vez, pretende pagar a reeleição às custas da entrega das riquezas nacionais.
Já a candidatura de Lula favorece o agrupamento das organizações de luta da classe trabalhadora e isso resulta na polarização política entre ele e Bolsonaro. Por essa razão, Lula deve ser apoiado incondicionalmente, pois o ex-presidente representa uma oposição natural ao Bolsonaro e ao retrocesso econômico e social que se prenuncia.