O capitalismo é, na visão dos seus defensores, o “sistema perfeito”. Para muitos, o mercado é capaz, com sua “mão invisível”, de alocar os recursos de maneira inteligente. Entretanto, o que se vê é, repetidamente, o oposto. As crises constantes, somada a todo aparelhamento político-ideológico, fazem com que a população pague, seguidamente, a conta.
Repetindo o que aconteceu em 1929, a “mão” parece estar, mais uma vez com os dedos torcidos. O desenvolvimento da tecnologia e da organização voltada à produção, e não ao bem estar das pessoas, fez com que a produtividade aumentasse seis vezes mais do que os salários. Deste modo, os trabalhadores produzem muito mais, mas continuam ganhando verdadeiras esmolas como salários.
O impacto da distância entre produção e salários faz com que as pessoas não consigam comprar tudo que é produzido, levando ao problema da superprodução. O problema poderia ser mitigado facilmente com o aumento dos salários, a redução da jornada de trabalho e a contratação de mais pessoas. Assim, as pessoas teriam mais recursos financeiros e tempo para consumir. Entretanto, o capitalismo não funciona assim. Dar melhor condições de trabalho e salários não parece estar nos interesses da burguesia, classe dominante do capitalismo. Pelo contrário, ela parece, cada vez mais, decidida a atacar o trabalhador.
Sobre a questão de consumo, é necessário esclarecer, principalmente para os mais preocupados com o meio ambiente, que a população, em geral, consome pouco. Quem consome muito são os países centrais (EUA, Canadá, UE, RU, Austrália, NZ e Japão). Enquanto, nestes países, há produção de bens supérfluos e que acabam, muitas vezes, sendo jogados na lata do lixo, a população de África, América Latina, Caribe, Ásia e Oceania vive na miséria, sem, em grande escala, o mínimo necessário para ter uma vida digna. Então, mais uma vez, o problema não é a produção e o consumo em si, mas a má alocação destes pela “mão invisível do mercado”.
O capitalismo vem mostrando sinais do problema da superprodução já há algum tempo. Todavia, tornou-se claramente detectável desde 2019, quando volume de trocas mostrou-se abaixo da linha de tendência média, estipulado pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Economistas capitalistas atribuirão a queda ao aumento das tensões entre EUA e China, todavia, isso não passa de uma análise superficial e mentirosa do problema. Estas tensões entre as duas potências foram, em grande medida, incentivadas pelo governo ianque. O que ocorre é que Donald Trump e sua equipe, sabendo da vindoura crise de superprodução, tentaram postergar a crise para o fim de 2020, mirando o sucesso eleitoral.
Entretanto, não esperavam pela a pandemia causada pelo COVID-19, que causou uma aceleração na retração da economia, colocando uma crise sobre a outra. Isto explica a tentativa frustrada de Trump de colocar a pandemia como algo a ser desconsiderado. Tentava ele postergar o problema, procurando manter sua parcela do eleitorado, principalmente os setores ligados à burguesia. Observando a situação sanitária, social e econômica dos EUA, fica bem claro que a “mão visível de Trump” errou e os EUA, agora, são o epicentro da doença e não possuem alternativa clara sobre o que fazer.
O Brasil pagará, no fim das contas, uma grande parcela dos custos da crise. A fuga de capitais do Brasil e de outros países de economia atrasada, em 2018 e 2019, já antecipava a crise. Este capital foi para os países centrais, especialmente os EUA, para tentar aplacar os efeitos da crise capitalista. Nos países mais pobres, o efeito foi o desemprego, a desindustrialização, a desvalorização das moedas perante o dólar e a ameaça de inflação elevada.
Portanto, fica claro que o capitalismo falhou com sua proposta de estabilidade e de crescimento ilimitado. A crise de 2008 não foi superada e agora tem-se uma crise de superprodução acelerada pela pandemia. A classe trabalhadora do mundo inteiro deve se erguer e dar um basta neste sistema parasita. A única saída é pela revolução socialista em escala global.