Muitos abusos foram cometidos em nome da pandemia, um desses foi o brutal ataque à categoria dos rodoviários, sobretudo os cobradores. Em Vitória, no Espírito Santo, Meire Manuela, cobradora afastada de sua função pela pandemia, preparou um texto intitulado “O massacre da categoria rodoviária da Grande Vitória”, onde ela relata a luta dos trabalhadores do ramo: demissões em massa, salários reduzidos, perseguição de líderes pelos patrões e pelo próprio sindicato, a situação e tão periclitante que levou muitos ao suicídio.
A pandemia foi usada de pretexto para afastar e demitir ainda mais cobradores e motoristas de forma a “evitar o contágio” do vírus.
“Mais de dois mil cobradores já foram demitidos através do PDI (Plano de Demissão Incentivada), muitos coagidos para se desligarem de suas funções” explica Meire. Muitos foram afastados de suas funções originais, e diversas vezes sem a qualificação requerida são empurrados para outra função “Estão nas catracas dos terminais, outros foram qualificados para fiscal ou motorista, ocupando o lugar de trabalhadores demitidos”.
Ao todo, são de 2,5 mil que ainda não foram demitidos e estão afastados e somente 1,3 mil devem voltar para a situação pré-pandemia, o demais serão empurrados para prosseguimento PDI. Os 45% que permanecem andam na corda bamba sem saber se o salário continuará a ser reduzido. Atualmente recebem apenas 1 terço do salário original.
O caso da região de Vitória no Espírito Santo relatado por Meire é sintomático do que ocorreu com a categoria em nível nacional, desde 2018 foram diversas greves acontecendo de norte a sul, houve paralisação da categoria no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Juiz de Fora, entre outras cidades de norte a sul do país. Em toda parte, a privatização e o corte de empregos estão se multiplicando contra os trabalhadores.
O que acontece com a categoria é realmente assustador, é preciso entender que foi uma das categorias mais afetada pela pandemia, se não a mais afetada. Dada a natureza do trabalho e o descaso completo por parte da burguesia o número de infectados e mortos pela Covid foi altíssimo. Cabe lembrar que no início da pandemia foi feita uma campanha cínica pelo “fique em casa”, mas os mesmos que faziam essa campanha reduziram pela metade, às vezes mais, o número de ônibus em circulação e as linhas, aumentando assim a lotação de cada condução, pondo em vida a vida dos passageiros e dos motoristas. Motivo até de gozação popular, a lotação dos ônibus fez com que os terminais rodoviários e as viações fossem os locais com maiores concentrações do vírus em quaisquer cidades, às vezes mais do que nos hospitais.