Não foi falta de aviso. Os que acompanham este Diário sabem que as quarentenas impostas pelos governadores “científicos” não passaram de medidas repressivas e farsescas. Em primeiro lugar, a maior parte da população não teve acesso real ao “isolamento social”, e para além disso, a medida tinha prazo de validade bem curto.
O curto tempo de “quarentena”, sua baixíssima amplitude diante da população total e a absoluta falta de programas públicos para combater a pandemia foram absolutamente incapazes de conter o avanço da Covid no País. Dados obtidos pelo DIEESE junto ao Ministério do Trabalho e Previdência, dão conta do massacre realizado contra os trabalhadores do comércio.
Comparando o primeiro semestre de 2020 com o primeiro de 2021, temos que o número geral de “desligamentos por morte” quase dobrou: de 31.001 em 2020 para 57.862 em 2021, 87% mais mortes. Um dado bastante relevante é que no mais “científico” dos estados brasileiros, governado pelo fascista João BolsoDória, essa taxa mais que dobrou, atingindo um aumento de 108%.
As taxas de aumento de mortes por ocupação também apresentaram variações. Elencamos aqui os postos de trabalho no comércio onde o crescimento das mortes foi maior que 100% no período comparado: assistente administrativo (122%), auxiliar de escritório (122%), motorista de caminhão (121%), operador de caixa (107%), vendedor do comércio varejista (117%) e vendedor do comércio atacadista (204%). Neste último caso as mortes de trabalhadores ocupados nessa função mais que triplicou!
Como vínhamos procurando alertar a população em geral e aos militantes da esquerda iludidos com a direita que se opõe farsescamente à Bolsonaro, a necessidade da reabertura completa da economia é desde o começo um consenso dentro da burguesia, variando apenas o momento de acordo com o cálculo de cada setor.
Num primeiro momento, os governadores temiam que a lotação das UTIs pudesse gerar revoltas populares e lançaram mão das “quarentenas fakes” para tirar sua responsabilidade da situação. A imprensa fez questão de destacar essas medidas como o suprassumo da “ciềncia” e a culpabilizar o povo por “desrespeitar” as medidas sanitárias. Como sempre, setores da esquerda caíram na mesma ladainha. A classe média, apoiada no teletrabalho, não conseguia entender porque o povo seguia procurando lazer coletivamente, após passar a semana inteira lotando os transportes públicos.
Não é possível pensar numa política para o povo sem conhecer sua realidade. A quarentena, mesmo que farsesca, afetou gravemente os pequenos comerciantes. Sem apoio financeiro do Estado, 15 dias sem vender já é tempo suficiente para inviabilizar vários desses comércios. Aí quando esses setores se mobilizavam contra a quarentena do comércio, a esquerda enchia a boca para chamá-los de “gado”, em referência à parte da base bolsonarista.
Após a farsa, as mortes seguem aumentando. A “quarentena científica” excluiu a maioria da população e a “reabertura científica” começou no pior momento da pandemia no Brasil, quando pelo menos duas poderosas variantes vírus já estavam bem estabelecidas no país.
O combate a Bolsonaro pela esquerda passa necessariamente pelo combate a toda a direita, que além de ter levado Bolsonaro à presidência é corresponsável pelo genocídio na pandemia. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Lula presidente!