Falaram à Folha de S.Paulo...

Quem são os “Gargantas Profundas” da luta pelo “fora Bolsonaro”?

Acabou o mistério: Douglas Belchior (Coalizão Negra por Direitos), Raimundo Bonfim (CMP), Vivian Mendes (UP) e "alguém de dentro do MST" deram munição para a imprensa burguesa

Rafael Dantas

Quem são as pessoas que dão à imprensa burguesa a oportunidade de usar o seu ponto de vista pessoal como “informação” sobre a organização dos atos pelo “fora Bolsonaro” e, assim, confundir o público? Noutros termos: quem cagueta para a imprensa burguesa que as pessoas que vão às manifestações estão “cansadas”, a coordenação vai “repensar as estratégias” e deixa a próxima manifestação nacional “pré-agendada” para o dia 7 de setembro?

A resposta está na Folha de S.Paulo do último dia 26, no artigo “Com cansaço do público, organização de atos contra Bolsonaro admite repensar datas e estratégias”. O jornal afirma que “líderes falam em intervalo maior para próxima convocação e reconhecem necessidade de novos fatos”. 

Pelo que o jornal golpista indica, nosso movimento não tem um, mas uns três ou quatro “Gargantas Profundas”. O nome remete ao informante que assim foi apelidado pelos jornalistas Bob Woordward e Carl Bernstein, autores do livro “Todos os homens do presidente”, com importantes revelações sobre o caso Watergate, que levou à derrubada do governo Nixon nos EUA. O Garganta Profunda do meio político era Mark Felt, um agente do FBI que vazou informações importantes (decisivas no caso) aos jornalistas do Washington Post. “A” Garganta Profunda original, por sua vez, foi Linda Lovelace, atriz pornô, estrela do filme homônimo, cujo título serviu de alcunha ao delator do Departamento de Justiça norte-americano.

Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos, deu a letra: “Em geral, grandes mobilizações dependem de fatos com impacto na opinião pública. A do dia 3, que foi definida com base nas informações que começavam a surgir, teve esse apelo”. Ou seja: ele acha que o movimento tem que ficar a reboque das “revelações” da CPI. As pessoas (a maioria!) que não têm outra fonte de informação que não seja a própria Folha de S.Paulo ficam reféns desta “avaliação”, usada pela imprensa burguesa para colocar o movimento a reboque da direita parlamentar.

Outra (ótima) peça de desinformação: “A campanha que agrega as entidades organizadoras diz oficialmente que ainda fará uma avaliação conjunta, conversará sobre datas e identificará as causas do arrefecimento para definir novas táticas”, diz a Folha, tão “democrática” que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, mas tergiversa sobre o de Bolsonaro. O que quer dizer essa verdadeira máquina de mentiras? Ora, que uns trouxas vão discutir, mas o que importa mesmo é o que os trouxas que a Folha escolheu têm a dizer. Vejam só:

Membros da linha de frente disseram à Folha, reservadamente, que o grande dilema hoje é como obter resultados concretos, já que as marchas (…) nada produziram.” Quem são esses “membros”? É só o Douglas Belchior da Coalizão Negra que tem uma garganta profunda? 

Não. Outro “membro” bem informado (ou seria “bem informante”?) aparece no texto: Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP), diz que “tudo indica que tenhamos um período maior para a próxima mobilização”. Não é ótimo?! Tudo o quê? De onde ele tirou essa verdade universal? Por que está dando à imprensa burguesa, que é inimiga da luta popular, exatamente o que ela precisa para esfriar o movimento?

Continuemos. Lá pelas tantas, aparece uma Vivian Mendes, da recém-criada Unidade Popular (UP): “Não está fácil”, disse… Que fique claro: quem está cansada é ela, não o “movimento”, que não a escolheu para falar em nome das centenas de milhares de pessoas que estão saindo às ruas…

Aí, para dar ares de realidade à notícia (e não só de que a imprensa inimiga do movimento popular está se fiando da palavra de três “líderes” que ninguém escolheu) a Folha menciona (mas não cita textualmente, nem diz quem teria traído a confiança de seus pares) um “documento de avaliação interna” do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) que, segundo ela, “após o levante do dia 3 alertou para o perigo da ‘convocação excessiva de atos’. A recomendação era de cautela para evitar queimar rápido demais a energia de setores da sociedade que vinham se engajando”. “Excessivo” para quem? Quem quer menos manifestações? Eles, os liderezinhos que ninguém escolheu e ninguém sabe quem são.

A conclusão, soprada pelos “líderes” do “fica em casa” assume a seguinte forma na Folha: “Conversas iniciais, no entanto, apontam para a necessidade de readequação do calendário, possivelmente com um intervalo maior para o próximo ato. Uma das ideias é marcá-lo para 7 de setembro, o que resultaria em um espaço de 45 dias sem manifestações” e, com o perdão do trocadilho, a Folha cobre seus informantes com uma folha de parreira: “…mas ainda não há deliberação“. Ah, vá!

A conversa entre os repórteres e os grandes “líderes” do cansaço, do desânimo, da economia de esforços e da retração do movimento deve ter sido mais ou menos assim: 

– “Vamos ter que repensar os atos”, diz um desses pensadores autorizados pela grande experiência de ter sido um bom menino e ficado em casa um ano e meio na pandemia. 

Por quê?

–“Porque a CPI não produziu nada de novo”, completa um desses conselheiros políticos, pródigos em recomendar às massas ignaras que esperem que os doutos parlamentares façam o seu trabalho. 

–“Estamos cansados, vamos dar um tempo nessas manifestações”, diz um desses guerreiros incansáveis do “fique em casa”. 

– “Que tal 7 de setembro?” (45 dias depois do último ato), sugere outro grande organizador de derrotas. 

Ah! Mas se algum parlamentar decidir que é hora de mais uma bravata na CPI, tudo pode mudar, de última hora, tal como fizeram antecipando o ato do dia 24 para dia 3 de julho! É assim, meus amigos, que o movimento vai ser derrotado pelo cansaço dos que descansaram em casa durante um ano e meio, pela cobardia dos que se contentam em torcer para que os deputados e senadores ajam a contento. É o conluio da imprensa golpista com partidários da frente ampla, que convida a direita para liderar o movimento, que com seus métodos antidemocráticos vai enterrar a luta pelo “fora Bolsonaro”! Tudo isso porque tem uns amiguinhos da imprensa burguesa na “direção”, que falam em nome do movimento sem consultar ninguém, que emprestam suas conclusões à desinformação e à desorganização da luta.

Esse acontecimento grotesco é justamente um dos perigos que ameaçam a luta pelo “fora Bolsonaro”, conforme o Partido da Causa Operária alertou na Carta Aberta que publicamos 20 dias atrás. É preciso acabar com a ditadura dos liderezinhos bem-pensantes, que traem o movimento e impõem uma política de derrotas e capitulação!

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