Uma das coisas que me chamam atenção na posição da esquerda atual é a frouxidão. Eu lembro, quando moleque, que as notícias da luta no continente árabe inspiravam, por um lado, medo, mas, por outro, certa curiosidade a respeito por aquele povo, e até simpatia.
Com o tempo, e me aproximando da esquerda, eu defendi o povo palestino e todas as formas que eles utilizavam para tentar se livrar da opressão imperialista. A famosa foto do menino palestino (Faris Odeh) com uma pedra diante de um tanque israelense, quem não se lembra disso? “Esse moleque é pura fibra”, eu falava, “essa turma é queixo duro, chapa quente”, pensava eu.
Eis que veio a expulsão dos norte-americanos do Afeganistão, feita por pessoas ligadas ao Talebã, e apoiada pelo povo afegão. A verdade é que cada derrota dos históricos opressores do mundo gera uma alegria imensa em toda população oprimida, isso é o que aconteceu no Afeganistão.
Mas não é só.
Como militante do PCO, eu particularmente admiro a determinação de gente que pegou em armas, muito mais fracas que as dos norte-americanos, e, contrariando as estatísticas, passaram por cima dos gringos, colocaram eles para correr do país. Guerrilheiros de chinelos, em bicicletas, com paus e pedras, muitas das vezes, conseguiram o feito de enxotar os mais poderosos militares do mundo.
É feito digno de palmas e elogios da esquerda inteira, tal como a celebrada luta dos vietnamitas. Mas não é o que acontece.
A esquerda atual, pequeno burguesa de tudo, se colocou contra a expulsão dos gringos do Afeganistão. Pois, supostamente, as mulheres não possuem os direitos democráticos ocidentais. Foi um pretexto para defender uma ocupação militar, pura e simplesmente.
Uma esquerda imperialista, que defende os ianques, gratuitamente ou não, como temos visto no caso do escândalo Boulos-Warde.
Notei que essa esquerda, na verdade, não tem espírito militante, combativo. Que não sabe o que é isso, e, para ela, é inexplicável que alguém milite (entregue seu trabalho, sua vida) para a luta popular, para a revolução, por todos os meios necessários.
É o mesmo tipo social de gente que hoje reclama de público (coisa vergonhosa) de ter militado no PCO. Os que alguma vez aqui estiveram e que saíram reclamando de ter militado no partido, os mão lisa, pé de breque. Agora entendo que eles simplesmente não sabem o que é militar, talvez nunca saberão.
Só farão alguma coisa contra a opressão quando forem bem pagos, e quando forem bem pagos, já não farão nada contra a opressão. Gente sem fibra, militante de si mesmo.
Ora, vejam os afegãos que botaram para correr os ianques.
Vejam mesmo, vejam as fotos. Dá no google. Viu ai?
O que eles tem a ver com essa esquerda pequeno burguesa? Nada… decidiram que só iriam parar quando os EUA e seus lacaios fossem embora, pelo jeito que fosse. E eles saíram, caindo dos aviões, agarrados em cabos, pelas janelas, do jeito que deu, eles fugiram, não aguentaram o tranco.
E os afegãos conseguiram, por meio do Talebã. Rapaziada de fibra, bonde duro na queda. Fiquei contente.
Meus parabéns, minha saudação… minha admiração.