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Rafael Dantas

Membro da Direção Nacional do PCO e diretor de redação do Jornal Causa Operária.

O PCO é...

O “partido irrelevante” mais importante do mundo

Ou, como disse Lênin: “que a burguesia nos odeie tão selvagemente é uma das provas de que indicamos corretamente ao povo os caminhos e os meios para derrubar o domínio da burguesia

Pode-se dizer que, até agora, aquilo que aconteceu de mais importante politicamente no País neste ano está compreendido entre o 1º de Maio e o 7 de Setembro. No centro da crise política nacional está o “partido irrelevante” (assim apelidado por seus inimigos) mais importante do mundo, o PCO, que, inegavelmente, ao realizar o ato de 1º de Maio na Praça da Sé em São Paulo deu o pontapé inicial da sequência de atos (29 de maio, 19 de junho, 3 e 24 de julho e 18 de agosto) pelo “fora Bolsonaro”.

Por que nos caluniam?

Depois da sabotagem que foi convocar o ato de 24 de julho com mais de um mês de distância em relação ao de 19 de junho e, sem cerimônia, poucos dias depois de tê-lo feito, convocar às pressas o ato de 3 de julho, o movimento está sendo duramente prejudicado pela política das direções pequeno-burguesas majoritárias na coordenação da campanha. 

De maneira completamente irresponsável e capituladora diante da direita, decidiram não decidir nada e deixaram o ato de 18 de agosto passado quase passar em brancas nuvens. As manifestações só ocorreram em virtude da ação decisiva do nosso partido e de setores da Central Única dos Trabalhadores, sindicalistas e militantes que mantiveram a decisão e realizaram os atos apesar da sabotagem.

O ato de 3 de julho foi um ponto de inflexão na crise. Uma coisa muito importante ocorreu aí: a tentativa da direita golpista de sequestrar as manifestações populares foi derrotada pela iniciativa do nosso partido. Em termos mais simples: o PCO “melou” os planos da direita golpista “limpinha e cheirosa” de conter a mobilização popular, de esquerda, “vermelha” e, ao mesmo tempo, colocar a reboque da sua política toda a mobilização popular pelo “fora Bolsonaro”. Mas qual política? Ora, aquela que leva inegável e inevitavelmente a esquerda a apoiar a candidatura do “democrata”, “científico” e tucano, João Doria (PSDB), contra o fascista Bolsonaro em 2022. O mesmo Doria que acaba de tentar proibir que a esquerda saia às ruas no 7 de setembro.

“Vermelho demais”

A esquerda pequeno-burguesa está muito longe de considerar a Folha de S.Paulo irrelevante. Nenhum capitalista é irrelevante para os admiradores do seu Estado e da sua ideologia. Pelo contrário, essa esquerda comemora cada linha conquistada a seu respeito nas colunas do jornal e, celebram mais ainda, quando o órgão desse grupo empresarial abre suas colunas para que os próprios porta-vozes da esquerda pequeno-burguesa emprestem suas palavras como reforço para a política que a Folha defende e a justificação dos interesses de quem a financia.

Nesse sentido, o espaço e as considerações dedicadas pelo jornal ao PCO nos últimos meses são de fazer inveja ao pequeno-burguês mais ansioso por publicidade. Foram mais de 20 artigos – sem contar as enumerações nas quais figuramos ao lado das poucas menções ao PSOL ou ao PCdoB nesse período. A cobertura do movimento pelo “fora Bolsonaro” e da participação do nosso partido nele feita pela Folha serve, assim, como um registro da crise e das manobras da burguesia para contê-la. Não somos nós, portanto, que escolhemos o jornal favorito da esquerda pequeno-burguesa como parâmetro. Pelo contrário, fomos obrigados dada sua insistência.

Em 21 de junho, a Folha indicava que o governo Bolsonaro estava preocupado porque as manifestações que encheram as ruas de todo o País dias antes, em 19 de junho, eram “muito vermelhas”. A campanha insidiosa da imprensa capitalista visava pressionar os setores vacilantes da luta pelo “fora Bolsonaro” com a alegação de que por ser marcadamente de esquerda e reunir massas amplamente favoráveis à candidatura do ex-presidente Lula, as manifestações não iriam conseguir apoio. Segundo os “donos” da opinião pública no País, “isso deixa Bolsonaro em uma certa zona de conforto, já que ele vem sustentando desde a eleição passada o discurso anti-PT lastreado na tese de risco de implementação do comunismo no Brasil.” Tentava, com isso, colocar o PT e as organizações populares que lhe são mais próximas (como a CUT e o MST) na defensiva: “o governo diz acreditar que PT pode estar tentando converter atos contra presidente em pró-Lula, o que enfraqueceria as mobilizações”.

Pressentindo o perigo

Era nesse clima – sob a pressão da direita de fora do movimento, buscando se infiltrar por meio dos partidos e organizações da pseudoesquerda burguesa (PDT, PSB, Rede etc.) e a tendência à capitulação das direções conciliadoras que as convidaram – que a manifestação do dia 3 de julho se realizou. Um dia antes, a Folha justificava a decisão tomada às pressas, mas de modo nenhum sem premeditação, pela coordenação da campanha (majoritariamente conduzida até aí pelo PCdoB por meio das posições ocupadas na Frente Brasil Popular e de suas organizações afiliadas – UJS, UNE, CTB etc.): “Oposição a Bolsonaro vê crise no governo como chamariz de atos antecipados para este sábado”, dizia artigo publicado em 2 de julho. Na mesma nota, assinalavam a oposição frontal de nosso partido à manobra que já se vinha desenhando: “Na última quinta-feira (1º), em uma plenária virtual da organização para afinar o discurso para este sábado, representantes do PCO (Partido da Causa Operária) criticaram duramente a participação de porta-vozes do PSDB e de grupos da direita, lembrando divergências históricas.”

A crise estourou

No fim da tarde de 3 de julho, imediatamente após o confronto de militantes do PCO, do PT e outras organizações contra os representantes do PSDB na Av. Paulista, o portal da Folha na Internet dizia que “durante o protesto, um grupo com cerca de 15 pessoas vestindo camisetas do PCO atacou manifestantes do grupo da diversidade do PSDB com pauladas, além de atirar ovos e tomates, afirmaram testemunhas.” 

Do registro do fato, passaram ao fogo de barragem. 

Em 4 de julho, Juca Kfouri escrevia que “bandidos do PCO agrediram manifestantes do PSDB. Quem são? São Pobres Coitados Opressores. E quem promoveu quebra-quebra já protegidos pela escuridão, o que são? São bandidos, covardes, fascistas, que não dão o ar de sua desgraça nas motociatas, ou melhor, dão, mas em paz, porque os mesmos. Por uma Frente Ampla, tão ampla, até doer!

No dia 5, ao reportar as posições do PCO diante do ocorrido no ato de 3 de julho, no artigo “PCO tenta justificar violência imposta a tucanos, que pretendem seguir em atos contra Bolsonaro”, deram o tom seguido por toda a esquerda pequeno-burguesa partidária da frente ampla e defensora do PSDB nas manifestações:  “partido sem expressão nas urnas (grifo nosso), o PCO entrou em conflito com militantes do PSDB da capital paulista na tentativa de expulsá-los da manifestação na avenida Paulista, no último sábado (3).

“(…) A posição do PCO contrasta com a dos demais partidos e movimentos de esquerda, que, em geral, têm pregado a ampliação dos atos pelo impeachment para que a pressão popular se converta em maioria no Congresso.

“(…) O PCO defende o impeachment de Bolsonaro e o voto em Lula em 2022, mas é visto com distância entre os partidos de esquerda. Em 2018, por exemplo, o PCO defendeu anular o voto em vez de apoiar Fernando Haddad (PT) no segundo turno e, em 2020, tampouco demonstrou apoio a Guilherme Boulos (PSOL) contra Covas em São Paulo.”

Dirigindo a reação frenteamplista

Sabendo, como disseram, que “a rejeição à chegada de forças à direita foi simbolizada no sábado (3) pelas agressões de militantes do PCO a filiados do PSDB na capital paulista” (Organização de atos contra Bolsonaro vive impasse com debates sobre público, novos apoios e violência, 5/7/2021), a Folha deu voz aos setores da esquerda burguesa que ciceronearam o PSDB na manifestação. “‘Não podemos tolerar extremismos nem atitudes típicas daqueles que estamos na luta para derrotar’, afirma Antonio Neto, presidente do PDT-SP e da CSB” (PDT e sindicatos querem PCO fora da organização de atos após agressões contra militantes, 5/7/2021).

Reforçaram também a calúnia lançada contra o PCO por Renato Rovai (Revista Forum) e Carmem Silva (MSTC) dizendo que “a reação violenta de membros do PCO — que, segundo os relatos, atingiram também gente de esquerda que tentou conter as agressões— foi vista dentro da campanha como um fato negativo, que pode afastar participantes das próximas marchas e inibir a diversidade ideológica”.

O tom se manteve o mesmo nos dias seguintes. “É preciso ter muita burrice para reclamar do apoio tucano às manifestações”, escreveu o colunista Marcelo Coelho, mestre em sociologia pela USP que evocou até mesmo a defesa tardia do pacto de Stálin com o imperialismo britânico representado por Churchill contra Hitler na Segunda Guerra Mundial. “É preciso ser pior que um bolsominion para fazer como alguns militantes do PCO, que no domingo passado partiram para a agressão contra quem também estava contra Bolsonaro na avenida Paulista”, disse (6/7/2021).

Em 7 de junho, a Folha tentava colocar o PT e a CUT contra a parede e pressionar as duas maiores organizações de esquerda do País a tomar posição contra o PCO, cobrando seu posicionamento no artigo “Líderes e porta-vozes de partidos de esquerda reagiram de maneira discreta ou silenciaram sobre a agressão de militantes do PCO a integrantes do PSDB”. 

Em outra nota, o jornal da família Frias divulgava nota elaborada pela burocracia sindical (assinada pelos presidentes de Força Sindical, UGT, CTB, CSB, NCST, CGTB e Pública Central do Servidor) contra “a intolerância e o autoritarismo do PCO”, e cobrava: “a CUT não assinou o documento”.

Infelizmente, assistimos no último sábado (3) casos de pura intolerância e autoritarismo por parte de militantes do Partido da Causa Operária (PCO). Diversas organizações foram agredidas com palavras e até mesmo fisicamente em uma grotesca demonstração de selvageria por parte dos black blocs (que para nós são infiltrados) e de falta de discernimento sobre o que é a democracia. Repudiamos todo tipo de violência e não aceitamos as agressões ocorridas no último sábado“, dizia a nota, um libelo em defesa da colaboração com a direita golpista. 

Não nos interessa que tais manifestações sejam atribuídas apenas a um segmento da sociedade. Que sejam manifestações de um país, de uma nação! E para chegarmos a esse patamar precisamos ter a decência, a humildade e a inteligência de superar eventuais diferenças“, afirmavam os pelegos que pretendiam falar por todo o movimento e fracassaram.

Contraofensiva

Diante da intransigência de nosso partido, que não arredou pé do enfrentamento com a direita golpista e manteve seu protesto contra a tentativa de enfiar o PSDB goela abaixo dos manifestantes, “bolsonaristas arrependidos” como o MBL e o Vem Pra Rua (os próximos da fila, depois do PSDB, para tentar se infiltrar e diluir as manifestações da esquerda) convocavam sua própria manifestação pelo impeachment em 12 de setembro. “Abrem divisão das ruas com a esquerda”, disse o jornal dando a entender que a direita seria tão capaz de levar massas às ruas quanto a CUT, os sindicatos, movimentos populares e partidos de esquerda. Uma falsificação e uma manipulação grotescas!

A convocação de MBL e VPR chegou a ser saudada por nomes do chamado campo progressista, como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).”

Admitindo de certa forma a derrota da tentativa de infiltração do PSDB e da direita nas manifestações da esquerda, a jornalista Catarina Rochamonte escreveu em 11 de julho: “O ataque de militantes do PCO a militantes do PSDB na manifestação do dia 3 de julho, na avenida Paulista, assim como a ocorrência de atos de vandalismo, impuseram uma inflexão na campanha de impeachment ora em curso, levando movimentos e partidos mais à direita, como MBL, Vem pra Rua e Novo, a convocarem uma grande manifestação ‘Fora Bolsonaro’, sem a esquerda, para o dia 12 de setembro. (…) Embora forçada pela intolerância de parte da esquerda, talvez não seja má a estratégia de forças ideologicamente divergentes marcharem pelo impeachment separadamente. Quem sabe mais tarde os setores civilizados da direita e da esquerda se unifiquem em benefício da vida e da democracia.”

Não tendo conseguido usurpar as manifestações, a direita e a esquerda oportunista a serviço de João Doria lançaram-se à tarefa de desmantelar o movimento. Foi assim que, a partir da segunda quinzena de julho deram início à operação de sabotagem das manifestações. No artigo “Atos contra Bolsonaro neste sábado testam vigor das ruas após sequência de três manifestações”, de 23 de julho, às vésperas da manifestação do dia 24, a última de grande porte e expressão nacional até o momento, explicava o porquê: “a situação [do dia 3 de julho] colocou em xeque a ampliação ideológica das manifestações, que vinha lentamente ganhando corpo.” Diríamos nós: “que vinha sendo impulsionada pela esquerda frenteamplista e a imprensa ‘dorista’”.

Frente ao 7 de Setembro

Para causar confusão e desorientação no grande público alheio ao que se passa nos restritos fóruns do movimento, o jornal golpista contou ainda com seus “gargantas profundas”, as pessoas apresentadas como lideranças que se diziam “cansadas” do movimento, que pretendiam “repensar” as manifestações e jogá-las para mais de um mês depois, apenas no 7 de setembro. Estavam dadas as condições para a sabotagem do dia 18 de agosto, proposto pela CUT e por nosso partido como dia nacional de luta contra a reforma administrativa, os ataques aos servidores públicos e pelo “fora Bolsonaro”.

Agora o movimento se vê confrontado por uma nova realidade. Enquanto a direita golpista não conseguiu sequestrar as manifestações tampouco enfrentar Bolsonaro no terreno das instituições, João Doria lançou sua ofensiva tentando proibir as manifestações de esquerda em São Paulo, cedendo a Av. Paulista aos bolsonaristas. Esses desdobramentos mais recentes são analisados no editorial desta edição de Causa Operária. Voltaremos a eles em breve.

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