Depois de quase um ano falando que o Judiciário estava esticando a corda, ou seja, gerando uma ruptura com o Planalto, Bolsonaro acabou esticando, aparentemente, a proverbial corda, ocorre que não foi o Judiciário que ele esticou. Foi com um setor da sua base que ele se indispôs, os caminhoneiros.
Ao entrar num acordo com os banqueiros e seus funcionários no STF, Bolsonaro deixou o neoliberalismo correr solto na Petrobrás. O resultado é um só: o combustível está indo às alturas. A gasolina subiu em 2021 surpreendentes 73,4%, o diesel, combustível padrão para os caminhões, subiu também assombrosos 65,3%.
A política de dar dinheiro para os especuladores da turma Bolsonaro/Guedes/PSDB está dando certo para os donos das ações. A Petrobras registrou mais de 30 bilhões de dólares em lucros no trimestre. O lucro deles está sendo pago com o massacre das contas do povo brasileiro e, em especial, da parcela que trabalha com transportes e depende de forma mais aguda do preço desses combustíveis.
O racha na categoria é visível. A CNT (Confederação Nacional dos Transportes), a maior entidade sindical do ramo de transportes, que reúne desde empresas de frete e de transporte e até caminhoneiros autônomos, está alinhada com o bolsonarismo. Dizem que a greve não vai ser forte, que vai ser facilmente contornada. O ministro Tarcísio Freitas repercutiu a decisão. Apesar das colocações otimistas, não podemos descartar que sejam apenas desejos de que o caldo não entorne.
Pesquisas mostram que o custo do transporte rodoviário é 39% combustível, com um aumento gigantesco e uma economia em recessão, é difícil acreditar que a categoria possa aguentar por muito tempo essa situação.
O caminhoneiro conhecido pelo apelido de Chorão, líder da greve de 2018, disse que a paralisação tem mais de 1 milhão de apoiadores. Entidades do ramo como o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e também a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) também apoiam a chamada de paralisação.
Citada pela IstoÉ Dinheiro, a Gazeta do Povo alega que a greve tem uma diferença em relação às ameaças de paralisação no dia 7 de setembro: a última era liderada pelos empresários do setor, na greve de segunda-feira próxima, os empresários estão à reboque dos caminhoneiros, apoiando a greve caso ela aconteça pela mão dos autônomos. Uma prova de que a revolta vem de baixo é o levantamento da Fretebras, uma espécie de Uber do frete, diz a plataforma que 59% dos usuários aprovam a paralisação.
A situação para Bolsonaro fica ainda pior por uma razão: a CUT decidiu apoiar os protestos, diferentemente de 2018. Naquele ano, as organizações sindicais fracassaram em analisar o caso, dizendo que a greve era um pedido de golpe militar, ainda que a situação tenha terminado com os militares sendo usados para reprimir a greve.
A CUT, e as centrais pelegas, soltaram nota em apoio à greve por concordarem com a reivindicação justa dos caminhoneiros: mudar a política de preços da Petrobras, sem colocar o preço no patamar da gasolina estrangeira, e reduzir imediatamente o preço dos combustíveis. Mas também há outro motivo, foi aprovado um projeto de Lei de um deputado golpista do MBL, Kim Kataguiri, para permitir o autoatendimento em postos de gasolina, a medida irá levar à demissão de 500 mil frentistas.
Neste momento, Bolsonaro está chorando nas redes sociais, dizendo que ele não tem poder sobre a Petrobrás, que está pensando em vendê-la para “não ter dor de cabeça”, uma mentira infantil e insuficiente. Nem os caminhoneiros, uma grande parte dos quais são de direita, acreditam, quiçá o povo trabalhador.
Pelas notícias, Bolsonaro parece ter esticado a corda com a sua base, nos próximos dias saberemos é assim, se for isso pode representar uma importante vitória do movimento popular.