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Rafael Dantas

Membro da Direção Nacional do PCO e diretor de redação do Jornal Causa Operária.

Aonde leva a frente ampla?

O cirismo sem-vergonha do PCdoB

A leitura dos documentos de debate do 15º Congresso do PCdoB (que ocorrerá em meados de outubro) fornece um dado interessante. A discussão sobre a “frente ampla” ainda não se esgotou. 

O documento “Tática eleitoral do PCdoB“, assinado por Edilson José Graciolli, apresenta um balanço. Não é, ainda, uma avaliação oficial (nem se sabe se uma será mesmo apresentada com tanta clareza), mas confirma o que se vê na prática. “Temos cometido erros na tática eleitoral”, diz ele, apontando que o principal problema é que o partido não tem “autonomia eleitoral em face do PT”.

É que à altura das eleições passadas, algo muito importante para o PCdoB tinha acabado: os governos do PT. Durante o período de 2002 a 2014, o PCdoB elegeu em média 12,5 deputados por eleição (no pior ano – 2014 – foram 10; no melhor – 2010 –, 15). Dobraram a média em relação à das quatro eleições anteriores (1986 a 1998), quando elegiam 6,25 deputados (no pior ano – 1986 – foram 3; no melhor – 1994 –, 10).

Acabou a mamata e o PCdoB se deu conta disso. Por isso, na sua busca por “autonomia eleitoral”, estão considerando outra sombra debaixo da qual amarrar seu burro: o PDT de Ciro “Lula tá preso, babaca” Gomes. O partido, há muito tempo uma legenda de aluguel, tem inúmeras vantagens a oferecer. Elegeu uma média consistente de 23 deputados em todas as eleições durante o governo Lula e, com o golpe, aumentou sua bancada em 40%, chegando a 28 cadeiras na Câmara em 2018. Um partidão! E o PCdoB quer casar.

Eis que, às vésperas da primeira manifestação nacional pelo “fora Bolsonaro”, a direção do partido definiu seus objetivos: “defender a vida, derrotar Bolsonaro e garantir presença do PCdoB no parlamento” com “sagacidade e amplitude”. Então o dique de contenção arrebentou, e as manifestações pelo “fora Bolsonaro” tomaram as ruas. Para que a amplitude seja defendida é preciso mais sagacidade.

Por quê? Ora, porque o movimento popular, de esquerda, é majoritariamente favorável a Lula. Mais ainda, é um problema dentro do próprio PCdoB, como confessa Graciolli: “a entrada na disputa eleitoral do ex-presidente Lula é vista por alguns militantes do Partido como ‘a’ alternativa de candidatura para o PCdoB”. Daí a necessidade de defender a frente ampla de maneira sagaz, isso é, sem se chocar com a maioria. 

Para tentar engatar a esquerda, os movimentos populares, sindicalistas etc. com a direita, a política de frente ampla requer intermediários. Daí que o PCdoB se veja confrontado com duas alternativas: uma candidatura própria ou… apoiar Ciro Gomes. 

A candidatura própria naufragou no porto, antes de zarpar… foi-se Flávio Dino e Manuela D’Ávila não empolgou ninguém ao ficar em segundo lugar na disputa em Porto Alegre. Se Flávio Dino era uma boa opção para ligar-se ao PSDB, Ciro Gomes é excelente, mil vezes melhor. O autor da análise sobre a tática eleitoral abre o jogo: “a segunda hipótese nos colocaria na perspectiva de uma frente ampla“. 

Para que não fique dúvidas de que Ciro é visto como via para chegar a um entendimento com a direita, com o PSDB, estão aí as declarações do deputado Orlando Silva diante do entrevero entre militantes do PCO e gente empunhando bandeiras do PSDB na Av. Paulista em 3 de julho: “a presença do PSDB deve ser celebrada; os agressores fingem que lutam contra Bolsonaro; querem aparelhar esses atos para seus fins eleitorais em 2022. Estão de costas para o povo“. 

Com essa crítica ao que fizeram os militantes do PCO e do PT, Orlando Silva abriu o jogo, como se dissesse que, ao expulsar o PSDB da manifestação da esquerda, “estão melando o nosso jogo”. Sim, claro, porque a luta para que o PSDB (e com ele o PDT e outros trastes da política burguesa) pudesse dominar e diluir as manifestações populares pelo “fora Bolsonaro” não tem nada de eleitoral… 

A decisão de apoiar Ciro Gomes, no entanto, ainda não foi oficialmente tomada, o que dá a entender que ainda não há consenso nas fileiras do PCdoB. “O tempo urge. Adiar a definição para a disputa presencial interessa, apenas, a quem, dentro ou fora do Partido, já possui a definição de automatismo com Lula“, disse o autor do documento. O jogo seria esse: uma parte do PCdoB tem um cirismo de conveniência, um cirismo sem-vergonha, que nada mais é que um atalho para chegar ao apoio ao PSDB. E a outra parte? Há quem esteja nas fileiras do PCdoB que ache que esse cirismo, essa frente ampla por uma terceira via, uma sem-vergonhice?

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