Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a situação da indústria automobilística no Brasil é crítica. Há uma crise no fornecimento de componentes, que se soma à queda da demanda interna, efeito da pandemia do coronavírus, que ocasionou a suspensão total ou parcial das fábricas de produção de veículos. Já são 29 fábricas de um total de 58.
Entre os meses de janeiro e fevereiro, ápice da crise da falta de oxigênio em Manaus, pelo menos quatro fabricantes da Zona Franca paralisaram temporariamente suas atividades. O toque de recolher imposto pelo governo estadual ocasionou a redução de turnos de serviço.
Especialistas assinalam que cerca de 300 mil veículos não serão produzidos este ano. Ainda, estima-se que 60% a 70% dos 105 mil empregados diretos no setor automobilístico estão em casa. A queda na produção e paralisação de atividades pioraram as estimativas da economia brasileira. As projeções do Produto Interno Bruto (PIB) vêm sendo reduzidas mês a mês.
O boletim Focus, que é um relatório produzido pelo Banco Central do Brasil (BC) sobre a economia brasileira, publicado em 29 de março, prevê apenas 1,18% de crescimento para este ano.
A Volkswagem foi a primeira montadora que anunciou o fim da produção no Brasil, no mês de março. Na sequência, Volvo e GM disseram que a falta de componentes acarreta queda na produção. O último levantamento da Anfavea revela que estavam paradas: Mercedes, Renault, Scania, Toyota, Volkswagen, Volkswagen Caminhões e Ônibus, BMW, Agrale, Honda, Jaguar e Nissan.
Já a estimativa de vendas caiu de entre 2,4 milhões e 2,3 milhões para 2,1 milhões. No ano anterior, 1,95 milhões de veículos foram vendidos. Por sua vez, uma consultora, Bright Consulting, cortou sua estimativa de 2,45 milhões para 2,38 milhões.
Dados do Sistema de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2018, destacam que a fabricação de automóveis, caminhões, ônibus e autopeças representam 0,9% do PIB brasileiro e 6,7% do PIB da indústria de transformação; 0,4% do emprego total do país e 4,1% do emprego da indústria; além de 1,4% dos salários da economia e 8,8% dos salários do setor industrial.
O IBGE assinala que a produção industrial brasileira já havia recuado 0,7% em fevereiro. Em relação à produção de veículos, houve queda de 7,2%. A capacidade de produção do País é de 4,8 milhões de veículos e atualmente são produzidos a metade disso. Há mais de dois milhões de capacidade ociosa.
Fica cada vez mais evidente que há um processo geral de demissões dos trabalhadores industriais.
A montadora da GM anunciou em março a parada de suas plantas em São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS) por falta de componentes eletrônicos. Na cidade de São José dos Campos (SP), 600 trabalhadores foram colocados em lay-off por dois meses – eles se somam a outros 368 funcionários que já estavam com contratos suspensos desde o ano passado.
A crise econômica capitalista se agrava no Brasil. A pandemia do coronavírus é um fator que acelerou o problema econômico e aprofundou seus efeitos na sociedade.
O desemprego bate às portas de amplas parcelas da classe operária. Somente a retirada da empresa Ford lançou 12 mil trabalhadores diretos no desemprego e outros 60 mil indiretos. As demais empresas automotivas que estão paralisadas não vão demorar até se decidirem por fechar suas unidades no Brasil.
Os trabalhadores sempre pagam o preço como nos contextos de crises capitalistas. Os patrões não pretendem arcar com os custos da crise, que resulta na diminuição de sua taxa de lucro. Querem colocar os custos da crise nas costas do povo trabalhador.
É preciso que os sindicatos do ramo metalúrgico e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), maior organização operária da América Latina, organizem os trabalhadores num movimento de ocupação das fábricas. Os empregos e sustento das famílias devem ser garantidos. Não se pode permitir que os capitalistas lancem milhares de operários na miséria.